domingo, 7 de agosto de 2022

ANTONIO BERNARDO VASCONCELOS DE QUEIROZ É O NOSSO PATRONO DA CADEIRA Nº 37


ANTONIO VASCONCELOS DE QUEIROZ 
E SUA VERTENTE POÉTICA

Por Gilson Antunes *

Antonio Bernardo Vasconcelos de Queiroz

Antonio Bernardo Vasconcelos de Queiroz nasceu em 05 de dezembro de 1879, aqui em Valença. Nasceu na mesma casa que foi o berço do seu tio-avô, o estadista do Império, Zacarias de Góis e Vasconcelos. Era filho de doutor Aristides Galvão de Queiroz e dona Maria Benedita Vasconcelos de Queiroz. Realizou os estudos secundários no antigo Liceu da Bahia e o curso superior na Faculdade de Medicina em Salvador, colando o grau em 1902. Foi catedrático de Física, por concurso, do Instituto Normal, transferido depois para o Colégio da Bahia.


Antonio Vasconcelos de Queiroz, homem sábio que marcou sua geração, atuou em Valença, exercendo a medicina e a política. Na vida política, ocupou o cargo de intendente (termo usado até o primeiro quartel do século XX para designar o chefe do poder executivo municipal, hoje prefeito) da Prefeitura durante 06 anos (1916-1922). Já o exercício da medicina, consta nos registros da Almanak Laemmert (76º anno, 2º volume, 1919-1920) seu único nome como médico (entre 1919-20), provavelmente trabalhando no único hospital aí indicado: a Santa Casa. Confrontando os dados supracitados, é bem provável que, ao mesmo tempo em que administrava a cidade, atendia como médico na Santa Casa. 

Na época de sua administração, Valença possuía em torno de 25 mil habitantes, já era iluminada à eletricidade, tinha a maior parte de suas ruas calçadas, era servida por água canalizadas e contava, dentro do perímetro urbano, com cerca de 1.600 casas, conforme dados da Almanak Laemmert. Esse registro histórico ainda assinala uma lista de professores que atuavam na cidade, tanto no âmbito público (estadual e municipal) quanto na esfera particular. Trago esses dados, porque o poema que logo transcreverei analisa o perfil do professor, representando-o de maneira sofrida e sonhadora, como um herói desconhecido que luta, incansavelmente, pelo sustento diário.

Os professores destacados pelo Almanak, na esfera pública foram: 1. Esfera estadual – Guilhermina de Góes, Julia Petit Ferreira, Maria dos Anjos da Fonseca, Marieta Cezimbra Coutinho, Donatilia Guimarães, Rosalina Maria da Fonseca e Antonio Destero. 2. Esfera municipal - Arlinda Torres, Judith Góes, Anna Cathalá Loureiro, Rachel Genoveva Gomes e Adelina Reali. Já na esfera particular, atuava na Escola da Sociedade Beneficente Valença Industrial a professora Helena de Magalhães e tinha como adjunta a professora Maria Fonseca Vasconcelos de Queiroz. Além disso, atuavam como professores particulares Evergisto de Deus, Amélia Messias, Alvina Costa Netto e Dufrosa Freitas. 

O poema que segue, escrito em 1940, segundo Aloysio de Carvalho Filho (1951), é composto por 12 quadras e soa como uma espécie de homenagem ao professor.



PELO SINAL DO PROFESSOR


Distingue-se o professor,

do modo mais evidente,

onde quer que se apresente,

pelo sinal:



É um tipo triste, cansado,

de aspecto pobre e servil:

o mesmo em todo o Brasil

da Santa Cruz.



Sempre queixoso do atraso

nas fôlhas de pagamento...

(Do seu perêne lamento

livre-nos Deus!).



Abandonado da sorte,

só numa coisa confia:

é que desta o leve um dia

Nosso Senhor.



Quando avista um companheiro,

sorri, compassivo, e diz:

- ali vai um infeliz

dos nossos...



Mas não lhe fala: não pode;

é hora de uma lição.

(Quem não souber diz que são

inimigos!)



Não aprecia uma festa,

Um cinema, um recital:

só tem vida social,

em nome.



Sóbrio à força, sonha, às vezes,

com frutas, doce, bebida...

Menos jejum tem a vida

do padre



E neste andar, oscilando

entre um apêrto e um apuro,

como cuidar do futuro

do filho?



Mas trabalha. E para a luta,

que sustenta, dia a dia,

tem que sacar energia

do espírito.



Meio cavaleiro andante,

misto de monge e jogral,

mas nutrindo um ideal

santo!



É um herói desconhecido.

Isso – é mais do que ninguém

Deus te proteja, colega!

Amen. 



Nessas estrofes, saltam aos nossos olhos o perfil do professor traçado pela sensibilidade do poeta. A primeira marca destacada é a de um sujeito passivo, cansado e servil, tipicamente o homem brasileiro. É um indivíduo queixoso e de lamento contínuo, infeliz em sua profissão, em virtude das injustiças que lhe são imputadas. Sem vida social, seu sonho está centrado em alimentos, já que, devido à sua condição financeira, padece de constantes jejuns. Mergulhado nessa miséria financeira, o professor é um ser em luta diária e em contínuas travessias sem norte (Cavaleiro andante, Dom Quixote a alimentar fantasias de um desejo impossível). Trata-se, sob a pena do poeta, de um herói desconhecido, pois, em seu anonimato e em suas injustiças, dedica-se ao trabalho com responsabilidade e afinco, nutrindo um santo ideal. De lá para cá, quase nada mudou. As injustiças continuam, e o professor ainda luta por se tornar um herói reconhecido socialmente. 


REFERÊNCIAS



ALMANAK LAEMMERT. Valença. In: Anuário Comercial, Indistrial, Agricola, Profissional e Administrativo da República dos Estados Unidos do Brasil para 1919-1920. Rio de Janeiro, 76º anno, 2º volume (Estados), p. 2323-2325.

CARVALHO FILHO, Aloysio de. Coletânea de poetas bahianos. Rio de Janeiro: Minerva, 1951.

(*) SILVA, Gilson Antunes da. Antonio Vasconcelos de Queiroz e sua vertente poética. Jornal Valença Agora. Valença, BA, nº 620, 16 a 22 de março de 2017, p.19, 2017.

 

Saiba quem é o professor, doutor em literatura e pesquisador Gilson Antunes da Silva clicando aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário