quarta-feira, 10 de abril de 2024

PARTE ANDRE LUIZ ROSA RIBEIRO, MEMBRO DA CADEIRA 34, UM DOS MAIORES HISTORIADORES DA BAHIA



André Luiz Rosa Ribeiro nasceu no dia 14 de outubro de 1965 e nos deixou na manhã deste domingo, 7 de abril de 2024. Possuía Graduação em História (1998) e Pós-Graduação em História Regional (2001) pela Universidade Estadual de Santa Cruz; Mestrado (2003) e Doutorado em História Social pela Universidade Federal da Bahia (2008); Pós-Doutorado em História pela Universidade Federal da Bahia (2019). Professor Titular do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas e membro do Programa de Pós Graduação em História do Atlântico e da Diáspora Africana da Universidade Estadual de Santa Cruz. Membro do Comitê Local de Iniciação Científica (CLIC-UESC). 

Desenvolveu o Projeto de Pesquisa: "Olhares sobre a diáspora atlântica: memória, cultura e religiosidade afro-soteropolitana no audiovisual (décadas de 1990 e 2000)". Autor dos livros "Ilhéus: Tempo, Espaço e Cultura" (1999), "Família, poder e mito" (2001), "Memória e Identidade" (2005), "Morte e Gênero: estudos sobre a obra de Jorge Amado" (2012), "In Memoriam: urbanismo, literatura e morte (2018) e a Cartilha "Samba de Terreiro: memória e identidade afro-brasileira no litoral sul da Bahia" (2015); além de "Quintais do Tempo" (2012) e "Inventário do Caos (2019), na área da Literatura. 

Membro da Academia de Letras de Ilhéus (ALI) e do Instituto Histórico e Geográfico de Ilhéus (IHGI). Elaborou artigos e organizou exposições sobre patrimônio cultural, memória, história urbana e culturas afro-brasileiras.

Dezenas de amigos e amigas homenagearam nosso confrade. Eis algumas dos nossos confrades e confreiras: 


Confreira Jane Hilda:

"Quero retomar por um minuto o assunto do desencarnamento do  confrade André Rosa para dizer que os momentos finais de sua  despedida foram muito bonitos. E emocionantes. Nossos confrades Pawlo Cidade,  Antonio Carlos Hygino e Ramayana Vargens,  falaram sobre a importância da presença de André Rosa nos quadros da Academia de Letras de Ilhéus, de onde foi presidente e sempre grande entusiasta. Exaltaram o intelectual, poeta, escritor e pessoa humana de grande valor.  Profa. Adélia, Profa. Janete Roriz e prof. Marcelo falaram em nome da UESC e do curso de História, respectivamente. Prof. Aurélio Macedo, ex-reitor da UESC também esteve presente.  Anna Livia, emocionadíssima, agradeceu a oportunidade de ter convivido todos seus 33 anos com o irmão - que muito a inspirava - . Paulo Rosa, tambem irmão, seu silêncio retumbava em dor.  o confrade e babalorixá Ruy Póvoas também falou em nome da ALI e, além,  encantou com palavras e cantos de religião africana da sua nação; Mãe Ilza com seus filhos de Santo fizeram o ritual de despedida, colocando sobre ele colares, penas,  e demais componentes da indumentária que  usava no terreiro ( não sei relatar isso nas palavras do axé). Belos cantos  ecoaram no salão...Foi realmente muito lindo! Confrades Luh Oliveira e Sebastião  Maciel também estiveram a velar o corpo no dia do último adeus, além de Eliene Hygino e Maria, queridas  colaboradoras da ALI. Que o nosso querido confrade siga em paz para uma das moradas do Pai Superior. 🙏🌹

Recebam todos meu abraço. Nos abraçemos!  Nos confortemos! A despedida de André me fez lembrar a importância de valorizamos os encontros com as pessoas que admiramos e temos afeto...pois nesta vida nunca se sabe o que pode ocorrer no instante seguinte". 


Confreira Neuzamaria Kerner:

Olho pra ontem
e vejo o ontem
me dando notícias do hoje.

Abro os olhos bem abertos
e vejo uma cadeira vazia
na sala da poesia. 

André não está lá 
em carne viva.

De repente 
o susto materializa 
uma rosa que diz:
A saudade não passará 
Até a consumação de todos 
e em todos os tempos.


Confrade Josevandro Nascimento:

Oh! André você nos deixou. 
Quanta saudade, meu amigo
Lembra do que  dizia, quando lhe 
falava que você era o galã mais cobiçado?
Continuo rindo da sua resposta. 
Lembrarei de você para sempre.


Confreira Baísa Nora:


Para André Rosa, com um pouco da sua poesia Sépia

André,  Andante, Cantabile... e a sua vontade de ir embora, de perder vínculos conosco e criá- los com" pedras e algas". Ele quis ir com" mãos feridas e sujas de destino", cheio de " coragem e medo" porque "lugar algum o esperava". E tantos o esperaram, André, tantas pessoas e tantos lugares.

Você se dizia " duna e movediço". E era. Quem seria capaz de segurá- lo,  amigo, se você " acatava  todos os desapegos"?
" Vou- me embora: soluço e tempestade".
Será que foi assim, André, ou seu espírito livre o fazia escapar, não admitia amarras?

