segunda-feira, 26 de agosto de 2013

MORRE A ESCRITORA GRAPIÚNA SONIA COUTINHO


"...Autora de qualidades expressivas  indiscutíveis na moderna literatura brasileira, ao nível de Clarice Lispector, a dose deve ter sido bem forte. Uma lástima."


A Escritora Sonia Coutinho
Cyro de Mattos*

Tomo conhecimento da notícia de que a escritora Sonia Coutinho foi encontrada morta pela filha em seu apartamento, no Rio de Janeiro, na sexta-feira, dia 23 de agosto.   Aos 74 anos de idade, a escritora baiana, contista e romancista respeitável, morava só. Havia comunicado à filha pouco antes um mal-estar.

Nunca nos acostumamos com o quadro triste da morte. É amarga sempre sua memória. Em alguns casos,  quando se vive muito, preenche-se a vida com ganhos, formando-se uma biografia bem-sucedida no plano familiar, econômico e profissional, há o consolo entre os parentes, amigos e conhecidos do falecido. O trauma é atenuado com o fato  de que não se podia querer mais do morto. A dura lei da vida foi para ele recheada de trunfos. Assim, o falecido, de saudosa memória, deixa boas marcas e lembranças.

Com Sonia Coutinho, a traiçoeira invenção da vida não permitiu sob vários aspectos que os fatos acontecessem no lado azul da canção. Mas não é o momento agora para se falar das amargas que perseguiram essa notável escritora baiana.  Se Virgínia Woolf disse que viver é perigoso, o que alcança todos nós, em nossa condição de solitários no mundo, com Sonia Coutinho, autora de qualidades expressivas  indiscutíveis na moderna literatura brasileira, ao nível de Clarice Lispector, a dose deve ter sido bem forte. Uma lástima.

Ela nasceu em Itabuna, em 1939, filha do promotor Natan Coutinho, homem culto, poeta parnasiano, inteligência brilhante, que chegou a ser  deputado estadual na Bahia. Com a família, ainda menina,  mudou-se para Salvador. Na capital baiana graduou-se em Letras pela Universidade Federal da Bahia.  Depois que estreou com Do Herói Inútil, em 1966, contos, pequeno grande livro, que já prenunciava uma ficcionista de boas qualidades na sondagem e exposição contraditória da alma humana, ela foi morar no Rio onde exerceu o jornalismo. Viveu para sobreviver no sul da Brasil  também como tradutora de grandes romancistas e  deu prosseguimento à sua carreira literária.

Tornou-se autora dos livros de contos Nascimento de Uma Mulher, 1971, Uma Certa Felicidade,1976, O Último Verão de Copacabana, 1985, Mil Olhos de Uma Rosa, 2001, Ovelha Negra e Amiga Loura, 2006. E dos romances: O Jogo de Ifá,  1980, Atire em Sofia, 1989,  O Caso Alice, 1991,  e Os Seios de Pandora, 1999. Era  também ensaísta,  seus textos participam   de importantes  antologias do conto, no Brasil e exterior. Conquistou prêmios literários expressivos, com destaque para o Jabuti da Câmara Brasileira do Livro (SP), duas vezes, o da Revista Status, para literatura erótica, e o da Fundação Biblioteca Nacional.

Sua ficção une arte e documento para situar o real como vínculo de gravidade nas limitações da condição humana. Desenganos, desencontros, problemas existenciais e psicológicos de natureza aguda, na cidade grande, informam o herói em crise, que a autora logra questionar através de cortes e monólogos na mente do personagem,  em suas narrativas curtas e longas.

Sonia Coutinho pertenceu à minha geração. Sua obra ficcional, como a de Hélio Pólvora,   Euclides Neto e outros, mostra, nessa altura,  que a boa literatura de  autores nascidos no sul da Bahia não acontece apenas com a grandeza de Jorge Amado e Adonias Filho. Estudos críticos calcados em bases investigativas e de análise mais larga desses outros autores são necessários  para que a  literatura de alto nível não se torne exclusivista e repetitiva apenas através de dois nomes fundamentais.

