O confrade Cyro de Mattos no lançamento de seu livro "Berro de Fogo", contos, livro de estreia, na Galeria Goeldi, Ipanema, Rio de Janeiro, 1966. O evento contou com a presença do famoso romancista Adonias Filho, à direita.
O confrade Cyro de Mattos no lançamento de seu livro "Berro de Fogo", contos, livro de estreia, na Galeria Goeldi, Ipanema, Rio de Janeiro, 1966. O evento contou com a presença do famoso romancista Adonias Filho, à direita.
NATHAN COUTINHO
Por Cyro de Mattos
Nathan Coutinho foi incluído na antologia Poesia Moderna da Região do Cacau, organizada pelo poeta Telmo Padilha, com dois poemas. Um deles transcrevo agora.
O Soneto de Agosto
Na sombria mudez de teus dias cinzentos
há soluços de inverno e angústias de sol posto.
És veneno e ilusão… E nos teus céus nevoentos
há o motivo maior de todo o meu desgosto.
Mês das horas mortais e dos minutos lentos,
mês de melancolia e de penumbra… Agosto!
Tu vens ressuscitar a dor dos meus tormentos,
pondo-me crepes na alma e lágrimas no rosto.
No lívido palor dos teus dias de calma
com o noturno da chuva a minha dor confortas
e ouço a alma de Chopin a chorar na tua alma…
Quando vens, mansamente, no Nada me convidas:
porque és o mês do tédio, o mês das folhas mortas
– ó mês sentimental das ânsias incontidas!
“O Soneto de Agosto” apresenta-se no formato fixo do próprio soneto, o conteúdo tem laivos simbolistas. Sem deslizes na ideia e nos versos, emerge da tristeza e revela as interioridades do poeta através das unidades rítmicas. Um soneto que tem a cor das sombras, da melancolia, como pedia a estética simbolista e que dá uma pequena mostra de quanto Nathan Coutinho era um poeta de qualidades, que sabia se expressar com inconfundível disponibilidade anímica. Ele é um dos patronos da Academia de Letras de Itabuna ( ALITA).
* Cyro de Mattos é membro da Academia de Letras de Ilhéus.
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Peripécia de Jorge Amado
Cyro de Mattos*
Eu te louvo pelos oprimidos
nos subterrâneos da liberdade,
teu pulso erguido com amor
fale da seiva de servos,
calo sem orvalho na trama
do ouro vegetal com rifle na curva.
Teu verde galope sem sono,
na seara vermelha tua face
carregando sede e fome,
o olho do sol crepitando
céu de fogo na aurora,
fósforo aceso no crepúsculo.
Teu riso leonino fendido
com os capitães da areia,
esse trauma de ladeiras
e ruas do mundo sem teto
manchado na hora da ciranda.
Numa tenda dos milagres
toda a Bahia mestiça cabendo,
no sumiço de uma santa
a arte incrível de um feiticeiro.
Eu te louvo no peito lírico,
a garra de Teresa Batista,
fome de Dona Flor, agreste Tieta,
rosa de Gabriela, cravo de Nacib.
Quem te fez pastor da noite,
Vasco Moscoso, flor do povo,
Pedro Bala, amado guerreiro,
boêmio, malandro, meretriz, violeiro,
guardador de chaves africanas,
verdade absoluta em Pedro Arcanjo,
duas mortes de Quincas Berro Dágua,
gargalhada da Bahia ao infinito?
Ó meu capitão de longo curso,
para te louvar com aplausos,
risos grandes e muitos vivas,
tua cidade de mares e santos
amanhece repetida de foguetes,
de estrelas e atabaques anoitece,
nos terreiros orixás estão descendo.
* Membro da Academia de Letras de Ilhéus, ALITA e Academia de Letras da Bahia.
No registro ficou Jorge Amado. Sem o Leal, da mãe, e o de Faria, do pai, João.”
(Jorge Amado: Uma biografia: Joselia Aguiar, São Paulo: Todavia, 1ª. ed., 2018).
Jorge Amado nasceu no dia 10 de agosto de 1912, na Fazenda Auricídia, cidade de Itabuna e faleceu em Salvador, no dia 06 de agosto de 2001.
Saiba quem é o professor, doutor em literatura e pesquisador Gilson Antunes da Silva clicando aqui.