terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

V PRÊMIO SOSÍGENES COSTA DE POESIA TEM NOVO PRAZO DE ENTREGA E NOVAS ESPECIFICAÇÕES



O Prêmio é uma homenagem ao 
grande poeta Sosígenes Costa


RETIFICAÇÃO EDITAL UESC N° 125/2021 - ABERTURA DE INSCRIÇÕES PRÊMIO SOSÍGENES COSTA DE POESIA

 

A UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ e a ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS retificam o edital nº 125/2021, referente ao V PRÊMIO SOSÍGENES COSTA DE POESIA, nos termos e condições estabelecidos neste regulamento.  

 

No item “2. DAS INSCRIÇÕES”, acrescenta-se o subitem 2.9 abaixo:

 

2.9. O arquivo da obra tem que conter folha de rosto, na qual deverá constar apenas o TÍTULO e o PSEUDÔNIMO do autor. A obra enviada deverá ter entre 70 (setenta) e 80 (oitenta) páginas obrigatoriamente. O texto deverá ser digitado em apenas um lado da folha, fonte Times New Roman, tamanho 12, na cor preta, espaçamento 1,5 e em formato A4. Cada poema deverá começar em página própria

 

No item 2.3, onde se lê “As inscrições são on-line, gratuitas e estarão abertas no período de 3 de janeiro a 4 de março de 2022”, leia-se “As inscrições são on-line, gratuitas e estarão abertas no período de 3 de janeiro a 18 de março de 2022”.

 

Aqueles que já efetuaram as inscrições com arquivo que não atende o que está estabelecido no item 2.9 desta retificação poderão realizar novamente o processo de inscrição enviado novo arquivo com a formatação exigida, desde que respeitando os prazos constantes neste edital.

 

 

Campus Prof. Soane Nazaré de Andrade, xx de fevereiro de 2022.

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ALESSANDRO FERNANDES DE SANTANA

REITOR

 

sábado, 19 de fevereiro de 2022

O MESTRE NOS DEIXOU! ILHÉUS PERDE ARLÉO BARBOSA, PROFESSOR, HISTORIADOR E EX-PRESIDENTE DA ACADEMIA DE LETRAS DE ILHEUS


Arléo Barbosa, 27/09/1939 a 19/02/2022 - Foto: Divulgação


“Tenho a sensação de que contribui com a história de Ilhéus. Principalmente quando vejo minha obra publicada em bibliografias de obras internacionais. É a sensação de que valeu à pena. E se tivesse que começar, faria tudo novamente.” 


Personalidade ilustre e respeitada, o professor Carlos Roberto Arléo Barbosa faleceu na tarde deste sábado (19), aos 82 anos. A notícia do seu passamento comoveu a sociedade baiana, que reconhece a importância do trabalho desenvolvido ao longo das últimas seis décadas para a história e cultura da região sul do estado. O professor Arléo deixa a esposa, Cláudia, cinco filhos: Roberto, Ronaldo, Renato, Rosana e Thiciano, noves netos, quatro bisnetos, uma legião de admiradores e um imenso legado para o ensino em Ilhéus.

O prefeito Mário Alexandre manifesta profundo pesar pela morte do educador e lembra a sua dedicação e o seu comprometimento com o resgate cultural e histórico do município. “Ilhéus perde um exemplo de mestre, ser humano e de cidadão. O professor Arléo Barbosa fez uma revolução no estudo de história e se tornou a memória da nossa cidade. Deus o acolha no Reino Celestial e na sua infinita misericórdia conforte a todos”.

Ocupante da cadeira número 19 da Academia de Letras de Ilhéus (ALI), Arléo Barbosa possuía extenso histórico acadêmico, sendo presidente da entidade, de 2009 a 2013, e professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), de 1974 a 2008, com Especialização em História Regional e História Contemporânea. Entre as obras publicadas por ele, destacam-se: Monarquismo e Educação (1972); Nhoesembé (1973); Ilhéus (2010) e Notícia Histórica de Ilhéus, cuja última versão foi publicada em 2013.



