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sexta-feira, 27 de agosto de 2021

ACADEMIA DE LETRAS ELEGE NOVO EFETIVO

Manoel Carlos irá ocupar a cadeira de nº 39


O ilheense Manoel Carlos de Almeida Neto irá ocupar a cadeira nº 39, em substituição ao saudoso confrade José Cândido de Carvalho Filho. O ato de indicação foi chancelado por 22 (vinte e dois) membros da Academia, portanto, maioria absoluta neste momento em que ainda estamos com duas vacâncias na confraria. A escolha se deu eu reunião ordinária, com a pauta específica das indicações, conforme rege os estatutos da ALI.

 

Subscreveram a indicação: Edvaldo Brito, Jabes Ribeiro, Luiz Pedreira, Sebastião Maciel, Soane Nazaré, Carlos Valder, Cyro de Mattos, Neuza Nascimento, Antônio Ezequiel, Antônio Lopes, Josevandro Nascimento, Ramayana Vargens, André Rosa, Pawlo Cidade, Luh Oliveira, Anarleide Menezes, Aleilton Fonseca, Jane Hilda, Maria Schaun, Carlos Alberto Arléo Barbosa, Gerson dos Anjos e Rui Póvoas.

 

O FUTURO CONFRADE

 

Manoel Carlos de Almeida Neto, 41 anos, é casado com Melissa Ribas de Almeida, com quem têm um casal de filhos (Isadora, 8 anos e João Manoel, 4 anos), e se divide entre a vida acadêmica na USP e encargos jurídicos no eixo Brasília-São Paulo.

 

Na seara acadêmica, é Professor da Faculdade de Direito da USP, nas Arcadas do Largo São Francisco, aprovado em seleção pública, para a área de Teoria do Estado. 

 

É Doutor em Direito do Estado pela USP, grau obtido “summa cum laude”, em 2013, e pós-doutorando pela mesma instituição. É Mestre em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em cooperação e créditos cursados na Universidade de Brasília (UnB), em 2008, e foi Professor da Faculdade de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), entre 2005 e 2006, na cadeira de Teoria do Estado.

 

Publicou os livros “O Novo Controle de Constitucionalidade Municipal” (editora Forense, 2010); “Direito Eleitoral Regulador” (editora Revista dos Tribunais, Thomson Reuters, 2014); “Juiz Constitucional” (coordenador, editora Revista dos Tribunais, 2015); e as seguintes obras, em coautoria: “A Constituição entre o Direito e a Política” (editora Mundo Jurídico, 2017); “O Supremo por seus Assessores” (editora Almedina, 2014); “Reflexões sobre a Constituição” (editora Leya, 2013); “O Novo Direito Eleitoral Brasileiro” (editora Fórum, 2012); “Direito Eleitoral em Debate” (editora Saraiva, 2012), além de inúmeros artigos veiculados em jornais e revistas especializadas no Brasil e no exterior.

 

No campo profissional, é advogado, Secretário-Geral da Comissão de Estudos Constitucionais da OAB Nacional e exerce, desde janeiro de 2016, o cargo de Diretor Jurídico da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), empresa multinacional brasileira, 100% privada e de capital aberto. Foi Secretário-Geral da Presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), entre 2014 e 2016, e Secretário-Geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre 2010 e 2012.

 

Entre prêmios e títulos, foi agraciado com a “Medalha do Pacificador”, pelo Exército Brasileiro, 2011; com a “Ordem do Mérito Militar, no grau de Comendador”, pelo Exército Brasileiro, em 2011; com o “Troféu Dom Quixote de La Mancha”, pela Revista Justiça & Cidadania, em 2014; com a “Medalha Mérito Santos Dumont”, pela Aeronáutica do Brasil, em 2015; com a “Grande Medalha da Inconfidência”, pelo Estado de Minas Gerais, em 2015, e com a “Medalha Mérito Tamandaré”, pela Marinha do Brasil, em 2021.