Nunca  mais" soluço e tempestade". Chegou o tempo da calmaria, de estar sempre com seu  sorriso meio tímido e meio sonso, com sua  gentileza, este traço tão seu. Ela, a gentileza, abrirá todas as portas e  todos os braços para o aconchego.

Você chegará ao som de atabaques, mas a música será um acalanto e a letra lhe dirá: dorme, menino grande, pois os que o precederam estarão perto de você e não sairão até que você entenda que fez a passagem, que deixou muita tristeza, muita saudade, mas deixou também uma vida que fez a diferença na história da nossa Região e as melhores lembranças nos seus muitos  amigos.


Confrade Geraldo Lavigne:


São muitas as dimensões de André. E são muitas também as  interseções de André em minha vida. Amigo fiel, alçado ao posto de irmão. Fomos, muitas vezes, atravessados por conversas confidentes. Companheiro de atos solenes a dias descontraídos, de celebrações a planejamentos culturais. André me ensinou com palavras, gestos e silêncios. André revestiu o mundo com suas expressões e cores poéticas, redefiniu importantes valores históricos de nossa região e, principalmente, ofereceu uma relação genuína a todos que com ele conviveram. André fez, faz e fará muita diferença. Até um dia, meu amigo. E como muitas homenagens que você fez, presto essa singela:

Avança um manto fúcsia
Na indevida tocaia do tempo
Derradeira tarde de amor
Recriada sobre o vulto a galope
É no amanhã íntegro o seu leito

Rosa dos ventos noturnos
Olhos de ouro e silêncios
Sustentam o seu dorso colossal
A envergadura de sua memória

— ACRÓSTICO PARA ANDRÉ ROSA —


Eis um poema do nosso eterno confrade André Rosa:



Vou-me embora para
lugar algum, minha amiga.
Sei apenas das pedras e das algas. 
Meu choro de menino, minhas penas e meu sentido. 
Vértices do ontem no agosto da vida. 
Vou-me, minha amiga. De mãos feridas e sujas de destino. 
Enquanto tenho coragem e medo. 
Beijei as unhas esmaltadas do dia e pus-me em segredo. 
Lugar nenhum me espera, minha amiga. 
Como enredo em terceiro ato, sou duna e movediço. 
Acato todos os desapegos, que trago em desafio. 
No obséquio das curvas, funda-se o esteio do sol. 
Findo-me com ele, amiga. 
Nunca mais, seus olhos de turmalina, seus dentes em desespero.  
Vou-me embora, minha amiga: soluço e tempestade. 

    -SÉPIA-


ARTIGO

 



Da Prosa e Poesia no Sul da Bahia 

Cyro de Mattos*


Denominada de Nação Grapiúna por Adonias Filho, a Região Cacaueira da Bahia reúne um elenco valoroso de ficcionistas, poetas e cronistas, que em suas obras se preocupam com o ambiente do cacau, tipos e costumes. Alguns autores são considerados como inseridos nesse contexto nem tanto pelo tema, mas por suas ligações de origem a uma civilização forjada como singular ao longo dos anos. 

De uns anos para cá, a literatura no Sul da Bahia cresceu e se tornou um corpo consistente com autores de obras expressivas, que vieram se juntar aos nomes maiores de Jorge Amado, romancista centrado no tema social e costumes vividos por gentes típicas nas terras do sem fim; de Adonias Filho, dono de uma narrativa elíptica, que com maestria estilística constrói nas letras brasileiras um império de tragicidade, situado na infância da selva, e de Sosígenes Costa, poeta ilheense belmontino, expressando-se com um legado em que esplendem belíssimos sonetos pavônicos e o mito de Iararana.

Esta literatura, que, em alguns casos levou o homem e suas circunstâncias regionais a ser conhecido em níveis nacionais e até mesmo internacionais, tornou-se dotada de um acervo poderoso, integrado de autores e obras que em concepção e execução alcançaram padrões excelentes nos limites dessa compartimentação operacional. Com estilos caracterizados para a expressão do lírico, dramático e épico, não se pode deixar de considerar nesse cenário de uma literatura original, que fala tanto da disposição da alma como da problemática de uma geografia específica, autores como Hélio Pólvora, Telmo Padilha, Jorge Medauar, Sônia Coutinho, Florisvaldo Mattos e Marcos Santarrita, todos eles com um discurso consistente e um imaginário fecundo. 

Portanto, vemos na prosa e poesia no Sul da Bahia um corpo discursivo crítico e criativo com suficiência formal, dotado de beleza e riqueza na ideia, alcançando por isso suma importância como conhecimento da vida. Há nesta usina de legítimos artistas da palavra uma contribuição expressiva que alimenta a expansão do acervo cultural e literário da Bahia e até mesmo do Brasil. 

Uma visão panorâmica e, ao mesmo tempo perspicaz, de autores e obras no seu processo histórico relacionado com a região sulina do Estado apresenta a vinculação da vida ao patrimônio espiritual da sociedade, em constante pulsação e movimento na direção das dimensões de um discurso fundamental da vida. Como forma de conhecimento de nosso ser-estar no mundo, afirme-se, esse discurso aludido brota de um contexto educativo e cultural, inclinado a ampliar-se na medida em que a vida segue. 