Professor Arléo sempre estava presente nas atividades da ALI/Foto: Eliene Hygino


Nascido em Jequié, ele chegou à terra de Jorge Amado ainda na adolescência, recebendo o título de cidadão ilheense em 1986. Sua paixão pela educação fez com que fundasse o Colégio Fênix, em 1988, instituição de ensino tradicional na qual também integrava o quadro de docentes. Em 2004 foi homenageado com a entrega da Comenda do Mérito São Jorge dos Ilhéus, título dado a homens e mulheres que colaboram para o progresso do município.

O velório acontece na Loja Maçônica Vigilância e Resistência, na Avenida Itabuna, a partir das 22h00, de hoje, 19/02/22

O sepultamento será às 10h30, no Cemitério da Vitória, do dia 20/02/22.

“Tenho a sensação de que contribui com a história de Ilhéus. Principalmente quando vejo minha obra publicada em bibliografias de obras internacionais. É a sensação de que valeu à pena. E se tivesse que começar, faria tudo novamente” (trecho de entrevista concedida ao site A Região, em março de 2004).


Fonte: Secom/Ilhéus
Com notas da ALI.

NOTA DE PESAR





O grande mestre se foi nesta tarde de 19 de fevereiro de 2022. A Academia de Letras de Ilhéus sente a perda do confrade querido que ocupou a cadeira de número 19. Vá em paz, meu amigo. Daqui a pouco daremos mais informações sobre o velório e sepultamento.

"CHUVA DE JANEIRO", por Cyro de Mattos

                           

 

Depois que o marido faleceu perdeu o interesse pela vida. Vivera com ele trinta anos de casada e soubera que o calor do corpo aquece o amor. Quando se é idosa, a experiência de vida diz que esse calor do corpo some, ainda mais quando o seu homem já não está mais ao seu lado para consumar o ato mais prazeroso da vida. 

Os dois filhos estavam casados, viviam no exterior. Ela morava em um apartamento de quarto e sala. Passava com a aposentadoria de professora estadual. Todos os dias seguia para a pensão onde fazia a refeição do almoço. Sentava em uma mesa reservada para ela no canto da sala.  Lá viu pela primeira vez o homem de cabelos brancos que olhava para ela. Tinha um brilho diferente nos olhos.  O olhar dele se repetiu nos outros dias, deixando-a sem jeito. Ficou assustada quando ele se levantou de sua mesa e pediu permissão para fazer-lhe companhia durante a refeição. 

        Disse que era um viúvo aposentado, fora funcionário do Banco do Brasil. Um dia convidou-a para passear no parque. A princípio relutou, mas diante da insistência dele outras vezes, resolveu aceitar o convite.  Conversaram sobre a vida, seus momentos entre o alegre e o triste, foram se tornando íntimos.  Num ponto concordaram, viver sozinho, sem ter ninguém como companhia, era ruim. Deram uma volta no jardim, sentaram no banco embaixo da árvore frondosa. Jogaram migalhas para os pombos e para os peixes na lagoa. 

Na tarde fresca, um vento morno passava no rosto dela em finura de  lenço e leveza de carícia. Um casal de namorados, em cada beijo que sorvia nas bocas ávidas, revelava que a vida era boa e bela, assim no calor que se estendia por toda a extensão da pele só podia ser dado valor a ela. Ele fez questão de levá-la até o prédio onde ficava o apartamento dela. Na entrada do pequeno edifício olharam-se em silêncio antes de cada um querer dizer algo ao outro, que eles mesmos já sabiam o que era e que pulsava como uma chama que lampeja dentro. Talvez um convite para conhecer o apartamento de perto por ele. Convite dessa natureza seria impossível, embora houvesse no rosto de cada um deles o olhar cintilante de brilho.

          Ele disse:

- Muito obrigado.

Ela disse:

- Obrigada digo eu. 

Despediram-se com leve aperto de mão.

Era janeiro e ainda não havia caído a chuva de verão. 