 

Manoel Carlos de Almeida Neto é neto do saudoso Manoel Carlos Amorim de Almeida, que muito honrou a Academia de Letras de Ilhéus, ocupando a cadeira de número 33. A posse do futuro confrade ainda será designada pelo presidente, conforme rege o Regimento, e a saudação à sua chegada será discutida com o eleito. 

 

 

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

ARTIGO

 

James Amado: 1912 - 2001

Situação de James Amado

Cyro de Mattos*

 

Os exemplos não são poucos em que autores de uma obra importante não impressionam à crítica arguta com o livro da estreia. As imperfeições são flagrantes.  O talento e a entrega ao fazer literário não se tornam  suficientes para que o nascimento do escritor aconteça  no texto de nível superior reconhecido. Fundo e forma demonstram instabilidade. Vícios e virtudes convivem em alguns trechos.

 É muito grande o salto que James Joyce deu entre a primeira fase de sua obra e a segunda com Ulisses (1966), considerada esta como subversiva na estrutura tradicional das formas narrativas da novelística ocidental.  Machado de Assis no passado e Jorge Amado no presente podem ser assinalados entre nós como escritores que se tornaram importantes com a obra em andamento, ficando a desejar com os seus livros primeiros. Os romancistas Assis Brasil e Lígia Fagundes Telles chegaram ao ponto de  riscar  de sua bibliografia  o livro de estreia por considerá-lo insignificante como expressão literária na prosa de ficção.     

      .    O fato repetiu-se  com os nossos autores ao longo dos anos em razão de  nossa novelística  ainda não ter se aprofundado na renovação dos processos  formais  de criação  e firmado uma tradição de autonomia. A intuição predominava na construção do texto, os instrumentos de concepção e execução da obra não tinham sido bem assimilados. O risco do desequilíbrio entre a forma e o fundo ocorria sem que fosse obtido o efeito eficaz da projeção positivada.

          Adonias Filho, com Os servos da morte (1946), João Guimarães Rosa,  comSagarana(1946),  Samuel Rawet, com os Contos de imigrante (1956), Clarice Lispector, com  Perto do coração selvagem (1944),  José J. Veiga, com  Os Cavalinhos de Platipanto (1959) e  Luís Vilela , com  Tremor de terra (1967), entre outros, são exemplos de autores bem-sucedidos na estreia. 

O romancista levado a construir um universo ficcional com linguagem adequada e moderna, diferente dos meios tradicionais empregados na sua época e antes dela, adota elementos formais novos para focar sua temática característica. Expande suas visões oblíquas do mundo ao introduzir no conteúdo os motivos decorrentes das relações sociológicas e regionais, trabalhando com a perspectiva formal moderna, que projeta encontrar para a narrativa uma maneira incomum de dizer sobre seres e coisas, com base numa técnica avançada. Exemplo disso é o romancista James Amado com o seu Chamado do mar, livro de estreia,  o único de ficção que o autor escreveu.

James Amadoé o terceiro e último filho de João Amado de Faria e Eulália Leal Amado, desbravadores da região cacaueira baiana, na época da conquista da terra. Nasceu em Ilhéus, em 1922. Era o irmão caçula de Jorge Amado. Com Chamado do mar obteve menção honrosa no Prêmio Paulo Prado, em 1949.

O livro reproduz um território que alterna a paisagem marinha e a servidão à terra, tendo como cenário Pontal dos Ilhéus, no Sul da Bahia.  A ambiência de natureza marinha é o local em que acontecem conflitos interiores e sociais vividos por pescadores numa colônia de pesca. É um dos romances mais vigorosos da ficção brasileira que tem como motivação o mar e sua gente. Acontecem os dramas de ordem psicossocial numa paisagem típica e regional, com personagens convincentes que transmitem a imagem da criatura humana afundada numa conjuntura miserável, marcada pelas injustiças sociais.

Na incursão por sentimentos baixos e desvãos da alma, em que entra o desespero, a revolta, o ciúme e o medo, o lirismo não é deixado de lado. A praia e a economia do cacau com suas mazelas servem como referenciais contrários à paisagem humana em que criaturas primárias vivem a dura realidade diária carregada de dramas. O que chama atenção nesse romance com forte apelo do mar é a técnica usada, que difere da empregada por Jorge Amado em seus romances de conteúdo popular. Se em Jorge Amado o que interessa   para a teia romanesca se tornar interessante é contar a história  como se apresenta na vida real, com uma linguagem que corresponda a do povo, despretensiosa, em nível da fala,  através do relato que se desenvolve nas ações dos personagens com princípio, meio e fim, em James Amado o procedimento do ficcionista moderno toma direção inversa.

 Existe no autor de O Chamado do mar uma técnica moderna na montagem do romance. Na estrutura da obra entra o corte cinematográfico, o uso do contraponto e do monólogo interior. Aqui com propriedade são empregados os meios adequados modernos para auscultar a alma e expor o drama. Os personagens ganham dimensão na trama, ocupando um curso que avança em situações descontínuas dos movimentos. 

Narrado assim, com a técnica moderna dos ficcionistas norte-americanos, que trouxeram para a estrutura do romance, após a Segunda Guerra Mundial, o uso do contraponto e do tempo cronológicolinear fragmentado, desmembrado para se associar à trama, até hoje Chamado do mar guarda a áurea de texto romanesco inovador e mantém o segredo perene de atualidade. Personagens de marcante psicologia sobressaem no desenvolvimento fragmentado do enredo, como Alício, Arlinda, Tonha, Yazinha, José Alves e Vicente.

Tradutor de Tolstoi, Eugene O’Neil, Hemingway e Sartre, James Amado foi também o responsável pela edição das Obras Completas de Gregório de Matos, publicadas pela Editora Janaina, em Salvador.  Pena que publicasse apenas um romance, dos bons. Talento, vocação e consciência do ofício, qualidades que lhe sobravam, infelizmente não foram requisitos  suficientes para motivá-lo a escrever  livros de contos ou romances, deixando um legado  expressivo em termos de criação no panorama das letras brasileiras. Seu conto “A sentinela” participa de três antologias: Panorama do Conto Baiano, organizada por Nélson de Araújo e Vasconcelos Maia; Histórias da Bahia, por Adonias Filho, eModerno Conto da Região Cacaueira, por Telmo Padilha.

           Formado em sociologia e política, James Amado foi atuante na política e tinha posições firmes na defesa da democracia. E na luta pela liberdade. Dono de um humor cáustico, exerceu o jornalismo no Rio. Foi casado com Jacinta Passos, Gisela Magalhães e Luiza Ramos, filha do escritor Graciliano Ramos. Ocupou como membro efetivo a cadeira 27 da Academia de Letras da Bahia. Faleceu em 1* de dezembro de 2013, em Salvador.

 

Referência

AMADO, James. Chamado do mar, romance, Editora Record. 5ª. edição, Rio de Janeiro, 1977. 

* Membro da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

NESTE SÁBADO TEMOS NOVA EDIÇÃO DO TERTÚLIAS ACADÊMICAS COM OS CONFRADES GERALDO LAVIGNE E JOSEVANDRO NASCIMENTO


 

Na sexta edição do Tertúlias Acadêmicas, transmitida pelo Youtube e Facebook, os confrades Geraldo Lavigne e Josevandro Nascimento abordam questões sobre o papel do direito ontem e hoje. Vale a pena conferir no dia 21 de agosto, a partir das 18h.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

CONFRADE JOSEVANDRO NASCIMENTO LANÇA SEGUNDA EDIÇÃO DE FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL



O confrade, advogado e professor Josevandro Nascimento, informa que a 2a. edição revista e atualizada do seu livro Fundamentos de Direito  Penal, já está à venda.  Trata-se, como o autor mesmo diz, de "um livro básico  de Direito  Penal que procura mostrar aos alunos, os principais Instituto de Direito Penal, trazendo, ainda, um capítulo sobre a pena como  consequência do crime. 