Torna-se compreensível que esses autores ligados ao sul da Bahia com suas obras valorosas alcancem merecida ressonância fora das fronteiras regionais. Estudo que possibilite o levantamento crítico e histórico das letras no sul baiano não pode deixar de relacionar certos nomes importantes e fazer a aferição crítica de seus legados. 



Prosa:

Afrânio Peixoto, precursor e pré-modernista, Aleilton Fonseca, moderno contista de emoções e ideias cativantes, Augusto Mário Ferreira, prosador de ficção curta calcado no absurdo e na galhofa; Aracyldo Marques, romancista tendo a ver com o nascimento do Brasil em Ilhéus, Clodomir Xavier de Andrade, narrador do Vale do Rio de Contas com a sua inesquecível e ingênua Pulu; Elvira Foeppel, nas pegadas de Clarice Lispector, com uma linguagem labiríntica no romance Muro Frio e contos no círculo do medo; Euclides Neto, de prosa saborosa, narrativa regional articulada com engenho e arte, Ferdinand Maximiliano von Habsburg e seu importante relato histórico do mato virgem; Fernando Leite Mendes, ilheense mestre da crônica, Hélio Pólvora, na galeria dos melhores contistas no Brasil, unindo o regional com o psicológico no discurso impressionista, sem fazer esforço; James Amado, romancista do Chamado do Mar, de técnica moderna, criador de gente simples na paisagem marinha; Jorge Araújo, ensaísta enorme, dramaturgo exemplar, poeta dos becos conflitantes do homem, Jorge Medauar, como o norte-americano Sherwood Anderson, recria a vida na cidadezinha do interior através da qual se apresentam personagens que vêm à tona com simplicidade e extraordinária empatia de seu criador, Lilia Gramacho, nascida em Uruçuca, antiga Água Preta, autora infantojuvenil, inventa com facilidade as tramas instigantes da adolescência; Ludimila Bertié, autora de biografia importante, rica de investigação e informações da vida e obra de Adonias Filho; Marcos Santarrita, romancista fecundo na imaginação, de trama em profusão através de episódios vividos por personagens marcantes no seu Mares do Sul; Manoel Lins, cronista talentoso do cotidiano na província; Margarida Fahel e suas incursões memoráveis nas dobras do tempo, mesclando domínio histórico e imperturbável narrativa sensitiva escorrida nos Ilhéus do Brasil Colonial; Naomar de Almeida Filho, ficcionista atrelado ao ilógico da vida; Odilon Pinto com suas prazerosas historinhas vivenciadas nos mundinhos do cotidiano urbano e rural, ; Ricardo Cruz, legítimo recriador do mundo real, com temas capturados do erótico e do político, Ritinha Dantas e seu testamento lírico de uma avó inesquecível; Ruy Póvoas, misto de babalorixá e exímio contador de itans, construtor de uma lavra literária que apreende com sabedoria os caminhos da vida, Saboia Ribeiro, outro precursor regionalista, Sônia Coutinho, audaciosa ficcionista, de conflitos e atritos no ambiente crítico da solidão em família. 




POESIA:

Abel Pereira, constante colhedor de haicai, Adelmo Oliveira, poeta inseparável do verso pungente e dolorido, Ariston Caldas, dono da rosa com pétalas tecidas com agruras; Carlos Roberto Santos Araújo e a sua travessia vertiginosa no rio das solidões, Conceição Nunes Brook, poeta de lirismo sedutor, traçado por musa delicada, Firmino Rocha e sua resistência santa na cidadela da poesia; Florisvaldo Matos, poeta magistral, de linguagem atraente, de lastro clássico ajustado ao verso de técnica moderna; Hélio Nunes com pássaros tecendo a esperança e acontecendo no amanhã, Heloísa Prazeres, dona de uma casa onde habitamos em cômodos convidativos para saber o que somos no trânsito do mundo; Ildásio Tavares e seu ditado fazendo pensar nos momentos críticos do cotidiano urbano, Iolanda Costa e sua lira descuidada; Minelvino, o trovador apóstolo, genuína vocação de cordelista do jeito que o povo gosta; Oscar Benício dos Santos, poeta do cacau, de alma evocativa de uma paisagem pintada com as vicissitudes e perdas campestres; Piligra, cordelista de fôlego, focado na vida e obra de Jorge Amado; Renato Prata com o tempo na pulseira sob o enlace arguto da poesia; Rita Santana, competente poeta das alforrias; Sosígenes Costa, poeta singular e plural, clássico e popular, em terras sulinas da Bahia; Telmo Padilha, poeta de voo absoluto, atravessado de solidões nas questões profundas; Valdelice Soares Pinheiro, de versos contidos retirados com excelência de dentro da alma para revelar a vida com as suas surpresas, milagres e espantos, Walker Luna com seu discurso existencialista sequenciado de gritos lancinantes. 

Como reflexo da vida, a literatura continua em rotação. Pela captura de momentos incertos e preocupantes da vida, também merecem referência para uma leitura apurada as produções de André Rosa, Marcus Vinicius Rodrigues, Evando Nascimento, Neuzamaria Kerner, Emmo Duarte, Antônio Baracho, Marcos Luedy, Ramayana Vargens, Antônio Lopes, Kleber Torres, Ceres Marylise, Gustavo Felicíssimo, Geraldo Lavigne, Rafael Gama, Baísa Nora, Aldo Bastos, Heitor Brasileiro, Pawlo Cidade, Ticiano Leony, Nilo Cardoso Pinto, Fernando Sales, Adelino Kfoury, Efson Lima, Carlos Cauê, Jane Hilda Badaró, Gustavo Cunha, Myrthes Petitinga, Gil Nunesmaia, Delile Oliveira, Agenor Gasparetto e Laila Oliveira.

