sexta-feira, 7 de junho de 2013

ARTIGOS DA HISTÓRIA

COMO EXPLICAR O ATRASO DE ILHÉUS?
Por Nelson Schaun*

"Para que a sociedade se renove, é necessário que se renove a superestrutura política."

Se algum fato relacionado com Ilhéus pudesse causar admiração, nada talvez lhe seria mais significativo do que o milagre da própria sobrevivência. Isso, é claro, se fosse possível acreditar em milagres.

A sobrevivência de Ilhéus com efeito, pode ser ironicamente atribuída a verdadeiro paradoxo sócio-econômico, se não quisermos admitir o absurdo da espontaneidade social, isto é, do príncípio e do produto em si da sociedade. Porque tantos têm sido os fatores negativos em nosso processo histórico, tamanha tem sido a prevalência de elementos nocivos na luta de contradições dentro da nossa realidade, que, francamente, Ilhéus teria já desaparecido se não lhe sobrassem reservas materiais e espirituais inalienáveis. Aliás, é preciso convir que Ilhéus sobrevive e se debate nesta situação marasmática, exatamente porque, submetido à leis de desenvolvimento desigual da sociedade, os nossos elementos humanos, sobretudo os que entram na composição das classes dirigentes, nunca se dispuseram nem se dispõem a sustentar luta consequente pela transformação desta realidade.

Ora, pelas possibilidades econômicas e outras condições históricas que já detivemos, - se convenietemente aproveitadas, - poderíamos ter chegado a situação muito mais importante, social e politicamente. De modo geral, no entanto, nem somente não nos desenvolvemos, mas, na verdade, fomos perdendo as possibilidades, caindo a cada passo no conformismo, no fatalismo, nas frustrações que coroam o atraso puro e simples.
E por que isso? Terá sido por obra e graça do destino, pela força abstrata da fatalidade, esse poder que tudo explica e tudo justifica, quando os homens não sabem ou não querem encontrar explicações e justificativas concretas e objetivas para os fatos?

Nada disso. A verdade é que os homens de Ilhéus sempre quiseram viver assim mesmo, sem maiores interesses ou preocupações de progresso. Nunca se esforçaram, de modo efetivo e racional, para modificar os quadros de nossa realidade.

Para que a sociedade se renove, é necessário que se renove a superestrutura política. Mas, para que a superestrutura política seja capaz de influir no processo histórico tendente ao surgimento de nova sociedade, isto é, substituição do velho pelo novo, é preciso que se transforme a base econômica.

Desenvolver a economia, portanto, modificar as formas econômicas, tais devem ser os objetivos da ação que cumpre a todos os elementos realmente empenhados no progresso social, no aprimoramento das funções e da justeza do regime social.
Que fizeram, porém, ou que fazem ainda os homens de Ilhéus, dentro dessa realidade?
É o que tentaremos discernir através das próximas considerações.

NOTA DO BLOG: Artigo publicado originalmente no dia 13 de Agosto de 1968, página 2, do Diário da Tarde, Ilhéus, Bahia. Faz parte do livro "Nelson Schaun merece um livro... - 100  anos de um personagem da histórica política e cultural de Ilhéus," organizado pela Confreira Maria Schaun.

* Nelson Schaun (1901-1968), ilheense, professor, político, jornalista, fundador da Cadeira 12 e da Academia de Letras de Ilhéus.

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