Tal postura contribui em especial  para que certos legados primorosos, que se sustentam em admirável estrutura criativa  sejam sufocados e/ou relegados ao plano menor, injusto. É que a ideologia predominante de certos setores de nossa mentalidade  costuma debruçar-se  no que já está construído.  Não gosta de arriscar, por comodismo, até porque nessa condição é mais fácil  julgar e divulgar, enfim, tirar proveito do que não impõe mais esforço.

Quando se fizer uma história séria da literatura baiana, com relação aos legítimos escritores  nascidos na região cacaueira sulina,  mesmo que  não  tenham  questionado  o tema da civilização do cacau em sua obra,  será inadmissível a falha de  quem não situar com relevância a ficção de Sonia Coutinho. Como ícone da literatura brasileira no século XX ela já é reconhecida. 

*Cyro de Mattos é escritor, poeta e advogado aposentado.

PRIMAVERA CULTURAL COMEÇA COM O POETA CYRO DE MATTOS




O escritor e poeta Cyro de Mattos vai proferir palestra sobre o tema “Viver e Escrever” na Academia de Letras de Ilhéus, no dia 4 de setembro, a partir das 18 horas, com entrada franca. Depois da palestra estará lançando o livro “Onde e Estou e Sou”,  de poesia, publicado pela  Ler Editora de Brasília,  bilíngüe, com prefácio e versão para o espanhol do poeta peruano-espanhol Alfredo Pérez Alencart, professor da Universidade de Salamanca.

O livro “Onde Estou e Sou” será também lançado durante o XVI Encontro de Poetas Iberoamericanos, evento de repercussão internacional promovido pela Fundação Cultural de Salamanca e Universidade de Salamanca, nos dias 2 e 3 de outubro. Na oportunidade,  professores universitários e estudantes estarão recitando poemas do autor grapiúna no Liceu e Teatro de Salamanca.

“Onde Estou e Sou” é uma antologia poética com textos extraídos dos livros “Vinte Poemas do Rio”, “Cancioneiro do Cacau”, “Ecológico”, “Vinte  e Um Poemas de Amor” e “Oratório de Natal”, livros publicados, e dos inéditos “Rumores de Relva e Mar”, “Agudo Mundo” e “Devoto do Campo”. Nessa amostragem poética foram reunidos textos   que inauguram novos sentidos da vida, motivados  pela pureza da infância, solidões na colheita do nada, verdes visões na rota da felicidade, mundo cego do homem contra o homem, o erótico e o afetivo no encontro perfeito do amor, vozes do campo, ora fraternas, ora aflitas, rumores de relva e mar, cantos dedicados  ao Cristo, todos eles com versos idênticos  de ternuras e dores na paisagem do tempo.

O lançamento e a palestra de Cyro de Mattos dão o pontapé inicial ao Projeto Primavera Cultural da Academia de Letras de Ilhéus. A entrada é gratuita. 


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

"TRIJUNTOS ATÉ A MORTE"


“Deusdete deu uma verdadeira lição de vida mostrando competência e sentimento humano; tanto que, já curada, Neuzinha ficou sensibilizada, refletiu e reconheceu que Deusdete poderia ser uma grande amiga e partiu para uma nova aproximação.” Trecho do livro Trijuntos Até a Morte, de Jorge Luís Gonçalves Matos, (foto) natural de Canavieiras, na Bahia. Ele estudou Ciências Biológicas na Universidade Católica de Salvador e Medicina na Universidade Bahiana de Medicina. Hoje, o Dr. Jorge Matos, como é carinhosamente chamado, mora em Ilhéus, atua na área de ortopedia há mais de dez anos. É membro da Academia de Letras de Ilhéus, ocupando a cadeira 7. Possui sete livros publicados, a maioria inspirado em fatos policiais. 

Dr. Jorge encontra na literatura o prazer da escrita e se diverte com os personagens que brotam de sua imaginação. Autor de “O meu lado obscuro” – livro que trata dos mistérios e distúrbios que afetam a mente humana, “Amor e Obsessão em um só coração” que conta a história de Fred, Joyce e Jaqueline, “Seca, Marginalidade e Morte,” “Laços de Sofrimentos”, entre outros.