* Membro das Academia de Letras de Ilhéus, Itabuna e da Bahia.

domingo, 3 de março de 2024

ABERTURA DOS TRABALHOS, DIA 14 DE MARÇO







 

A Academia de Letras de Ilhéus tem a honra de convidar Vossa Senhoria para a abertura dos trabalhos acadêmicos, dia 14 de março de 2024, às 18h30. 

Na oportunidade ouviremos a fala do Confrade Ruy do Carmo Póvoas, membro da cadeira nº 18, com o tema: Castro Alves: o homem, o poeta, o mito.

QUEM FOI Castro Alves

Antônio Frederico de Castro Alves (Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira14 de março de 1847 — Salvador6 de julho de 1871) foi um poeta brasileiro. Escreveu clássicos como Espumas Flutuantes e Hinos do Equador, que o alçaram à posição de maior entre seus contemporâneos, bem como versos de poemas como "Os Escravos" e "A Cachoeira de Paulo Afonso", além da peça Gonzaga, que lhe valeram epítetos como "poeta dos escravos" e "poeta republicano" por Machado de Assis, ou descrições de ser "poeta nacional, se não mais, nacionalista, poeta social, humano e humanitário", no dizer de Joaquim Nabuco, de ser "o maior poeta brasileiro, lírico e épico", no dizer de Afrânio Peixoto, ou ainda de ser o "apóstolo andante do condoreirismo" e "um talento vulcânico, o mais arrebatado de todos os poetas brasileiros", no dizer de José Marques da Cruz. Integrou o movimento romântico, fazendo parte no país daquilo que os estudiosos chamam de "terceira geração romântica".

 

Começou sua produção maior aos dezesseis anos de idade, e seus versos de "Os Escravos" foram iniciados aos dezessete (1865), com ampla divulgação no país, onde eram publicados nos jornais e declamados, ajudando a formar a geração que viria a conquistar a abolição. Ao lado de Luís Gama, Nabuco, Ruy Barbosa e José do Patrocínio, destacou-se na campanha abolicionista, "em especial, a figura do grande poeta baiano Castro Alves".


SAIBA MAIS CLICANDO AQUI

sábado, 27 de janeiro de 2024

POESIA


Jorge Amado e Cyro de Mattos


Peripécia de Jorge Amado

Cyro de Mattos 


Eu te louvo pelos oprimidos

nos subterrâneos da liberdade,

teu pulso erguido com amor

fale da seiva de servos,

calo sem orvalho na trama

do ouro vegetal com rifle na curva.

Teu verde galope sem sono,

na seara vermelha tua face

carregando sede e fome,

o olho do sol crepitando

céu de fogo na aurora,

fósforo aceso no crepúsculo.

Teu riso leonino fendido

com os capitães da areia,

esse trauma de ladeiras

e ruas do mundo sem teto

manchado na hora da ciranda.

Numa tenda dos milagres

toda a Bahia mestiça cabendo,

no sumiço de uma santa

a arte incrível de um feiticeiro.

Eu te louvo no peito lírico,

a garra de Teresa Batista,

fome de Dona Flor, agreste Tieta,

rosa de Gabriela, cravo de Nacib.

Quem te fez pastor da noite,

Vasco Moscoso, flor do povo,

Pedro Bala, amado guerreiro,

boêmio, malandro, meretriz, violeiro,

guardador de chaves africanas,

verdade absoluta em Pedro Arcanjo,

duas mortes de Quincas Berro Dágua,

gargalhada da Bahia ao infinito?

Ó meu capitão de longo curso,

para te louvar com aplausos,

risos grandes e muitos vivas,

tua cidade de mares e santos

amanhece repetida de foguetes,

de estrelas e atabaques anoitece,

nos terreiros orixás estão descendo.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

MORRE O CONFRADE LUIZ PEDREIRA FERNANDES, MEMBRO DA CADEIRA Nº 09





O desembargador aposentado Luiz Pedreira Fernandes morreu nesta terça-feira (23). Ele deixa esposa, filhos e netos. A causa da morte não foi informada. 

O desembargador aposentado foi empossado para a Presidência do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-BA), em 3 de junho de 1988. Em 1990, ele foi reeleito. Ele era membro da cadeira nº 9, cujo fundador foi Adonias Filho e patrono Bernardino José de Souza.




sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

NOTA DE PESAR


 

A família informa que o velório será no SAF, Av. Crispim Jorge Dias Carilo, 336, Conquista, Ilhéus, Bahia, a partir das 16h. 

O sepultamento será no sábado, 16, às 14h, no Cemitério do Pontal.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

ASSEMBLEIA ORDINÁRIA: 07 DE DEZEMBRO DE 2023




A ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS convoca seus membros para ASSEMBLEIA ORDINÁRIA a realizar-se em 07 de dezembro de 2023, de forma remota, às 19h, em primeira chamada e, às 19:10h, em segunda chamada.

Pauta Única:  

Aprovação da 3ª Reforma do Estatuto da Academia de Letras de Ilhéus, para adequação ao Código Civil vigente.

