Academia de Letras da Bahia (ALB) realiza, em parceria com a Academia de Letras de Ilhéus (ALI) e a Rede de Integração Cooperativa das Academias de Letras da Bahia (RICA), a mesa ‘As formas fixas da poesia: Poetrix, uma proposta poética para o novo milênio’.
Será no dia 30 de outubro (quarta-feira), às 19h, na Academia de Letras de Ilhéus, localizada na R. Antônio Lavigne de Lemos, 39, Centro.
O evento vai contar com a participação dos escritores Aleilton Fonseca, Cadeira 20 da ALB; Goulart Gomes, da Academia Internacional Poetrix (AIP); sob a coordenação do também escritor Pawlo Cidade (ALI).
Criador do Poetrix, Goulart Gomes apresentará os conceitos, origens e desenvolvimento deste subgênero literário, que completa 25 anos de criação. Abordará, também, os conceitos teóricos, as suas múltiplas formas e as aplicações do poetrix no âmbito educacional.
O evento é gratuito e aberto a todas e todos.
PARTICIPE!
Conheça mais sobre os participantes:
Goulart Gomes é escritor, mestre em Museologia, pós-graduado em Literatura Brasileira e em Comunicação Integrada, graduado em História e em Administração de Empresas. Escreve poesia há 40 anos, já tendo publicado 12 livros, obtido 70 premiações em concursos literários e participado de mais de 60 coletâneas e revistas, em diversos países. Criou a linguagem poética Poetrix, em 1999, que conta com centenas de praticantes.
Aleilton Fonseca é escritor e ensaísta, já publicou cerca de 30 livros, entre conto, romance, poesia e ensaio. Doutor em Letras pela USP, é professor de literatura da UEFS, em Feira de Santana, Bahia. Publicou em diversas revistas brasileiras e estrangeiras. Tem trabalhos traduzidos para francês, espanhol, inglês, italiano, neerlandês e alemão. Sua publicação mais recente é o livro ‘Vozes do nosso tempo’, escrito com o também Acadêmico Carlos Ribeiro. Além da Academia de Letras da Bahia, pertence à Academia de Letras de Itabuna e à Academia de Letras de Ilhéus.
Pawlo Cidade é escritor, dramaturgo, diretor de teatro, articulista, pedagogo, gestor cultural, educador ambiental, especialista em gestão e projetos culturais pela FGV—RJ. Foi presidente do Fórum de Agentes e Gestores Culturais do Litoral Sul da Bahia (2011-2013); membro do Conselho Estadual de Cultura da Bahia (2014-2017); Secretário de Cultura do Município de Ilhéus (2018-2019); Diretor das Artes da Fundação Cultural do Estado da Bahia (2020-2021). Tem 24 livros publicados. É presidente da Academia de Letras de Ilhéus (2021-2025).
A Academia de Letras da Bahia tem apoio financeiro do Governo da Bahia, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.
Noite memorável, a de hoje, neste 14 de outubro de 2024. A Academia de Letras de Ilhéus fez acontecer a Sessão da Saudade, uma homenagem a André Luiz Rosa Ribeiro. Professor, pesquisador, historiador e poeta, André foi reverenciado em falas profundamente marcadas por diversas pessoas que ocuparam a tribuna.
A primeira fala foi a do Presidente Pawlo Cidade que percorreu o perfil intelectual de André. Vários foram os enfoques em sua obra sobre temas da História de nossa Região. Pawlo recitou diversos poemas da autoria de André, transbordantes de lirismo.
Em seguida, Ana Lívia, irmã de André, deixou transbordar toda a emoção oriunda de seu reconhecimento e saudade. Professor Ramayana Vargens proporcionou uma fala ímpar, abordando virtudes de André, trazendo à tona seu profundo apreço pelo homenageado. Disse de uma saudade alegre por ter tido oportunidade de conviver com uma pessoa tão maravilhosa. Foi seguido por Márcia Valéria que fez valer profunda reflexão filosófica sobre a trajetória do homenageado. Janete Macedo traçou o percurso de André, desde a chegada dele à UESC, até se tornar o pesquisador que veio a ser. Por sua vez, Higyno se fez porta-voz do preito de gratidão que resumiu o imenso reconhecimento dos acadêmicos. Enquanto isso, Adélia Pinheiro tratou de seu conhecimento pessoal com André, num depoimento digno de nota.
Confrades e confreiras. Da E. para a D.: Pawlo Cidade, Antônio Hygino, Fabrício Brandão, Anarleide Menezes, Baísa Nora, Luh Oliveira, Ramayana Vargens, Ruy Póvoas, Tica Simões e Maria Schaun.