“A tão esperada hora é chegada, e Santinho no altar de braços dados com as duas noivas, uma de cada lado, fica em silêncio para ouvir a voz do padre.” (Trecho do livro “Trijuntos Até a Morte”). 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

POEMA


CATEDRAL DE SÃO SEBASTIÃO

                  Cyro de  Mattos

Subo os degraus e vejo
da  balaustrada formas
do silêncio suspensas
no espaço recriado
pela razão geometria
da tessitura humana.

Procuro esse milagre
da santa batina doada
sob o peso da abóbada.
Sinto a flor do coração,
outros a ela se juntam.
Dom Eduardo presteza,
Dom Eduardo amor,
Dom Eduardo oferenda.

Vejo assomar na avenida
                                               uma  enorme procissão
contrita sob cânticos.
Mãos mestiças em emoção,
este agasalho edificado
a São Sebastião flechado.
Ó comovente provação,
sinos anunciando a morte
sublimada na paixão.

Terço escorrendo no peito,
tríptico verso uni-verso,
alentado pão de todos,
oferta dessa praia bendita,
essencial como um todo
pela tábua das marés.
Estes ares em que eu medito,
roxos de penetrante compaixão
feita alma, força e vida.

Ao pé do outeiro ninho
de Deus que desceu do céu,
uma rosa é uma rosa
o que sustenta a base.


domingo, 18 de agosto de 2013

EDIÇÃO E REEDIÇÃO DE LIVROS - CYRO DE MATTOS

Cyro de Mattos no auge da juventude

Com mais de 74 anos de idade, tento reunir forças para prosseguir em minha jornada literária até quando Deus permitir. Dou de mim o que posso através dos sinais visíveis da escrita  para ser útil ao outro mais o mundo.  Sou apenas um elo na cadeia que nunca irá se partir, na qual se inserem autores magistrais.  Gosto muito de escrever, bem ou mal. Amo a literatura, ela tem mostrado que gosta de mim. São quase cinqüenta anos nessa estrada de solidão solidária.

Escrevo porque é minha condição nessa guerra sem testemunha, usando a expressão do ficcionista Osman Lins, ao estudar o assunto. É dor, mas dá prazer. Competição acirrada, tantas vezes neurótica, diabólica, Santo Deus.  É maneira de liberar pesares, fantasmas. Gratifica quando meu texto recebe reconhecimento expressivo da crítica, impressão favorável dos leitores, aquilo que como braço ao abraço dá sentido à vida, tornando-a viável,  e que os ressentidos nunca vão perceber.   

1a. Edição de "Os Brabos", de Cyro de Mattos, publicado pela Civilização Brasileira

A vida é falha, somos finitos, escreve-se também para responder perguntas que não têm  respostas. Meu coração é um rio subterrâneo, de onde vem para onde vai? (Fernando Pessoa). É maneira de conversar com Deus ou tocar na solidão de todos nós, a do nascer, viver e morrer.    

Assim, aos meus poucos leitores adianto que até o final deste mês de agosto estarei publicando os livros “Onde Estou e Sou”, poesia, português-espanhol, pela Ler Editora, de Brasília, com prólogo e versão  do poeta Alfredo Pérez Alencart, e o infantil “O que eu vi por aí”, pela Editora Biruta, de São Paulo,  com ilustrações de Marta Igneriska. 

Esgotado há mais de trinta e  cinco anos, meu livro   “Os Brabos”, novelas, com prefácio de Gerana Damulakis,  vai ter ainda neste mês de agosto uma segunda edição pela Ler Editora, enquanto “Ecológico”, poesia, será publicado pela Editora da Universidade Estadual da Bahia – EDUNEB, na Coleção Nordestina, com prefácio da ficcionista e Professora Doutora Helena Parente Cunha.  “Ecológico” vai  ser lançado na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, no final do mês. Foi  publicado primeiro em Portugal pela Palimage Editores, de Viseu e Coimbra,  em 2006.  
COMUNICADO



Prezados Confrades, prezadas Confreiras,


A Academia irá desenvolver uma série de atividades neste segundo semestre. Infelizmente, nós não temos convênio com nenhuma outra instituição pública ou privada que possa patrocinar nossas ações. Contamos somente com a contribuição mensal dos confrades e confreiras e a parceria de alguns beneméritos.

