Páginas

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

"HOMEM DE BEM, EXEMPLO DE INTEGRIDADE, ALMA DE LUZ"



A ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS, sente a passagem do Dr. Rui Carlos Carvalho, "homem de bem, exemplo de integridade, alma de luz". 
Nossos sentimentos à família enlutada. 
Abaixo, texto do confrade Ramayana Vargens em sua homenagem.


Pawlo Cidade
Presidente




Rui tinha 71 anos de idade


RUY, GENTE DEMAIS 
Ramayana Vargens


Morre um homem de bem. Pessoa do bem. Desaparece um exemplo de integridade. Vai embora uma alma cheia de luz. Ruy Carvalho partiu.

Sai de cena um amigo de todos. Alguém que o povo ouvia e confiava. Presença que trazia alegria e inspirava respeito e admiração. A Bahia perde uma voz crítica e corajosa, que sabia expressar - com firmeza - nossa indignação contra os danosos oportunistas no poder. Já faz falta o cidadão que, acima de tudo, amava sua terra e sua gente. Segue em paz, querido Ruy.

Lembraremos sua gargalhada gostosa. Não esqueceremos suas lutas. Não deixaremos morrer sua esperança na reconstrução de um mundo melhor e na reinvenção de um ser humano mais justo e solidário. 

Continuaremos a ver sua energia estampada na filharada bonita - “genética poderosa” (como você dizia). Recordaremos suas aventuras cheias de paixão, que desaguaram no imenso amor feliz ao lado de Elísia. 

Não deixaremos esvair-se a grandiosidade do perdão que você dedicou àqueles que o traíram politicamente. Honraremos sua memória revivendo os casos engraçados que você sabia contar com estridente maestria.

Entre zoando no céu. Santos, anjos, orixás, entidades e muita gente boa lhe esperam para a festa no paraíso. Descanse. A tristeza fica aqui. A decepção com o país, com os rumos duvidosos de Ilhéus, permanece na caminhada terrena. É coisa para o nosso presente resolver. Desfrute a paz. Missão cumprida. Muito bem cumprida.

Obrigado pela bela história que você deixa como legado. Deus lhe abençoe. Segue na luz . Grande companheiro! Valeu!

sábado, 11 de dezembro de 2021

ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS FARÁ LANÇAMENTOS LITERÁRIOS, EXPOSIÇÃO DE LIVROS E ARTE NO FESTIVAL INTERNACIONAL DO CHOCOLATE E DO CACAU.




A Academia de Letras de Ilhéus estará com um stand no 12º Festival Internacional do Chocolate e Cacau, evento que será realizado no período de 16 a 19 de dezembro do presente ano, na cidade de Ilhéus. Na programação, a ALI promoverá três(3) lançamentos literários, bate-papo com escritores, exposições de objetos pessoais de saudosos membros da ALI, exposições de obras literárias ligadas à temática cacaueira e exposição de artes plásticas. 

Dia 17, a partir das 19 horas, acontecerá o lançamento do livro “Os Nós na construção do indivíduo”, publicado pela Editora A5, do confrade Sebastião Maciel Costa. O livro é fruto da vivência do autor com pais dos mais variados níveis sociais, intelectuais e econômicos, de onde foram extraídos vários recortes de experiências de quem reconhece que falhou em poucos momentos, mas não foi capaz de reverter a falha, transformando-a em um problema irreversível.



Sebastião Maciel Costa, Maria Luiza Heine, Pawlo Cidade e Jane Hilda Badaró


No dia 18, também às 19 horas, será a vez do lançamento do livro “Memória e História: Lições de um vírus assustador”, publicado pela Editora Via Litterarum, escrito a quatro mãos pela confreira Maria Luiza Heine e a Assistente Social Suede Mayne Pereira Araújo. A obra nos conta como o coronavírus se prospectou no Brasil e no mundo, trazendo reflexões de importantes pensadores da atualidade como Yuval Harari. É, na afirmação das autoras, “uma expressão da nossa insatisfação pessoal com a vida que estávamos vivendo, com as mudanças que brotaram a partir do aparecimento da Covid19 e com a forma como muitas pessoas do nosso país encararam o enfrentamento da pandemia”.

Já no dia 19, às 18 horas, o escritor e atual presidente da Academia de Letras de Ilhéus, Pawlo Cidade, lança “O Tesouro Perdido das Terras do Sem-fim”, 2ª. edição, revista e ampliada, da obra que remonta a narrativa do desenvolvimento da Capitania de São Jorge dos Ilhéus, a existência dos índios botocudos e os tempos áureos do cacau, a partir da descoberta de um mapa que leva a um lendário tesouro perdido há mais de cem anos. O livro foi copublicado pelas editoras A5 e Editora Via Litterarum.



Afrânio Peixoto, Jorge Amado e Sosígenes Costa

Obras literárias importantes serão expostas no stand da Academia de Letras, a exemplo da obra “Cacaulista”, de Inglês de Souza, publicado em 1876; Afrânio Peixoto, com o livro “Maria Bonita”; Sabóia Ribeiro, com o livro de contos “Rincões dos frutos de ouro”; Jorge Amado que publica em 1933, “Cacau”, “Terras do Sem-Fim”, 1942; “São Jorge dos Ilhéus”, 1944; “Gabriela Cravo e Canela”, 1958; “O Menino Grapiúna”, 1981 e “Tocaia Grande: A face obscura”, em 1984 e a obra “Sul da Bahia: Chão de Cacau, uma civilização regional”, publicado em 1978, de Adonias Filho. Diversos outros títulos de membros efetivos anteriores e membros efetivos atuais da ALI também serão expostos.

A acadêmica Jane Hilda Badaró, artista plástica e escritora, autora do livro “Imagens e Sentimentos: Poemas (des)engavetados & pinturas”, vai expor quadros com a temática das obras de Jorge Amado, sobre o cacau, e outras “grapiunidades”

O saudoso membro da ALI, Sosígenes Costa (1901-1968) será homenageado através da exposição da escrivaninha e da máquina datilográfica que usava para escrever seus belíssimos poemas. 

Nos quatro dias do Festival, membros da Academia de Letras de Ilhéus se farão presentes no stand para falar sobre as atividades desenvolvidas naquele vitalício ao longo dos seus 61 anos de existência. Visitantes serão contemplados com a Revista Estante, edição nº 1, recentemente lançada pela ALI.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

HOMENAGEM


DORIVAL DE FREITAS

Por René Albagli



Hoje, 8 de dezembro de 2021 seria o aniversário de Dorival de Freitas.

Ele, por certo, está muito feliz, afinal ele deve ter assistido a maravilhosa festa dos 30 Anous da Universidade Estadual de Santa Cruz UESC, organizada pelo atual Reitor Alessandro Fernandes.

Dorival é, entre tantos pioneiros, um dos professores que tem o seu nome gravado na História da Universidade Estadual de Santa Cruz UESC.

Foi estudante da antiga Faculdade de Direito de Ilhéus-FDI, aluno e orador da primeira turma daquela Faculdade, quando ainda tinha como endereço a Casa de Jorge Amado.

Naquele ano o homem pisava na Lua pela primeira vez e Dorival fez um discurso memorável: era o conflito entre o avanço da tecnologia e as imensas necessidades primárias da humanidade. Para ele , não era justo este antagonismo.

Depois, tornou-se Professor da Faculdade de Direito de Ilhéus, da Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna, quando migrou para o Departamento de Filosofia e Ciências Humanas, dedicando-se, mais precisamente, à Filosofia Antiga.

Na UESC teve uma passagem pela Geseor, ao lado de Moema Cartibani.

Quando fui Eleita Reitora da UESC, Ele foi o meu primeiro Chefe de Gabinete. Fui parabenizada por José Haroldo Castro Vieira pela escolha de Dorival de Freitas como meu Chefe de Gabinete. Eu respondi a José Haroldo Castro Vieira: a Universidade exige Cultura, tenho Margarida Cordeiro Fahel como Vice Reitora e Dorival de Freitas como Chefe de Gabinete.

Dorival, embora tivesse perfil para o cargo e adorava política, era avesso às exigências do protocolo. Eu sabia disso! E então, na segunda gestão ele foi para Editus e a Editus reunia tudo que ele amava: a erudição, o fazer literário e a leveza de Maria Luiza Nora de Andrade (Baisa).

Dorival se viu livre do paletó e da gravata e com todas as chaves penduradas na cintura ele deixou crescer o seu cabelo de poeta...Muitas saudades de Dorival de Freitas!

Nota do ALI: Dorival de Freitas pertenceu a Academia de Letras de Ilhéus.

domingo, 5 de dezembro de 2021

ARTIGO

As alforrias de Rita Santana

Cyro de Mattos 



A vida é falha, não basta na sucessão dos acontecimentos. É ambígua, contraditória, do nascimento ao ocaso não satisfaz. Para onde vá finita é envolvida com as marcas inexoráveis da precariedade. Irreversível no anonimato dos dias, náufraga na memória do efêmero, submete-se ao jogo de Cronos, que tudo dá e toma. Encontra para fundamentar-se no seu ser-estar a linguagem artística, que a torna essencial, inaugurando seus dizeres com novos sentidos e conceitos. 