 
Observação:

O link para a participação dos Acadêmicos será fornecido 30 minutos antes do início da reunião.

 

Ilhéus, Bahia, 28 de novembro de 2023.

 

Atenciosamente,

 

ANARLEIDE MENEZES – PRESIDENTE EM EXERCÍCIO 

JOSEVANDRO NASCIMENTO – SECRETÁRIO GERAL


segunda-feira, 30 de outubro de 2023

NADIA AKAWÁ SERÁ A HOMENAGEADA DA 6a. EDIÇÃO DA FESTA LITERÁRIA DE ILHÉUS - FLI





A 6ª Festa Literária de Ilhéus (FLI), intitulada “Os povos originários e o Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia,” está agendada para os dias 8, 9 e 10 de novembro. Este evento gratuito é organizado pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), em colaboração com a editora universitária Editus, a Pró-Reitoria de Extensão (Proex), a Academia de Letras de Ilhéus e conta com o apoio da Fundação Pedro Calmon e da Prefeitura Municipal de Ilhéus.

A FLI 2023 acontecerá em várias locações, incluindo o Teatro Municipal de Ilhéus, a Praça Pedro Matos, a rua Jorge Amado e a Academia de Letras de Ilhéus, e este ano prestará homenagem a Nádia Akawã Tupinambá. O evento visa reunir escritores e entusiastas de diversas formas artísticas para refletir sobre literatura, artes e suas relações com educação, inclusão e liberdade. Os participantes poderão desfrutar de palestras, bate-papos, lançamentos de livros, feira de livros, oficinas, música, arte, cultura e atividades especiais para crianças, incluindo contação de histórias, leituras e brincadeiras.

Nádia Akawã Tupinambá, a homenageada, é uma líder indígena que reside na Aldeia Tukum, no Território Tupinambá de Olivença, em Ilhéus. Ela possui licenciaturas em Artes e Linguagens e em Educação Escolar Indígena pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Além disso, Nádia é uma educadora indígena e popular, envolvida na formação de educadores indígenas na Bahia e em questões espirituais e medicinais. Ela é conhecida por seu trabalho com ervas medicinais, cerimônias espirituais, e como guardiã de saberes ancestrais e sementes nativas. Nádia também é uma terapeuta holística e condutora de práticas relacionadas à cura ancestral.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

ATENÇÃO, CONFRADES E CONFREIRAS!



CONVOCAÇÃO

ASSEMBLEIA ORDINÁRIA 

 

A ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS convoca seus membros para ASSEMBLEIA ORDINÁRIA a realizar-se em 24 de outubro de 2023, de forma remota, às 19h, em primeira chamada e, às 19:10h, em segunda chamada.

Pauta Única:  

Aprovação da 3ª Reforma do Estatuto da Academia de Letras de Ilhéus, para adequação ao Código Civil vigente.

 

 

Observação:

O link para a participação dos Acadêmicos será fornecido 30 minutos antes do início da reunião.

 

Ilhéus, Bahia, 17 de outubro de 2023.

 

Atenciosamente,

 

 

ANARLEIDE MENEZES – VICE-PRESIDENTE

JOSEVANDRO NASCIMENTO – SECRETÁRIO GERAL

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

MEMBRO EFETIVO ANTERIOR: Telmo Padilha


1930-1997


Meus Encontros com Telmo Padilha 

Cyro de Mattos 


Nascido em Ferradas, em 5 de maio de 1930, Telmo Padilha é um poeta das questões profundas. Na sua poética de entonação aguda é uma das vozes expressivas da poesia contemporânea. Poeta traduzido para o inglês, francês, italiano, espanhol e japonês, com prêmios relevantes, figura em antologias importantes do gênero. Pena que esteja esquecido. Quando esteve vivo, sua poesia recebeu muitos elogios de poetas e críticos importantes. No IV Centenário de Ilhéus, ele conquistou o Prêmio de Poesia Sosígenes Costa, enquanto que com meu livro Os Recuados (2015), contos, fui vencedor do Prêmio de Ficção Jorge Amado. Neste concurso, o livro do sociólogo e jurisconsulto Raimundo Laranjeira foi laureado com o Prêmio de Ensaio Adonias Filho. O Concurso Literário IV Centenário de Ilhéus teve âmbito nacional e foi patrocinado pela Prefeitura Municipal, que tinha à época como prefeito o advogado Antônio Olímpio. 

Adianto que meu livro Os Brabos (1980) deu-me por unanimidade o Prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras. Constituído de quatro narrativas, foi publicado em circuito nacional pela Editora Civilização Brasileira, na Coleção Vera Cruz, responsável pelo lançamento de ficcionistas expressivos em nossas letras, como João Antônio, José J. Veiga, Dalton Trevisan, Sérgio Sant’Anna, Ricardo Ramos e O. G. Rego de Carvalho. 

Sobre Os Brabos disse Telmo Padilha: “Os Brabos é essa obra-prima, revolucionária, no texto e na ideia”. Já sobre Lavrador Inventivo (1984), meu terceiro livro de poesia, publicado pela Editora Cátedra e Instituto Nacional do Livro, Telmo Padilha teceu as considerações seguintes: “Cyro de Mattos é também um fazendeiro do ar, isto é, um fazendeiro que pensa e sente além da agrária paixão pela terra, embora dela se sirva para transcender-se. Nisso parece estar contida a chave de sua universalidade, de sua condição de poeta e de seu compromisso com grandes fronteiras do homem. No Lado Azul da Canção (1984) conquistou opiniões elogiosas da crítica e um número considerável de leitores. Mas é com Lavrador Inventivo que Cyro de Mattos consolida seu espaço e garante maior autonomia de voo na poesia brasileira contemporânea”.