O livro teve muita repercussão da comunidade acadêmica. Trás um prefácio do Prof. Yuri Coelho, renomado jurista baiano, prof  de Direito Penal em diversas Faculdades em Salvador.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

MARIA LUIZA HEINE E SUEDE MAYNE LANÇAM “MEMÓRIA E HISTÓRIA: LIÇÕES DE UM VÍRUS ASSUSTADOR", SÁBADO,14/08





Nesse sábado, dia 14/08, às 16 horas, ocorre o lançamento do livro: “Memória e História: Lições de Um Vírus Assustador” por meio de live no Instagram: @ml_heine, com apresentação do professor Efson Lima. O livro é uma produção conjunta das professoras Maria Luiza Heine, ocupante da cadeira n° 20, da Academia de Letras de Ilhéus, e Suede Mayne.

A professora Luiza Heine tem diversos livros publicados. Ela é formada em filosofia e doutora em educação pela UNEB, com pesquisa no campo da educação ambiental. A autora Suede Mayne Pereira Araújo é formada em serviço social. Mestra em educação e especialista em saúde do trabalhador e em Psicodrama, Profissional de Serviço Social e atua no Hospital Menandro de Faria e no Instituto Federal da Bahia.

Segundo as autoras, o “livro surgiu como uma expressão da insatisfação pessoal com a vida que estamos vivendo, com as mudanças que brotaram a partir do aparecimento da Covid 19 e com a forma como muitas pessoas do país encararam o enfrentamento da pandemia”.

O livro tem prefácio do escritor Pawlo Cidade, presidente da Academia de Letras de Ilhéus e gestor cultural.

A obra está sendo comercializada por meio do perfil da escritora Maria Luiza Heine no Instagram, bem como no site da Editora Via Litterarum: https://viaeditora.com.br/acervo-literario/memoria-e-historia-licoes-de-um-virus-assustador/ no valor de R$ 30,00 mais frete. O livro também possui versão em e-book para comercialização.

O quê: Lançamento do “Memória e História: Lições de Um Vírus Assustador”

Autoras: Maria Luiza Heine e Suede Mayne

Vendas: no Instagram @ml_heine e no site Editora Via Litterarum

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

ARTIGO

Rui Barbosa - 1849 -1923

Erudição e Sabedoria em Rui Barbosa

por Cyro de Mattos

 

Rui Barbosa nasceu em Salvador, aos 5 de novembro de 1849. Filho de Maria Adélia, moça de tempe­ramento calmo e bem educada. Seu pai, João Barbosa, fora um político atuante, jornalista inflamado, homem preocupado com as refor­mas humanas no ensino, um médico que aban­donara a profissão.

       Rui foi membro da Academia de Letras da Bahia e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, tendo sido presidente quando Machado de As­sis faleceu. Era um homem de estatura baixa, franzino, a cabeça grande sustentada por um pescoço fino. Tímido e feio, mas tinha uma voz poderosa quando ocupava a tribuna. Os olhos faiscavam, de cada centelha a oratória incendiava com a argumentação fascinante, baseada na verdade.

Fora incapaz de conceber a vida sem um ideal. Liberal convicto, construtor da Repúbli­ca, deu-lhe o arcabouço jurídico inicial. Não aceitava a escravidão, clamava pela adoção das eleições diretas, reforma do ensino com méto­dos humanos, investia contra o poder papal, como defensor ferrenho da ideia de separação entre o Estado e a Igreja.

