POSSE DE JANE HILDA BADARÓ, QUE A PARTIR DE AGORA OCUPA A CADEIRA N. 6 FOI COM POESIA E MUITA CELEBRAÇÃO
Jane Hilda, ao centro, nova acadêmica
Em 22 de setembro p.p , tomou posse na ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS a poeta, jornalista, professora , advogada e artista plástica JANE HILDA MENDONÇA BADARÓ, ocupando a cadeira n. 6, outrora pertencente a sua mãe JANETE MENDONÇA BADARÓ. A cerimônia, presidida por ANDRÉ LUIZ ROSA, foi bastante prestigiada por familiares e amigos. Estiveram presentes os acadêmicos: Aleilton Fonseca, Antônio Lopes, Arléo Barbosa, Antônio Ezequiel Nunes, Josevandro Nascimento, Neide Silveira, Jabes Ribeiro, Hans Schaeepi, Geraldo Lavigne, Anarleide Menezes , Gerson dos Anjos.Impossibilitados de se fazerem presentes, encaminharam congratulações os acadêmicos Eliane Sabóia, Neuzamaria Kerner,Neuza Nascimento, Baísa Nora, Raymundo Laranjeiras, Everaldo Brito, Pawlo Cidade, dentre outros. A saudação da nova acadêmica foi feita por Maria Schaun.
O discurso de posse de Jane Hilda deu conta do surgimento das Academias, pontuando historicamente o inícios das academias francesa, brasileira, da Bahia, até chegar na academia ilheense, indicando também os objetivos propostos pelas mesmas , além de ter discorrido sobre o patrono da cadeira , o Coronel Antônio Pessoa da Costa e Silva, do Fundador Leones da Fonseca e da primeira efetiva Janete Badaró:
“Cuidai da roseira...
compensa a espera
a rosa primeira.” [1]
Trazendo-lhes esta pérola de haikai, sabiamente intitulado “Experiência”, da lavra do saudoso poeta Abel Pereira, inicio minha oratória, nesta Casa.
Pois bem, senhores, e senhoras, o meu coração pulsa acelerado! Forte emoção invade meu peito nesta noite, marcada pela generosidade dos confrades e confreiras, insígnes acadêmicos ilheenses, que ora me acolhem, para, doravante, convivermos sob este teto que agasalha a cultura e as artes - a Academia de Letras de Ilhéus- carinhosamente chamada de “Casa de Abel”, por justíssima homenagem ao seu fundador e primeiro presidente - plantador, e jardineiro - Abel Pereira. Sua roseira continua produzindo e encantando por aqui...
De logo, agradeço a calorosa recepção neste cenáculo, e me penitencio pelas belas coisas que agora sinto, mas que não sou capaz de dizer por que as palavras que sei são insuficientes para expressar - mas que são impressões gravadas para sempre, qual delicadas flores do campo, colorindo e perfumando minh’alma. Um jardim semeado em dias de Primavera, a mais bela das estações!
Em mim há também um sentimento, que, a princípio, poderia ser contraditório, mas que, ao final, se unifica! Um, pelo vagar da cadeira n.6, cujo motivo se deu com o passamento da sua anterior ocupante, Janete Mendonça Badaró, minha doce e querida poeta mãe, como gosto de chamá-la. Uma saudade enorme me toma no caminhar dos dias, e também nesta hora. Contudo, sua presença é tão viva e intensa em mim, que não hei de alagar-me em lágrimas de tristeza, mas sim, deixar-me-ei contagiar pela alegria de imaginar seu belo sorriso e seu contentamento, se aqui estivesse – sentada, no local reservado aos imortais, o seu lugar - apreciando este momento, para mim tão honroso e glorioso, quanto para ela também fora um dia!
Chego humildemente na Academia de Letras de Ilhéus, até porque trago uma bagagem ainda por fazer. Espírito inquieto que sou, gosto de rabiscar escritos jurídicos, traços, palavras e cores. É certo que, reiteradas vezes, me pego distraída a abrir portinholas da imaginação para deixar-me passear livre entre céu, mar e terra. Chego, entretanto, neste sodalício, com atenção devida, pés no chão, e o firme propósito de "servir a pátria - servindo a minha cidade – cultuando as letras e as artes". Diante de mim um portal se abre, e uma estrada se delineia – cumpre-me atravessá-los para que a caminhada prossiga, tratando, de atender, pois, o chamado, o convite, ao crescimento intelectual e ao crescimento interior.
Quanto a ela, minha amada poeta mãe Janete Badaró, em meus silenciosos momentos de reflexão e trabalho espiritual, já lhe pedi a devida licença, me comprometendo a honrar a cadeira n. 6, da qual ela foi primeira efetiva, e que passo a sucedê-la. Uma grande responsabilidade que assumo com alegria, posto que, também dentro de minhas lembranças, e do meu coração, ela é imortal! Aí um dos sentidos mais sublimes de imortalidade: o eterno amor que nos une, o amor que ela espalhou nos caminhos trilhados enquanto encarnada. Além da beleza de sua vida, e de sua obra literária, que agora, mais que nunca, tenho o dever, e a grata satisfação, de fazer perpetuar”.
"Acredito que uma força divina determinou o meu destino - e que nossos caminhos são iluminados segundo essa força. Sinto-me privilegiada pelos presentes que recebi, e acredito que serei agraciada com essa luminosidade para meus descendentes mesmo depois que eu me torne apenas um rastro de sonho a perpetuar o TODO...”. [2]
Sim! Janete Mendonça Badaró consignou, em seus escritos, este pensamento. Mais que uma reverência ao Divino, e uma doce oração típica de um coração maternal, percebo ai também um pensamento premonitório - se considerarmos este honroso e mágico momento - quando eu, sua filha, sua descendente, com necessário esforço, e grande determinação, venho seguir nesta confraria as suas pegadas, o seu rastro de luz ...
E assim, senhores e senhoras, considerando que “as academias inventaram os discursos” [3], e que me cabe a missão de atender ao tradicional protocolo, ainda nesta assentada virei discorrer sobre o Patrono, o Fundador, e a ocupante anterior da cadeira n. 6. Uma atribuição que transbordo em satisfação, embora destituída da eloqüência pedida para ocasião tão nobre, mas pela oportunidade de aprender com a notoriedade de suas trajetórias, e assim também homenageá-los. Aqui mais um sentido da imortalidade: cada novo membro que se associa a este sodalício, há de trazer a lume os elogios aos antecessores de sua cadeira! E então, a história é rememorada, ao tempo que segue adiante, devendo-se tudo registrar nos anais desta Casa, para que sua memória esteja sempre viva!"
[1] Haikai intitulado “Experiência”, de autoria de Abel Pereira. In: Reflexões Acadêmicas, pág. 21- Francolino Neto.
[2] Texto encontrado em escritos inéditos de Janete Mendonça Badaró.
[3] discurso de posse na Academia Brasileira de Letras de J.C de Macedo Soares, reproduzido em discurso de recepção feito por Higino Brito para Luiz Augusto da Franca Crispim na Academia Paraibana de Letras em 28 de abril de 1979. In: Revista da Academia Paraibana de Letras, set 1984, pág 51.