Desta forma, pedimos gentilmente que a contribuição seja depositada até o último dia de cada mês. Isto fortalecerá muito nossas ações e teríamos como planejar com responsabilidade nosso calendário de eventos.

Atenciosamente,


Josevandro Nascimento

Presidente da Academia de Letras de Ilhéus

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

SETEMBRO TEM PRIMAVERA CULTURAL





Quando setembro chegar, a Academia de Letras de Ilhéus estará promovendo um ciclo de palestras com temas diversificados no projeto Primavera Cultural. O principal objetivo da proposta é proporcionar a apresentação de assuntos com alguns dos melhores nomes da Literatura Baiana. Na opinião do Professor e presidente da ALI, Josevandro Nascimento, o “projeto irá aproximar a comunidade do espaço acadêmico. A Academia de Letras de Ilhéus não é um espaço fechado, pelo contrário, ela está aberta a todos.”

A Primavera Cultural tem início no dia 04 de setembro com o premiado escritor Cyro de Mattos que fará a palestra “Viver e Escrever” e na sequência lançamento do livro "Onde Estou e Sou", de Cyro de Mattos, poesia, português-espanhol, versão e prólogo de Alfredo Pérez Alencar, da Universidade de Salamanca.

Dia 11 será a vez de Aleilton Fonseca, membro da Academia Baiana de Letras, com o tema: “A poesia das Águas: Vivências e Encantamentos”. Aleilton Fonseca falará sobre poemas de águas, rios, mares, chuva, mostrando as imagens líricas que registram vivências e encantamentos dos poetas com estes aspectos da natureza e que são expressas através da palavra poética. Na oportunidade, o acadêmico também lançará “As Marcas da Cidade”, da Editora Caramurê.

Dia 18, o acadêmico Ruy Póvoas, sobe ao púlpito com a palestra “O real oculto e dado evidente no mundo do candomblé: uma abordagem bachelardiana.”

E por fim, dia 25, o professor e também membro da ALI, Dorival de Freitas, nos brinda com a palestra “Oração aos Jovens”, uma alusão e referência ao texto “Oração aos Moços”,de Rui Barbosa. As palestras terão início sempre às 18h00. A entrada é gratuita e estará sujeita a lotação do espaço.

Fotos de cima para baixo: Cyro de Mattos, Aleilton Fonseca, Ruy Póvoas e Dorival de Freitas.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

JORGE AMADO E A CIDADE DE SÃO JORGE DOS ILHÉUS

Jorge Amado escrevendo Dona Flor com a ajuda do gato Nacib

A Cidade de São Jorge dos Ilhéus não é apenas um ponto do mapa no País. Desde os idos da Capitania Hereditária, Sesmarias, passando de Vila à Cidade, sua bibliografia e história são riquíssimas: dos gentios à paisagem marítima, fauna e flora exuberantes, com registros de memorialistas,fastos,iconografia de viajantes e artistas europeus, revocados, em procedimentos permanentes.

Instituído em 2007, o Fórum Permanente em Defesa de Ilhéus, desvinculado da política partidária, congrega Associação Comercial, Academia de Letras, Instituto Geográfico e Histórico, Maçonaria, Clubes de Convivência, Grupos Afro-baianos, mobilizando a sociedade no “processo de restauração moral, econômica e social e a cidade, na recuperação de projetos de gestões anteriores” no que, implicitamente, inclui a preservação dos patrimônios material, imaterial, cultuando a memória de vultos históricos e literários, consubstanciando a lei municipal, que tornou obrigatória a inclusão de História de Ilhéus nos programas da rede de ensino pública de um dos mais importantes pólos turísticos da Bahia. É neste contexto que se insere a figura de nosso homenageado: Jorge Amado.

Em 25 de março de 1911, casam-se em Ilhéus Eulália Leal (BA) e João Amado de Faria(SE). Adquirem terras em Ferradas, Itabuna, município recém-emancipado de Ilhéus, onde nasce Jorge Amado, na Fazenda Auricídia, em 10 de agosto de 1912.

