quarta-feira, 27 de setembro de 2023

MEMBRO EFETIVO ANTERIOR: Telmo Padilha


1930-1997


Meus Encontros com Telmo Padilha 

Cyro de Mattos 


Nascido em Ferradas, em 5 de maio de 1930, Telmo Padilha é um poeta das questões profundas. Na sua poética de entonação aguda é uma das vozes expressivas da poesia contemporânea. Poeta traduzido para o inglês, francês, italiano, espanhol e japonês, com prêmios relevantes, figura em antologias importantes do gênero. Pena que esteja esquecido. Quando esteve vivo, sua poesia recebeu muitos elogios de poetas e críticos importantes. No IV Centenário de Ilhéus, ele conquistou o Prêmio de Poesia Sosígenes Costa, enquanto que com meu livro Os Recuados (2015), contos, fui vencedor do Prêmio de Ficção Jorge Amado. Neste concurso, o livro do sociólogo e jurisconsulto Raimundo Laranjeira foi laureado com o Prêmio de Ensaio Adonias Filho. O Concurso Literário IV Centenário de Ilhéus teve âmbito nacional e foi patrocinado pela Prefeitura Municipal, que tinha à época como prefeito o advogado Antônio Olímpio. 

Adianto que meu livro Os Brabos (1980) deu-me por unanimidade o Prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras. Constituído de quatro narrativas, foi publicado em circuito nacional pela Editora Civilização Brasileira, na Coleção Vera Cruz, responsável pelo lançamento de ficcionistas expressivos em nossas letras, como João Antônio, José J. Veiga, Dalton Trevisan, Sérgio Sant’Anna, Ricardo Ramos e O. G. Rego de Carvalho. 

Sobre Os Brabos disse Telmo Padilha: “Os Brabos é essa obra-prima, revolucionária, no texto e na ideia”. Já sobre Lavrador Inventivo (1984), meu terceiro livro de poesia, publicado pela Editora Cátedra e Instituto Nacional do Livro, Telmo Padilha teceu as considerações seguintes: “Cyro de Mattos é também um fazendeiro do ar, isto é, um fazendeiro que pensa e sente além da agrária paixão pela terra, embora dela se sirva para transcender-se. Nisso parece estar contida a chave de sua universalidade, de sua condição de poeta e de seu compromisso com grandes fronteiras do homem. No Lado Azul da Canção (1984) conquistou opiniões elogiosas da crítica e um número considerável de leitores. Mas é com Lavrador Inventivo que Cyro de Mattos consolida seu espaço e garante maior autonomia de voo na poesia brasileira contemporânea”.

Informo que em 2020 publiquei pela Editora Via Litterarum o livro Poesia e Prosa no Sul da Bahia, um testemunho crítico, em que analiso a produção de 47 autores que se preocuparam com o ambiente sul baiano ou que estão ligados por suas origens a um território de caracteres singulares, forjado ao longo dos anos com base na lavra do cacau. 

Nesse livro de ensaios tento mostrar que o eu reflexivo do poeta Telmo Padilha concebe o poema plasmado de angústia devido a impossibilidade de responder às perguntas que nos cercam e ficam sem respostas, advindas em seu estado crítico de nossa solidão no mundo. Digo ainda : “Uma das tônicas da poética de Telmo Padilha persegue as dúvidas profundas dos que não se conformam com a armação frágil da natureza humana ante a passagem indiferente do tempo, fazendo com que o relacionamento entre o homem e a vida se torne um problema.” E acrescento: “Produz uma melodia especial em que certa flor caótica sabe a vertigem, abandono e amargura, tristeza e solidão, incerteza e desespero, enfim, todos esses ares sombrios que recendem na rua da solidão onde o poeta mora e que só tem uma porta, a da entrada. Trescala seus perfumes numa paisagem que não se desvenda com o peso do enigma da morte.” E finalizo: “Esse invariável caminho faz do homem uma criatura trágica, cheia de conflitos, marcada pela fatalidade de quem anda para o fim a cada dia que some.” 

Telmo Padilha faleceu em 17 de julho de 1997.

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