            A erudição adquirida ao longo do tempo era aplicada com brilho nas relações sociais, no intuito de construir a vida, só querendo fazer o bem. Gostava de repetir o versículo, “todo o bem que fizeres, receberás do Senhor.” No elogio a José Bonifácio, falecido no fim de 1886, desabafou contra aquele mundo político, que o fizera sofrer várias derrotas e que era considerado por ele como meio louco e míope, espé­cie de divindade gaga, protetora do daltonis­mo e da surdez, uma combinação da esteri­lidade das estepes com a paisagem onde não se canta, supondo-se queassim  fosse inimiga da har­monia, contradição do belo, como tem sido neste país. E, numa intencional advertência ao poder monárquico, reafirmou como encarava a questão da escravatura na célebre fra­se, primeiro a abolição, nada sem a abolição, tudo pela abolição.

Amara de verdade duas profissões: o jor­nalismo e a advocacia. O jornalismo sempre foi a janela de sua alma, por onde se acos­tumou a conversar durante todo o tempo, todas as manhãs, para a rua com os seus compatriotas, como informa Luís Viana, seu melhor e mais completo biógrafo, em A Vida de Rui Barbosa. Advogado do povo, foi o patrono dos professores demitidos de suas funções na Escola Politécnica. Quando o Congresso decretou a anistia, julgando impossíveis de revisão as penas e os processos dos aparen­temente beneficiados, ele bate às portas dos tribunais para se opor à situação que feria a lei e maltratava a justiça.

Ao se dedicar à política, fora eleito De­putado Provincial em 1878 e no período de 1879-1884 exerceu mandato na Câmara dos Deputados do Império. Com o advento da Re­pública, nomeado Ministro da Fazenda, a polí­tica financeira que adotou caracterizou-se pelo abandono do lastro-ouro e a adoção de grandes emissões garantidas por apólices do Governo, visando fomentar o comércio, além da criação do Tribunal de Contas e delegacias fiscais.

       O conferencista falava mais de três horas, sem que houvesse um murmúrio desaprova­dor do auditório repleto de pessoas. Quan­do terminava, no meio das palmas demora­das ouvia-se: “Continue! Continue!” Pessoas riam, choravam, deliravam, indignavam-se, aplaudiam, acompanhavam o orador hipno­tizadas pelas emoções que a sua alma a todos transmitia.

           Designado pelo Senado para examinar o projeto do Código Civil, já revisto pelo filólo­go baiano Carneiro Ribeiro, essa tarefa sem na­tureza política revelaria ao Brasil um gramático conhecedor amiúde e melhor na colocação dos pronomes. Em pouco tempo, o seu parecer apre­sentou mais de mil emendas ao texto revisto por Carneiro Ribeiro, o antigo mestre do Ginásio Baiano, sendo corrigido agora pelo ex-aluno nas regras gramaticais.

         Em Haia, o assunto mais importante da Conferência era a organização do Tribunal Permanente de Arbitragem, com o palco pre­viamente armado para o papel de destaque das potências que governavam o mundo e manda­vam nos povos.

        A voz impetuosa e indignada de Rui apre­senta sua proposta para a Organização do Tri­bunal, onde todos os países terão assento. Fica ao livre arbítrio dos contendores submeterem as suas questões ao plenário do Tribunal. Falou em francês castiço, entre o silêncio geral, perante um auditório que o desconsiderava, mas que ficara espantado. No final fora reconhecido como uma das mais poderosas vozes da assembleia. Aque­le homem pequeno, de voz ritmada na verdade e no direito, derrotara os que representavam os direitos e interesses das grandes potências, Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, França, Rússia e Itália. Por seu desempenho superior fi­cou conhecido como a Águia de Haia.

O discurso de Rui surpreende pela va­riedade e nas expressões soberbas de suas leituras. Da palavra imantada nas imagens candentes emergem verdades que iluminam a vida, mas sua erudição não é apenas variada, de vocabulário ilimitado, domínio do idio­ma, citações e argumentos que impressiona­vam vivamente. Pode-se dizer desse paladino da liberdade que fora um erudito abraçado com um sábio.