Informo que em 2020 publiquei pela Editora Via Litterarum o livro Poesia e Prosa no Sul da Bahia, um testemunho crítico, em que analiso a produção de 47 autores que se preocuparam com o ambiente sul baiano ou que estão ligados por suas origens a um território de caracteres singulares, forjado ao longo dos anos com base na lavra do cacau. 

Nesse livro de ensaios tento mostrar que o eu reflexivo do poeta Telmo Padilha concebe o poema plasmado de angústia devido a impossibilidade de responder às perguntas que nos cercam e ficam sem respostas, advindas em seu estado crítico de nossa solidão no mundo. Digo ainda : “Uma das tônicas da poética de Telmo Padilha persegue as dúvidas profundas dos que não se conformam com a armação frágil da natureza humana ante a passagem indiferente do tempo, fazendo com que o relacionamento entre o homem e a vida se torne um problema.” E acrescento: “Produz uma melodia especial em que certa flor caótica sabe a vertigem, abandono e amargura, tristeza e solidão, incerteza e desespero, enfim, todos esses ares sombrios que recendem na rua da solidão onde o poeta mora e que só tem uma porta, a da entrada. Trescala seus perfumes numa paisagem que não se desvenda com o peso do enigma da morte.” E finalizo: “Esse invariável caminho faz do homem uma criatura trágica, cheia de conflitos, marcada pela fatalidade de quem anda para o fim a cada dia que some.” 

Telmo Padilha faleceu em 17 de julho de 1997.

SAIBA MAIS SOBRE TELMO PADILHA CLICANDO AQUI.

domingo, 27 de agosto de 2023

FRANCOLINO NETO SERÁ HOMENAGEADO PELA ALI DURANTE COMEMORAÇÃO DE SEU CENTENÁRIO DE NASCIMENTO


Francolino Neto, à esquerda, abraçado por Adonias Filho


O dr. Francolino Gonçalves de Queiroz Neto, nasceu em Pirangi, hoje Município de Itajuípe, no dia 10/09/1923. Foi Presidente da Câmara Municipal e Prefeito da Cidade. Professor em diversos Colégios de Ilhéus, especialista em Direito Penal, chegando a ser membro da Associação Internacional de Direito Penal, em Paris.

Juntamente com o professor Soane Nazaré de Andrade, foi um dos fundadores da Faculdade de Direito de Ilhéus, embrião da Universidade Estadual de Santa Cruz. Membro efetivo anterior da Academia de Letras de Ilhéus, foi ocupante da cadeira número 2, tendo por patrono Afrânio Peixoto e o próprio Francolino Neto como fundador. A cadeira também foi ocupada após a passagem do mestre Francolino Neto por Cláudio Silveira e hoje é ocupada pelo professor Sebastião Maciel Costa.

Faleceu no dia 23/02/2006, deixando uma lacuna na comunidade de Ilhéus, onde teve participação brilhante nos diversos cargos que ocupou. 

A Academia de Letras de Ilhéus lhe prestará uma homenagem, por ocasião do seu centenário de nascimento, no próximo dia 9 de setembro, sábado, às 19h, tendo como orador o confrade acadêmico Josevandro Nascimento.

SERVIÇO

O QUÊ?  
Sessão solene de comemoração do centenário de 
nascimento de Francolino Neto

QUANDO?
Dia 9 de setembro de 2023, sábado.

QUE HORAS?
19h.

ONDE?
Academia de Letras de Ilhéus

sábado, 26 de agosto de 2023

CONFRADE PAWLO CIDADE LANÇA O EBOOK "A ÚLTIMA FLOR JUMA"





Em meados de 1960, seringueiros, caucheiros, madeireiros e pescadores em Canutama, Amazônia, às margens do rio Assuã, quase exterminaram o povo juma. Aruká Juma era um dos sobreviventes da sua etnia. O indígena morreu aos 86 anos, vítima de complicações da coronavírus, no dia 2 de fevereiro de 2021. Foi a partir deste acontecimento que Pawlo Cidade (55), autor ilheense, membro da Academia de Letras de Ilhéus, ficcionou “A última flor juma”. A história é dedicada a Aruká Juma e todos os povos originários.

“A última flor juma” narra a saga de um pai e três filhas vivendo a beleza e as agruras da vida na Amazônia. Aruká Juma, remanescente da etnia Juma, e suas meninas Estrela D’água, Filha Branca e Menina do Rio lidam com um mundo em contradição. De um lado, a exuberância da floresta, a harmonia da natureza e a magia das histórias. Do outro, a violência e a opressão de contrabandistas, seringueiros, grileiros e madeireiros que se apossam da terra e do trabalho de indígenas, ribeirinhos e pequenos agricultores. A última flor juma é uma história de amadurecimento, uma crítica social contemporânea e uma ode às tradições populares da região amazônica.