Daquela vez quando terminaram de fazer o passeio pelo parque, ele a convidou para conhecer o apartamento dele. Era também um quarto e sala. Ela perguntou quem fazia a arrumação e o asseio. Respondeu que havia contratado uma faxineira. Vinha duas vezes na semana fazer a faxina. Notou que certas coisas não estavam no lugar devido. Fez a arrumação com esmero.  Limpou a poeira na mesa e nas duas cadeiras. Deu brilho em alguns objetos domésticos. Um pouco cansada foi tomar um banho no chuveiro de água quente. Vestiu o roupão que pertenceu a ex-mulher dele.  

Ela sorriu quando ouviu o convite para ir se deitar com ele. 

     Então vieram os primeiros beijos. O ato para que alcançasse o auge exigia concentração e esforço. E aconteceu o máximo quando o prazer de ambos ao mesmo tempo precipitou a vertigem. Souberam que ainda restavam um pouco neles daquilo que motiva a vida. Era preciso de agora em diante aproveitar bem antes que não restasse mais nada. Foram alguns anos de convívio harmonioso, decorrente da união sem atrito entre o espírito e o corpo, que acordava rejuvenescido, embora no estado de fuga repentina em cada vez que o ato se consumava dentro algo precioso ia ficando longe nos seus contornos definidos.  

 Quando ocorreu aquela primeira vez em que dormiram juntos, ela lembrava agora, acordou no final da tarde. Movimentou-se no quarto com cuidado, não queria interromper o sono tranquilo dele. Foi até a janela. 

 E, cheia de vida, ficou olhando cair pelo vidro a chuva de verão.  


Cyro de Mattos, é membro da ALI, da ALITA. e da ALB.

 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

RESENHA


REALISMO MÁGICO BRASILEIRO NO SÉCULO XXI: 
RIO DAS ALMAS, DE PAWLO CIDADE

Ivo Korytowski*

Por que esse oximoro “realismo mágico” ou “realismo fantástico”? O que é real não é mágico/fantástico, e vice-versa. Por que não simplesmente “fantasia” ou “literatura fantástica”? Porque, ao contrário das obras quintessencialmente fantásticas, o romance não tem por cenário um ambiente irreal: uma Nárnia, uma Terra de Oz, uma Liliput. As histórias do realismo mágico costumam transcorrer em cidades interioranas típicas de algum país latino-americano, cidades que por suas características, pelo perfil de sua população, poderiam perfeitamente existir. Só que, em meio à rotina cotidiana de pessoas aparentemente normais – não são seres mitológicos, chifrudos, alados, com um olho na testa, é gente como a gente – eventos fantásticos começam a acontecer do nada, como se normais fossem. Esta é a lógica do realismo fantástico, que o distingue do puro romance de fantasia ou do puro romance realista (ou naturalista). Ou, segundo a Enciclopédia de Literatura Merriam Webster, “fenômeno literário latino-americano caracterizado pela incorporação de elementos fantásticos ou míticos, como se fossem reais, a uma ficção que normalmente seria realista. O termo foi aplicado à literatura no final da década de 1940 pelo romancista cubano Alejo Carpentier, que reconheceu a tendência dos contadores de histórias tradicionais de sua região, bem como de escritores contemporâneos, de iluminar o mundano por meio do fabuloso.” (verbete magic realism; tradução minha) 

Na segunda metade do século XX, a América Latina de língua espanhola foi pródiga em autores do realismo fantástico ou mágico, alguns com projeção internacional: Julio Cortázar, Gabriel Garcia Márquez, Isabel Allende, etc. Já no Brasil, onde o modernismo dominou o ambiente literário por mais de meio século, o realismo mágico se manifestou mais na teledramaturgia, em novelas de televisão de enorme sucesso como SaramandaiaRoque SanteiroO Bem Amado. Mas eis que, em plena segunda década do “século seguinte”, o pedagogo e dramaturgo natural de Ilhéus, Bahia, Pawlo Cidade surpreende-nos com esta obra de realismo mágico/fantástico Rio das Almas.