Rui Barbosa, o que conhecia Vieira, lia Castilho, recitava Camões aos dez anos, santo Deus, o erudito e o sábio. Deixou este velho mundo em 1 de março de 1923. Fora residir na morada do eterno.

 

Referência

A Vida de Rui Barbosa, Luís Viana Filho, Lelo& Irmãos, Porto, Portugal, 1981. 

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

SESSÃO DA SAUDADE SERÁ REALIZADA NO TRADICIONAL ILHÉUS HOTEL


 

Com o avanço da reforma do telhado e dos pisos superior e térreo da Academia de Letras de Ilhéus, em parceria com a Prefeitura Municipal de Ilhéus, a Sessão da Saudade do confrade José Cândido de Carvalho Filho será realizada na sede do Ilhéus Hotel, sito à Rua Eustáquio Bastos, 144, Centro.

Devido às restrições sanitárias, só poderão participar da cerimônia apenas 20 convidados. Para ampliar a participação, a sessão será transmitida ao vivo pelo Facebook e Pelo Youtube da Academia de Letras.

sábado, 7 de agosto de 2021

TERTÚLIA ESPECIAL NO DIA DO ESCRITOR JORGE AMADO


No dia em que comemoramos os 109 anos de nascimento do escritor Jorge Amado, a Academia de Letras de Ilhéus promove uma tertúlia especial com o confrade, professor, escritor e mestre em letras vernáculas, Ruy Póvoas que fará comentários sobre a obra do escritor. A conversa será mediada pelo poeta e confrade Geraldo Lavigne. 

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

ARTIGO




OS NOVENTA E UM ANOS DE SOANE NAZARÉ DE ANDRADE*

 

Por Renée Albagli Nogueira

 

No dia 5 de agosto de 2021, Soane Nazaré de Andrade completa noventa e um anos. É com muito orgulho que me dirijo à sociedade regional e à comunidade acadêmica da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) para registrar homenagem a um dos maiores baluartes da implantação da Educação Superior na Região Sul da Bahia.

Falar de Soane Nazaré de Andrade e de sua importância para a Educação é um dever cívico para com as gerações futuras. Sua trajetória como educador teve início em 1960, com a criação da Faculdade de Direito de Ilhéus, sendo o seu primeiro Diretor. Participaram dessa luta: Amilton Ignácio de Castro, Francolino Gonçalves Queiroz Neto, Jorge Weill Fialho e José Cândido de Carvalho Filho.

Nesse mesmo ano de 1960, foi criada a Faculdade de Filosofia de Itabuna, por iniciativa de Dona Amélia Tavares Amado, reunindo figuras expressivas da Educação itabunense. Só em 1970 foi criada a Faculdade de Ciências Econômicas de Itabuna.

Convidado por José Haroldo Castro Vieira, então Secretário Geral da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), Soane Nazaré de Andrade recebeu a incumbência de liderar a implantação da Federação das Escolas Superiores de Ilhéus, que teve o seu funcionamento aprovado pelo Conselho Federal de Educação (CFE), mediante Processo CFE 4.989/73.

Em uma sala cedida pela CEPLAC, Soane Nazaré de Andrade liderou uma Comissão responsável pela elaboração do Projeto a ser submetido ao CFE. Integraram essa Comissão: Flávio José Simões Costa, Manoel Simeão da Silva, Valdelice Soares Pinheiro, Helena dos Anjos, Rosalina Molfi de Lima e Erito Francisco Machado.

As três Faculdades – Faculdade de Direito de Ilhéus, Faculdade de Filosofia de Itabuna e a Faculdade de Ciências Econômicas de Itabuna – foram então reunidas na Federação de Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna (FESPI).