Com a enchente de 1914, a plantação é devastada, com perda total.Transferem-se inicialmente para São João do Pontal, arrabalde de Ilhéus. Alfabetizado pela sua mãe, Jorge inicia sua educação formal com a Professora Guilhermina Selmann e, posteriormente, no Atheneu Fernando Caldas.

As finanças da família são reestruturadas com a força de trabalho e a premiação lotérica de 500 contos que possibilitaram a compra da fazenda Tararanga, em Pirangi, atual Itajuípe, onde seriam deflagradas, no entorno e em Sequeiro Grande, as lutas sangrentas narradas no épico Terras do sem fim e Tocaia Grande: a face obscura.

Passam a residir no centro de Ilhéus no “palacete”, atual Casa de Cultura Jorge Amado, (FOTO) onde nascem os irmãos Joelson e James. Escreve os primeiros capítulos de O País do Carnaval, seu primeiro romance, em 1926. Jorge Amado, o eterno e polivalente “menino grapiúna”: “Quero dizer que em nenhum momento desses acontecimentos que me tornaram conhecido deixei de me lembrar que foi aqui onde tudo começou.Foi aqui em Ilhéus,na praça do Vesúvio.Não foi noutro lugar"

Jornalista, articulista, crítico literário, escritor, político, poeta, mensageiro da paz, pacifista e fraterno, cidadão do mundo,inicia no romance nordestino, “O Ciclo do Cacau”, com narrativas que retratam cenários, costumes e personagens, vivenciados e guardados, no fundo de seu coração e memória.

Cacau (1933), Terras do sem fim (1943), São Jorge dos Ilhéus(1944), Gabriela, cravo e canela: crônica de uma cidade do interior (1958); Tocaia grande: a face obscura (1984). Em 1981, centenário de elevação da Cidade, torna pública a sua “Declaração de amor à Cidade de São Jorge dos Ilhéus.” Relatos autobiográficos: O menino grapiúna (1982)  e  Navegação de cabotagem: um livro de memórias que jamais escreverei (1992).

Dentre as honrarias por ele recebidas  estão: 1959. Academia de Letras de Ilhéus (8 de março). Membro fundador. Cadeira nº 13. Patrono: Antônio de Castro Alves. Sucessora efetiva: Zélia Gattai Amado (24/3/2002); 1961. Presente do Fardão e espadim quando de sua posse na Academia Brasileira de Letras (17 de julho); 1962. Homenagem e presença, com Zélia Gattai, no I Festival do Livro no Clube dos Bancários de Ilhéus;1975. Comendador: Cidadão Benemérito de Ilhéus. Lei Municipal nº 117;Ordem do Mérito de São Jorge dos IIhéus; 1992. Outorgado com Troféu Gabriela de ouro; Obras vivas: Escolas Ursulinas do Brasil.Instituto Nossa Senhora da Piedade  Exposição, Teatro, Dança, Gincana. Mesa-redonda:Terras do sem fim;   Universidade Estadual de Santa Cruz Concurso "A Região cacaueira na obra de Jorge Amado", Encenação de Dona Flor e seus dois Maridos, Teatro Municipal de Ilhéus; 1997. 

Título de Cidadão Ilheense, concedido pela  Câmara de Vereadores; Inauguração da Casa de Cultura Jorge Amado, em 27 de julho; 1998 Fantasia Jorgeamadiana,espetáculo teatral com música, poesia, dança e balé, abordando trechos de sua obra com participação de artistas radicados em terras grapiúnas. Roteiro,trilha sonora  e direção: Eliane Sabóia. Bienal;  2000. Inauguração do Quarteirão Jorge Amado; 2001. Troféu Jorge Amado de Cultura e Arte. Concedido pela Prefeitura Municipal, todos os anos, a pessoas que se destacaram no ano em diferentes atividades;2002. Denominação do Aeroporto Jorge Amado. Decreto nº. 10.412, de 12 de março; Terras do sem fim. Encenação teatral. Universidade Estadual de Santa Cruz. Adaptação e direção de Ramayana Vargens; 2005. Início do “Agosto de Jorge Amado”. Festa anual; 2006. Feira do Livro. Palestras sobre a obra e o autor. Centro de Convenções Luís Eduardo Magalhães; 2007. O Bataclan – Restauração resultante de esforços de arquitetos e artesãos, aberto ao público com apresentações de atores caracterizados como personagens descritos em sua obra.