Bem escrito, imaginação a pleno vapor, poder descritivo, vocabulário rico. O autor se diz influenciado por (entre outros) Jorge Amado e Gabriel Garcia Márquez. A história começa em 9 de fevereiro de 1968, plenos anos sessenta, quando o realismo mágico latino-americano galgava listas de best-sellers mundo afora.

A trama gira em torno do “funcionário do governo” Pedro Perigot, “um dos maiores hidrólogos do país”, que, a mando do governo, viaja em sua camioneta até Rio das Almas, o povoado que não estava no mapa, palco no passado de um massacre de índios juma – passando no caminho pelo Vale dos Absurdos, onde uma vez por ano o sol brilha em plena meia-noite – a fim de pesquisar o poder medicinal de suas águas. A própria mãe de Pedro havia sido miraculosamente curada de uma doença terminal por uma garrafa do líquido (“A Magnólia Parigot [...] destruída pela doença dava lugar a uma mulher jovem, bonita”), levando o filho a se dedicar ao estudo medicinal da água de Rio das Almas. “Se dizia em Betânia e em todas as cidades circunvizinhas que a água era a principal responsável pela longevidade dos seus habitantes. Apesar dos rios atravessarem toda a região, apenas Rio das Almas não registrava mortes nos últimos dezenove anos. Dizia a lenda que beber na nascente do rio das Almas prolongaria a vida [...]”.

Assim que chega lá, Pedro presencia uma cena de dimensões bíblicas: a ressurreição do velho Deocleciano. Antigo funcionário público que administrava a estação de tratamento de águas, leitor dos grandes filósofos da humanidade, após várias tentativas de suicídio a fim de desafiar Deus, enfim conseguira seu intento à vista de todos, quando tentava provar que não conseguiria. Mas no momento da chegada de Pedro, para o espanto de todos, Deocleciano ergue-se do caixão. Até o Repórter Esso relatou o prodígio: um homem voltara dos mortos num povoado perdido no mapa. A morte abandonara Rio das Almas. A morte foi aniquilada de Rio das Almas.

O autor brinca com a fantasia da abolição da morte com que já brincara antes Orígenes Lessa, em A desintegração da morte, e José Saramago em As intermitências da morte. O inusitado é a regra aqui. Já no capítulo de abertura deparamos com o primo Duas Caras, metade do rosto queimado de sol, metade não; o andarilho Miguel que por mais calor que faça nunca bebe água, e sempre alcança a camioneta, por mais que esta se adiante; Dona Santaninha, cujo marido tenta esticá-la para ficar tão alta quanto ele; a família de olhos violetas, etc.

O autor faz desfilar pelo romance uma galeria de personagens incomuns. O torneiro Jafé que trai a esposa com a própria sogra e que também acaba ressuscitando. Francisco Lino, o Chico Rola, que após duas décadas de impotência vê-se acometido de um priapismo persistente e doloroso. Maria Marta Encarnação, cujo marido prometeu que “Se você não for ao mar, o mar virá até você!”. Andrezinho, o menino com trejeitos de afeminado que, atormentado pelo pai, aparentemente foge de casa. Zé Romão e Cícero Paulada, “os mais hábeis magarefes de Rio das Almas”. Os burros Cosme e Damião, sobreviventes do desmoronamento da mina, cuja morte desencadeia a discussão de se possuíam alma como os humanos...

Na segunda parte a narrativa, compassada de início, adota um ritmo frenético e paroxístico, onde o elemento realista explode em crimes e pecados abomináveis, e o elemento mágico, em prodígios inauditos.

Era uma vez, um povoado chamado Rio das Almas.