Nessa hora de crises e questões, a poesia entra em cena com seus modos, que são versos e motivações, buscas num obstinado empenho de totalidade, visão individual com a auscultação do absoluto no particular, exposição de alforrias, que circulam em seu íntimo, tocam os acordes já uma vez entoados, recriados, como os cria também no leitor. 

Um poema lírico é eficiente quando se pensa na sensação, palavras e versos como meios surpreendentes de seus motivos anímicos crivados de falas. É belo quando a verdadeira força e valor estão no efeito de seus motivos. Quando é pobre na sua motivação, deixa de operar a presença com eficácia perante a existência. E, sensações estranhas no ritmo, versos inócuos na ideia, o que seria inspiração e transpiração perde-se no vazio, na incapacidade de transmitir algo sério, alcançar um grau eficaz na dicção particular em que se expressa. 

O estético nesse caso sem resultado positivo, graças ao efeito ineficiente do pensamento verbal, dissociado do conteúdo rico de significados, não se faz bom nem belo, eis que se apresenta destituído de um discurso crítico, pulsante de vida, prazer e dores. Destituído de densidade na palavra, frágil assim para refletir a vida, dispensa compreensão e fruição da mensagem, pois nele não se consegue perceber o relacionamento contraditório dos seres e as coisas. 

Nesses vinte e oito poemas de Alforrias (2016), de Rita Santana, a poesia em versos livres se expressa com palavras herdeiras da língua e de neologismos inventados para reforçar o sentido, que em muitos momentos é desenvolvido pelas motivações de natureza existencial agônica. 

A metáfora fecundada de alusões apropriadas insinua a possibilidade de uma compreensão lógica e sensitiva da vida, crispada na face multifacetada de dores e falhas. Parece que tudo isso trabalhado com equilíbrio, a nível de engenho e arte, ressoa em Alforrias com a consciência dos sentimentos, intuições e razões que se prestam à perspicácia da alma, à liberação de um lirismo que corresponde a certas inclemências, paixões com a solitude do vento, invasões com as tormentas e os abortos clandestinos. 

O lirismo em que se refere a poeta para transmitir cometimentos, estruturados em estados de desejo incompleto, resulta da necessidade categórica própria dessas alforrias, que querem ser percebidas num mundo-mar de vastidões e até mesmo na forja das ilhas onde cavam suas profundidades. Seu discurso contundente em que dolorosa é a mensagem não esconde a intenção do eu e tu como vínculo de gravidade. Das suas colisões constam adultério, torpezas e vilania, sempre esse estar crítico do drama, disposto a revelar-se sem concessões do verso doce, querendo ser desdobrado em poesia secreta e prosadura. 

Essas alforrias de Rita Santana, tecidas na tristeza da alma e nas acusações eróticas do amor, distribuem-se com a temática afrodescendente, da condição da mulher frente ao homem e na versão carnal que os une e desune. Percepção do que a vida oferece em situações do desamor está no poema “Mortes Cotidianas’. 


Chove na promessa remissa do feriado

E a migração não cessa.

Entristeci há dias

E o espelho, somente ele,

Revelou o embranquecer dos pelos,

O cansaço da voz,

E a desidratação da esperança.



Chove nos confins da minha alegria.

Virei moça triste sem vontade de sorrir.

Não tenho nada!

E nada resta do ser, senão, securas.

Artroses na atriz, reumatismos no feminino

E uma alergia de afetos.



Há anos não gozo, por puro desgosto!

Há anos não canto, por puro desencanto!

Há anos não vivo, só tenho banzo! 

Por pura preguiça

De subir tantas ladeiras,

E descer tanto Morro,

Morro, morro, morro, morro...



Como observa Maria de Fátima Maia Ribeiro, na orelha desse pequeno grande livro de poemas instigantes, o lirismo atual desse poeta “definitivamente descarta a necessidade de espera de tempo e serenidade, em favor do encantamento, da exacerbação e do reencontro com camadas tantas vezes adormecidas.” 

A ilheense Rita Santana é atriz, professora graduada em Letras pela Federação de Escolas de Ensino Superior de Ilhéus e Itabuna. Mulher que se inventa em versos e na prosa de ficção curta. Além de Alforrias, publicou Tramela (2004), contos, vencedor do Prêmio Brasken de Cultura e Arte, e Tratado das Veias (2006), poesia. Um talento dos melhores que aconteceu há poucos anos nas letras contemporâneas da Bahia. 



Referência 

SANTANA, Rita. Alforrias, Editus (Uesc), Ilhéus, Bahia, 2016.