A Cidade e a Academia de Letras de Ilhéus,reconhecidas, promovem anualmente, o AGOSTO DE JORGE AMADO, mês em que se deu a alfa e ômega de seu ilustre filho. 


“Tomo a mão de minha namorada, cúmplice da aventura há mais de meio século, co-piloto na navegação de cabotagem: vamos sair de férias, mulher, bem as merecemos após tanto dia e noite de trabalho na escrita e na invenção. Vamos de passeio, sem obrigações, sem compromissos, vamos vagabundear sem montra de relógio, sem roteiro, anônimos viandantes.”  (Jorge Amado).

Texto e colaboração de Eliane Sabóia Ribeiro, professora aposentada do Departamento de Documentação da Universidade Federal Fluminense e membro da Academia de Letras de Ilhéus. Cadeira n.12.

Ao copiar este texto, favor informar fonte e autora.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

A CONFREIRA ELIANE SABÓIA ENVIOU ESTAS FOTOS E O TEXTO DE GRATIDÃO DE JORGE AMADO QUANDO RECEBEU O TÍTULO DE CIDADÃO ILHEENSE

A Terra da Minha Vida



“Poucas vezes me senti tão honrado em minha vida como me sinto agora. Aconteceram-me fatos diversos que levaram a mim e aos meus livros mundo afora. Eles significaram, antes de tudo, Ilhéus. Não só porque aqui comecei a vivê-los, porque aqui imaginei a escrevê-los, mas porque a presença de Ilhéus irradiou a luz especial que ilumina essas minhas pobres páginas.

É de Ilhéus que nasce o que de mais puro e sensível, o que de mais belo possa ter o que escrevi. Ilhéus como tema me inspirou, me marcou de forma profunda o que escrevi de alma e corpo, as coisas que quis dizer em todo o meu trabalho literário da decorrência de toda a minha vida, onde tantas coisas aconteceram e acontecem com aspectos tão diferentes e diversos à realidade mais distante e, por conseqüência, a realidade fundamental em Ilhéus.


Vim pra’qui aos quatro anos. Aqui transcorreu a minha adolescência, vivi minha infância, corri nas ruas solto, livre, capaz de amar a liberdade sobre todas as coisas, pois a primeira lição que recebi desta terra foi à lição de liberdade. Ilhéus não é apenas uma bela cidade do sul da Bahia, com a tradição de luta, de violência, de vida espantosamente vivida. Ilhéus é bem diferente, é bem mais que isso. É a transformação de tudo isso em criação. E a transformação de tudo isso em viva e translúcida realidade.

Ilhéus para mim significa o começo e significa a construção posterior. Quando eu, por acaso, ponho os olhos naquilo que escrevi eu vejo que Ilhéus está criança e aqui me fiz homem, aqui me fiz escritor e quando eu quero saudar a verdade de mim próprio, aquilo que é essência de meu ser, de minha vida, eu penso nessa cidade, por mais distante que eu possa estar geograficamente das suas praias, das suas ruas, da sua gente.

Essa cidade me acompanha. A cada dia eu me revejo nela, a cada dia eu me redescubro nela, a cada dia eu me sinto mais próximo e fundamental de tudo quanto eu fiz. Eu não sei se fiz grandes coisas. Algumas eu busquei fazer na minha trajetória de escritor, algumas verdades busquei dizer, algumas realidades coloquei no papel. Tomei delas da vida para transformá-las em literatura. Tudo isso se deu porque vivi nessa cidade. A minha Ilhéus transparece a paixão pelas coisas e pelos homens, o amor infinito pela vida.