Pawlo Cidade (55),membro da cadeira nº 13 e atual presidente da ALI, é também pedagogo, dramaturgo e gestor cultural. Autor, dentre outros, de “O colecionador de lembranças” (TPI Editora), “O tesouro perdido das terras do sem-fim” (A5/Via Litterarum Editora) e “Rio das Almas (Chiado Books). “A última flor juma” é também um manifesto contra todos os que querem sufocar, matar as cantigas, a história e a voz dos povos originários”, afirma o autor.

O livro, exclusivamente em e-book, está disponível à venda na Amazon desde o dia 26 de agosto, ao preço de R$ 24,99. Para os assinantes da kindle unlimeted o acesso é gratuito. Não é necessário ter um kindle para baixar o livro. Você pode lê-lo através do celular, tablet ou notebook. Basta baixar o aplicativo Amazon Kindle gratuitamente no Play Store. “A última flor juma” concorre ao Prêmio Kindle de Literatura. 

Para acessar o link do livro basta CLICAR AQUI ou ir direto no site da Amazon e digitar o nome do livro.



sexta-feira, 4 de agosto de 2023

ARTIGO



Sosígenes Costa, ao centro. 
Na esquerda, Jorge Amado, e à direita, Florisvaldo Mattos.



O Triunfo de Sosígenes Costa

Por Carlos Roberto Santos Araújo*



Se todos os gostos fossem iguais, o que seria do amarelo?, perguntava-se Machado de Assis, em uma de suas crônicas escritas no final do séc. XIX. Parece que o bruxo de Cosme Velho não apreciava os tons dourados. Naqueles tempos, de conservadorismo puritano, o bom gosto pressupunha sobriedade e discrição. Repelia-se a cor solar, espalhafatosa. Em razão disso, o criador do Brás Cubas optava pelas cores escuras e cinzentas, que ele, por intermédio do seu personagem, chamava de “tinta da melancolia”.

Isto demonstra como as cores sempre foram temas prediletos dos poetas. Rimbaud escreveu um soneto célebre em que atribuía a cada vogal uma cor. Mallarmé citou o azul, mais de cinquentas vezes, em sua obra poética. Cruz e Souza endeusou a cor branca. Garcia Lorca celebrou o “verde que te quiero verde”. E o maior deles, Camões, falou de “uns olhos verdes”, tão verdes como as esmeraldas que Paes Leme nunca achou numa Sabarabuçu de meras turmalinas.

Como tudo tem a sua vez, chegou, um dia, a hora do amarelo. E este, como um Luís XIV redivivo, reinou, absoluto, dominou a pintura e a poesia, para não falar na Indústria da Moda, de tal forma que hoje ele se acha em todas os lugares, envolvendo, voluptuoso, o corpo das elegantes.

No Brasil tropical, ensolarado e sem fronteira, o amarelo, também, teria a sua vez. O amarelo das flores, das aves, dos crepúsculos, do azeite de dendê da nossa culinária. A gradação dos tons, a refração da luz. O amarelo invadiu todos os domínios. E, na literatura, o fez através de poesia do baiano Sosígenes Costa. Este, poeta sensual, esmerou-se em uma poesia visual, olfativa, auditiva. Uma poesia que celebrava a plasticidade do ambiente e se voltava para as cores fortes e para a intensidade de luz. Não fosse poeta, Sosígenes teria sido pintor. E sua cor predileta, seria, nada mais e nada menos, que o amarelo. Não teria, como Picasso, uma fase azul, outra, rosa. Não. Seria o puro amarelo. Sua poesia, que nada tinha de intelectiva nem de conceitual, era, ao contrário, feita de imagens, sobretudo de imagens coloridas, de cores quentes e sensuais, sugestivas de um forte erotismo disseminado na paisagem. Como em um Van Gogh tropical, em Sosígenes predomina um amarelo pródigo que, muitas vezes, se desdobra em gradações de “sépia, topázio, abóbora, berilo”, verso de um dos seus sonetos mais belos, “O triunfo do amarelo”. 

Tem razão Hélio Pólvora, quando vê em Sosígenes um poeta de expressão pré-modernista, que rejeitou inicialmente a escola moderna, à época chamada de futurista. Isto porque a melhor poesia de Sosígenes é aquela dos Sonetos Pavônicos, nos quais o poeta usa os procedimentos das escolas parnasiana e simbolista. Parnasiano pelo rigor do verso e da métrica, pela perfeição da forma, pelo uso da mitologia clássica e do próprio soneto como o gênero literário de sua preferência. Lembre-se que tal forma poética era simplesmente abominada nos primeiros anos do modernismo brasileiro. Simbolista foi também Sosígenes pela sua plasticidade, pelas sinestesias, pela musicalidade, pelos recursos de aliteração, pelo cromatismo intenso de suas imagens. Tudo isto vinha de Baudelaire, que abriu o caminho para a poesia moderna. Aliás, o autor das Flores do Mal, precursor do moderno, inicia estes procedimentos poéticos, influencia o simbolismo, lança mão de novos recursos, faz o intercâmbio dos sentidos. No soneto Correspondances, ele diz: ‘Comme de longs échos qui de loin se confondent / Dans une ténébreuse et profonde unité, /Vaste comme la nuit et comme la clarté, /Les parfums, les couleurs et les sons se répondent’