Ivo Korytowski é escritor, tradutor consagrado (tendo traduzido 195 livros), lexicógrafo, filósofo pela UFRJ, pesquisador da história do Rio, blogueiro e Youtuber. Nasceu no Rio de Janeiro em 1951 e desde 2019 mora em São Paulo.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS COMEMORA O CENTENÁRIO DA SEMANA DE ARTE MODERNA COM DEBATES


No ano em que se comemora o centenário da Semana de Arte Moderna, a Academia de Letras de Ilhéus promove uma série de debates sobre um dos períodos mais marcantes da história das artes no Brasil. O primeiro debate ocorre no dia 14/2, com a participação de Ruy Póvoas, Cyro de Mattos e Maria Luiza Heine sobre o tema “a concepção da identidade nacional”. No dia 15/2, Ramayana Vargens, André Rosa e Pawlo Cidade falam sobre “origens e consequências da semana de 22”, também às 19h; no dia 17/2, Anarleide Menezes e Pola Ribeiro discutem sobre “a valorização do nosso patrimônio cultural”e por fim, no dia 18/2, Josevandro Nascimento, Aleilton Fonseca e Geraldo Lavigne debatem sobre “ideologia e desenvolvimento”.

 

A SEMANA DE ARTE MODERNA

 

A Semana de Arte Moderna representou uma verdadeira renovação de linguagem, na busca de experimentação, na liberdade criadora da ruptura com o passado e até corporal, pois a arte passou então da vanguarda para o modernismo. O evento marcou época ao apresentar novas ideias e conceitos artísticos, como a poesia através da declamação, que antes era só escrita; a música por meio de concertos, que antes só havia cantores sem acompanhamento de orquestras sinfônicas; e a arte plástica exibida em telas, esculturas e maquetes de arquitetura, com desenhos arrojados e modernos. A Semana de Arte Moderna ocorreu entre 11 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal, em São Paulo.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

CRÔNICA

Elza Soares morre aos 91 anos, no Rio de Janeiro

Elza, 23/6/1937 a 20/01/2022



 Elza Soares 

 

Arrebatava a plateia com seu ritmo musical diferente, que arranhava a garganta e brincava com o som. Vi de perto em minha juventude quando deu um show de espetáculo cantante ao se exibir com uma voz esplendorosa no Cine Teatro Itabuna e no Clube Social de Itabuna. Sua voz era puro jazz na garganta inflamada, no melhor proveito, improviso e efeito. Uma desordem musical causando harmonia impetuosa e prazerosa. 

Uma mulher negra, que veio da pobreza, na favela com a lata d'água na cabeça, no morro ainda adolescente subia e descia, não se cansava, noite e dia.  Em condições precárias cantava para enganar a difícil dureza da vida e foi se descobrindo com uma entonação musical que só ela tinha, cheia de malabarismos vocais. 

Voz das vozes, flor do samba que expandia alegria para quem a ouvisse, contagiando a todos com aquele timbre musical forte. E assim com seu jeito de cantar versátil ganhou o mundo, nos lugares mais distantes mostrou que o Brasil é grande quando beneficiado com criaturas como Elza e outras do mesmo naipe. 

Que mulher incrível com sua entonação musical! Eu só acreditava porque estava vendo, como era que ela fazia aquilo com a voz? Só podia ganhar o mundo, com indiscutíveis méritos e receber os beijos merecidos da glória.

         Trouxe no coração Garrincha, o gênio de pernas tortas, a alegria do povo com os seus dribles incríveis. Quando o craque já não mais valia para o futebol, como mulher corajosa deixou que se fosse no jogo adverso da vida. Amparou seu menino grande, aquecendo o corpo do campeão mundial de futebol com a febre do amor, adoçando o seu coração quando o sentia com a cor triste da manhã e a incerteza da noite.   

      Notável exemplo de vida. Acredito que tenha ido para o lado de lá, na sua viagem sem volta, cantando e sambando. Levou Elza, na sua chegada do lado de lá, meu beijo gravado no lado de cá quando eu a ouvia cantar e ficava com uma vontade assanhada para sambar. Não somente eu, mas quem gostasse de viver com o ritmo delirante do samba.  


Cyro de Mattos, membro das academia de Ilhéus, Itabuna e da Bahia