Que dizer mais dessa cidade? Dizer que a amo de uma forma imensa, infinita. Meu amor por Ilhéus não tem limites, pois é o amor que vem da meninice, da adolescência, dos tempos felizes e alegres, dos dias em que eu quis aceitar a verdade da minha vida.
Quero ainda dizer que em nenhum momento desses acontecimentos que me tornaram conhecido, deixei de me lembrar /que foi aqui onde tudo começou. Foi aqui em Ilhéus, na praça do Vesúvio, não foi noutro lugar.”


Pronunciamento de Jorge Amado ao receber o título de cidadão ilheense em 1997. 

IMAGENS: De cima para baixo, montagem com Jorge Amado; Jorge retratado na parede do bar Vesúvio (que foi removida após reforma) e Jorge Amado retratado por Floriano Teixeira.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

SEMANA JORGE AMADO - A ACADEMIA VAI PUBLICAR UMA SÉRIE DE EVENTOS COM A PARTICIPAÇÃO DOS CONFRADES


Cyro de Mattos, no centro da foto
Elogio de Jorge Amado

 Cyro de Mattos

Da saga de cobiça e sangue, do curso da violência na terra primitiva, com suas léguas férteis que acenavam como um eldorado,  nasceria uma literatura original, que por vários aspectos tem lugar  destacado na novelística brasileira. Cabe a Jorge amado o lugar indisputável de quem como romancista  de denúncia social deflagrou importante corrente temática na ficção regionalista do Brasil. É  o escritor compromissado em recriar a realidade objetiva, que faz prevalecer o documental sobre o subjacente, a linguagem coloquial no texto  sem preocupação  em auscultar o herói problemático, em sua tensão crítica diante do  mundo.  
         
Diferente de Adonias Filho, um inventor de formas,  com seus romances trágicos que se desenvolvem no espaço da infância da região cacaueira baiana, percebe-se  no autor de Terras do Sem Fim que o  mais importante  no fundo de tudo e sempre é a essência mesma da narração, a história  e a emoção que dela decorrem, interagindo no outro feito cúmplice do mundo.  A narrativa linear obedece aos momentos do  princípio, meio e fim para apresentar o modo e o tempo seqüenciado  dos  acontecimentos destacados  da realidade objetiva. A cadência dramática da vida escorre-se nesses três momentos, configurando  como na novelística  tradicional  a estrutura romanesca do que o autor pretende representar.

Romancista da memória, fecundo criador de personagens, ímpeto impressionante na narrativa desenvolta, apresenta-se na escritura que prende como um  escritor  que participa e julga o mundo. Dá seu testemunho sobre o que  viveu e sentiu. Expõe  cenas e situações dentro de geografia humana típica. Com apelos dramáticos  e líricos, suas histórias acontecem na Região Cacaueira Baiana e Salvador.

         Cyro, Jorge e Zélia Gattai

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Dois Sonetos Marinhos
Cyro de Mattos*

Olivença


Ressoavam no peito leopardos
Num som feito de luz, cor e magia,
Por esses mares antes navegados
O calendário na vaga esquecia.

O azul do céu em cima iluminava
Mas embaixo era o verde que encantava
Nessa brisa, no desfile de sereia,
Nos meus olhos seduzidos na areia.

Certamente era o verde que vestia
A flor pura do náutico coração,
Ardentemente era o azul que bebia

O amor perfeito solto na canção.
E me inventava com forte armadura
Pra hoje resistir aos sons da amargura.


Pontal dos Ilhéus

             
Descobria estrelas, mar, céu, canção
De peixe ouvia na voz do verão,
Rota que sabia de vidro, ardente
De sol e de sal onde o navegante

Parava no Morro de Pernambuco
Para o de São Sebastião um pouco
Mirar e em ventos ancestrais voar.
Praias do Sul, da Concha, sublunar

Hora do búzio vazando na areia
Segredos inocentes de sereia.
Escuta: o canto o azul estremecendo

É de teu pássaro de aço subindo.
E mais: o apito de teu barco triste
Pelo canal em busca do horizonte.


Cyro de Mattos é escritor e poeta. Premiado no Brasil e exterior. Vai representar o Brasil no XVI Encontro de Poetas Iberoamericanos, em Salamanca, promovido pela Fundação Cultural de Salamanca e Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca, Espanha, nos dias 2 e 3 de outubro.