E ouvindo todas as falas, lembrei-me de algumas passagens dos Evangelhos, que não citarei letra por letra e sim, da lição que me ficou. Numa das muitas conversas que Jesus Cristo manteve com seus discípulos, Jesus quis saber o que eles pensavam sobre Ele. Foi justamente Pedro, que não era o mais amado e depois negou Jesus por três vezes consecutivas, que sentenciou: “Tu és o filho do Deus vivo.” Tal resposta provocou Jesus que exarou uma sentença, sustentáculo da Igreja Católica até hoje: “Tu és Pedro. E sobre esta pedra, edificarei a minha igreja.” Tais lembranças me levaram a cogitar sobre a pedra fundamental que, nos tempos idos, os edificadores punham no fundo da terra, marcando o início da nova construção.
Isso também acontece conosco, os humanos. Cada um de nós constrói sua personalidade a partir e em cima de uma pedra fundamental. Pensando, sentindo e refletindo sobre tudo que eu estava ouvindo sobre André, de repente, me dei conta, que faltava uma abordagem sobre a pedra fundamental, sobre a qual André erigiu todo o percurso de sua trajetória na existência. Acontece, porém, que as pedras fundamentais de uma construção civil ficam soterradas, no fundo de uma alvenaria, e nunca mais são lembradas nem referidas, quando a edificação fica pronta. Assim é também com as pedras fundamentais que sustentam as edificações de nós mesmos. Escondidas sob o solo que sustenta o edifício de nossas escolhas, de nossos percursos, de nossas realizações.
Pawlo Cidade fez o discurso de saudação
Outra coisa a considerar que a história de vida de cada um de nós se divide em capítulos vários e diferentes. Alguns deles são conhecidos pela maioria de nossos contemporâneos. Outros, por parentes, colegas e parceiros mais achegados. Outros mais, por pouquíssimas pessoas íntimas e de nossa confiança. E ainda há aqueles capítulos que somente a própria pessoa conhece.
Então, havemos de perguntar: que capítulos da vida de André estão para além do conhecimento da Universidade, da Academia, da maioria de seus contemporâneos. Esse é o espaço em que apenas seus amigos mais íntimos puderam tomar conhecimento.
Cumpre então outra pergunta: qual foi a pedra fundamental sobre a qual André construiu o edifício de sua vida? Para que a resposta seja verdadeira, é necessário percorrer outros caminhos trilhados por André para além da Universidade e da Academia. Só assim chegaremos a um terreiro de candomblé, pois foi justamente numa comunidade de religião de matriz africana que André encontrou o material suficiente e adequando para com ele, numa ação alquímica, compor a pedra fundamental de sua trajetória.
Anna Lïvia, irmã de André Rosa
Foi justamente no Terreiro Tombenci, localizado no alto da Conquista, em Ilhéus, onde André chegou até seus iguais na crença e na fé dos Inkices e Orixás. Sob a orientação, proteção e amparo de Mãe Ilza Mukalê, a matriarca, dirigente daquele terreiro, André encontrou motivação para se tornar o que ele veio à existência para ser.
E quem é Mãe Ilza Mukalê? A nengua de angola daquele terreiro, mãe da resistência. Sem a pedra fundamental que o terreiro lhe ofertou, pelas santas mãos de Mãe Ilza, bem provável que nem a Universidade nem a Academia ganhariam o professor, o pesquisador e o poeta em que André se construiu. Certamente o chão lhe fugiria dos pés, as paredes ruiriam, a edificação viria abaixo, pois realmente, para a pessoa que André foi, era necessário que sua pedra fundamental se sustentasse no axé da ancestralidade, na vivência junto a seus iguais num terreiro de candomblé. Não se trata apenas de uma questão de crença, de fé, de religião. Trata-se de ser ou não ser.
Cabeça Isidoro cantando fez uma canção
especialmente para o amigo André Rosa.
Foi sob a tutela de Mãe Ilza Mukalê que André evoluiu na hierarquia do terreiro e chegou a um dos postos mais altos daquele terreiro. Foi sob a tutuela de Mãe Ilza que André se aceitou na sua complexidade de pessoa de axé. Foi sob a tutela Mãe Ilza que André se harmonizou com seu destino. Tudo o mais que ele construiu ou conseguiu fazer veio a reboque do axé. Servindo a Matamba, Zumbarandá e Zaze, André se tornou o que ele veio para ser. E disso apenas os terreiros de candomblé podem dar conta, pois nenhum conhecimento construído pela humana gente, por si só pode abarcar toda a complexidade que perfaz a nós, os humanos.
Vídeo-homenagem ao confrade André Rosa, exibido na Sessão
Irmão de fé e caminhada nas trilhas de terreiro, conhecedor do percurso realizado por André, aqui deixo meu sincero depoimento sobre nossas vivências, para além dos caminhos que também fizemos com os letrados. Ele, um Tata ti Inkice. Eu, um Babalorixá. Ambos, filhos de santo, gente de terreiro. Também professores, pesquisadores, poetas, com vários livros publicados. Oxalá seja louvado e André continue iluminado.