Este tipo de correspondência, mistura de cores, sons e perfumes, iria se disseminar, através do movimento simbolista, e, aqui na Bahia, seria largamente utilizada por Sosígenes, durante a gestação dos seus belos sonetos, sobretudo os “pavônicos”. Só depois, Sosígenes aderiu ao Modernismo, através de Iararana, poema mítico, escrito nos moldes do “Cobra Norato”, de Raul Bopp. A poesia brasileira vivia, àquela época, o dilema de ser nacionalista, de buscar raízes brasileiras e procurar sua identidade. “Tupi or not tupi, that is the question”, diziam os poetas dos grupos Antropofagia, do Verde-Amarelo, e Anta. Mario de Andrade, com sua trupe de paulistas, viaja ao Amazonas, em busca de lendas e mitos, à procura do Brasil. Escreve o Poema do Seringueiro e diz: “Este homem é brasileiro que nem eu”. Traz a lume Macunaíma e a Toada do Pai do Mato. Cassiano Ricardo apresenta o Martin Cererê e Oswald publica Pau Brasil. Redescobria-se o Brasil. Foi através destas escolas que Sosígenes participou do modernismo, e escreveu Iararana. Outra vertente que também firmou moda na época foi a valorização da cultura negra. Mario escreve os Poemas da Negra. Jorge de Lima, Raul Bopp e Ascenso Ferreira escrevem poemas com a mesma temática. Sosígenes seguiu também esta trilha e produziu uma série de poemas ‘negros’. Este tipo de poesia, entretanto, voltada para mitos indígenas e negros ficou para trás, precluso. Foi um rápido intermezzo nativista. A geração seguinte, com Drummond, Vinicius, Schmidt, Murilo, Cecília, seguiria outros caminhos, à procura de temas universais. Este desvio da poesia, ao qual Manuel Bandeira não aderiu, simplesmente morreu com o esvaziamento da ideologia das correntes nacionalistas do modernismo.

Acho, pois, que a grande força da poesia de Sosígenes se encontra em sua primeira fase, em que ele é o poeta de linguagem pré-modernista, o sonetista dos pavões, dos crepúsculos, da flora sul baiana. O poeta cromático, sobretudo da cor amarela. Aí, sim, Sosígenes foi supremo, sua poesia se tornou uma fonte de encantamento, e seduziu leitores, produziu êxtase. Vivendo à beira-mar, nos Trópicos, Sosígenes haveria de sofrer a influencia da intensa luz solar, da luminosidade da Região Cacaueira da Bahia, onde o sol, em refração com o verde da floresta, transforma-se no que Mario de Andrade chamava de “pintor de dúzias”. Dissemos acima que, não fosse poeta, Sosígenes teria sido pintor. Aliás, pensando melhor, ele foi pintor. Este é o Sosígenes que ficará: o cantor das cores, dos pássaros, dos perfumes, dos vinhos, dos crepúsculos, dos colibris, e dos pavões, os “pavões de caudas verdes e amarelas”, símbolos da beleza suprema. Com Sosígenes, aprendemos a beleza do amarelo. Ainda bem que nem todos os gostos são iguais.

* Membro efetivo da cadeira nº 26.

quinta-feira, 27 de julho de 2023

VÁ EM PAZ, QUERIDO PROFESSOR!


 

    O professor Soane Nazaré de Andrade ocupou a cadeira nº 32, da Academia de Letras de Ilhéus.

   Mestre Soane nasceu em Uruçuca, na época Água Preta, município de Ilhéus, na Fazenda Felicidade, que pertencia a sua família, em 5 de agosto de 1930, eram seus pais Adjovânio Andrade e Selika Nazaré Andrade, que tinham mais seis filhos: Deir, Gilta, Denílson, Vera, Suzana e Antônio (Já falecido).

Aos seis anos de idade mudou-se para Ilhéus, estudou na Escola Afonso de Carvalho e no Instituto Municipal de Ensino Eusínio Lavigne - IME. Em Salvador, estudou no Colégio da Bahia e na Faculdade de Direito da Bahia onde se formou em 1953. Casou-se com Heloisa Cavalcante Andrade, tiveram quatro filhos: Ana Virgínia, Luis Frederico, Soane Jr. e Maria Valéria.

Foi professor no IME; diretor da Penitenciária do Estado da Bahia; fundador, diretor e professor (Direito Constitucional e Direito Político) da Faculdade de Direito de Ilhéus; Chefe de gabinete do Ministro das Comunicações Carlos Simas, de 1968 a 1969; Delegado do Brasil na Conferência das Comunicações Via Satélite em Genebra, Suíça, em 1969; idealizador e primeiro Reitor da Universidade do Mar e da Mata, Maramata, em Ilhéus.

Em 25 de junho de 1981 tornou-se membro da Academia de Letras de Ilhéus, na cadeira 32, em que foi Patrono Pethion Villar e fundador Flávio de Paula. Foi candidato a Prefeito de Ilhéus pelo PFL em 2004. Mas não obteve êxito nas urnas.

Aos 80 anos de idade sofreu um enfarto em Salvador, onde mora. Como nasceu numa fazenda de cacau, é lavrador por nascimento e espera morrer à sombra dos cacauais. Seu nome é dado ao Campus da Universidade Estadual de Santa Cruz, antiga FESPI – Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna, onde lecionou e foi reitor.

Morre aos 92 anos de idade, nesta data.