Instalado o Campus, em 1974 foi realizado o primeiro vestibular, sob a coordenação dos Professores José Formigli Rebouças, Henrique Campos Simões e Maria de Lourdes Neto Simões. Já na Coordenação Pedagógica da FESPI, Soane Nazaré de Andrade foi assessorado pelas Professoras Enilda Lordello e Litza Mary Modesto Câmera.

A FESPI passou a funcionar sob a égide de uma fundação de direito privado, a Fundação Santa Cruz (FUSC), sendo seu presidente o Professor Erito Francisco Machado.

A FUSC era mantida, prioritariamente, pela CEPLAC e pelas anuidades estudantis. Na gestão de Soane Nazaré de Andrade, as primeiras edificações do Campus foram realizadas pela CEPLAC, cujos recursos, oriundos da cacauicultura, destinavam-se ao desenvolvimento regional.

Soane Nazaré de Andrade atribuiu às primeiras edificações da FESPI uma homenagem a dois grandes escritores brasileiros do Século XX: Jorge Amado e Adonias Filho. Posteriormente, foi construída a Torre Administrativa, e a esse edifício de seis andares foi dado o nome de José Haroldo de Castro Vieira. Foi uma justa homenagem, considerando os relevantes serviços prestados à Região Sul da Bahia.

Todos esses atos foram referendados democraticamente pelo Conselho Superior da FUSC, onde tinham assento os três dirigentes das Unidades Federadas.

A FESPI tinha localidade na Zona da Mata Atlântica, de grande importância para a preservação da cacauicultura, o que lhe assegurou, entre as universidades brasileiras, uma singularidade na sua vocação acadêmica: observar cientificamente o equilíbrio entre a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento regional. Soma-se a isso a importância de se manter como um Centro de Biotecnologia, associando-se à sua vocação cultural, enriquecida pela sua área de influência no sítio do descobrimento e na rica literatura regional.

Consciente dessa potencialidade de inserção regional, a FESPI sempre teve como ideal maior transformar-se em uma Universidade.

Por Soane Nazaré de Andrade foi pensada a bandeira da FESPI/UESC e o Hino da Universidade Estadual de Santa Cruz. Estas feições específicas lhe asseguram a sua identidade como Universidade.

Soane Nazaré de Andrade dirigiu a FESPI de 1974 a 1985. Durante todo o período Carmem Dolores Vieira Passos foi sua secretária.

No ano de 1982 foi instalada a Associação Profissional dos Professores Universitários de Ilhéus e Itabuna (APRUNI), sendo o seu primeiro presidente o Professor Joaquim Bastos da Silva. Nesse mesmo ano, em virtude das vicissitudes do ensino privado, surgem as primeiras mobilizações para a estatização da FESPI/UESC. Assim, a APRUNI liderou a comunidade acadêmica e as representações regionais, encaminhando ao então Governador do Estado, em 30 de agosto de 1982, a pretensão de estatização da FESPI/UESC.

Em 1984, perto da conclusão do seu mandato como Diretor Geral da FESPI, por iniciativa da comunidade acadêmica em documento encaminhado ao Conselho Superior da FUSC, foi aprovado atribuir-se ao Campus da FESPI/UESC o nome de Campus Professor Soane Nazaré de Andrade.

É nesse Campus que repousam os sonhos de centenas de professores, que, em gerações sucessivas, não só atuam nos fins da universidade: ensino, pesquisa e extensão, mas o fazem com competência e idealismo.

Hoje, dia 5 de agosto de 2021, do alto dos seus noventa e um anos, Soane Nazaré de Andrade acompanha os desafios e a grandiosidade da caminhada vitoriosa da FESPI/UESC, responsável pela educação de várias gerações de jovens da região, do estado, do país e até do exterior.

Para Soane Nazaré de Andrade, o pensamento de Henfil: “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente”.


* Professor e confrade Soane Nazaré de Andrade ocupa a cadeira nº 32, da Academia de Letras de Ilhéus.