segunda-feira, 10 de agosto de 2020

ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS REALIZOU ABERTURA DO ANO ACADÊMICO 2020 COM REUNIÃO VIRTUAL



A sessão de abertura do ano acadêmico de 2020 estava prevista para acontecer em 14 de março p.p., como é de tradição da Casa de Abel. A data é regimental, e foi escolhida em homenagem ao nascimento do escritor Castro Alves. Ocorre, que, excepcionalmente este ano, a sessão não pode ser realizada, visto que a declaração da pandemia de COVID-19 foi feita no dia 11 de março, o que impossibilitou, após esta data, realização de eventos presenciais com aglomeração social. Em 2019 a ALI realizou eventos diversos para comemorar seus 60 anos de sua fundação, ocorrida em 14 de março de 1959. É uma das Academias de Letras mais antigas do Brasil, e seu material humano, desde a fundação, confere-lhe grande importância. 

 

Desta forma, a Academia de Letras de Ilhéus, na esteira das transformações que os tempos atuais exigem, abriu o ano acadêmico de 2020 no último dia 5 de agosto p.p., de forma remota, com uma reunião virtual, dirigida pelo Presidente da ALI André Rosa, quando dezessete (17) dos seus membros se fizeram presentes. Durante o período de março a agosto vários acadêmicos realizaram lives, que ficam registradas nos anais da instituição, pela contribuição prestada ao desenvolvimento da arte e da cultura ilheense, que é um dos objetivos primordiais da mesma.  

 

Decidiu-se que o primeiro número da Revista ESTANTE, publicação comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras de Ilhéus, trazida à lume para fechar o ano do seu sexagésimo aniversário, será lançada, presencialmente, na abertura do ano acadêmico de 2021, em 14 de marco próximo, quando se espera que a pandemia já tenha sido controlada, em função da existência das vacinas que estão sendo anunciadas para distribuição em poucos meses. Também foram traçadas as metas para o ano em curso, com atividades remotas diversas, que serão divulgadas na medida dos seus agendamentos. 

A próxima reunião remota acontecerá em 4 de setembro vindouro.  

 

 

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

RESENHA DE Jorge Amado: "DOIS LIVROS DE CYRO DE MATTOS


Jorge Amado (1912 - 2001)



Os poemas reunidos em Cantiga Grapiúna, de Cyro de Mattos, referem-se ao campo e às cidades da região do cacau, no sul da Bahia. Canto de filho amantíssimo, cuja voz se ergue no alto louvor dos pioneiros, “homens domando os ventos”, da mata, “corpo de medo”, das fazendas, “entre o nascer dos verdes e cair dos maduros”, no louvor de todos os elementos desse chão tão rico e de história tão dramática,

 

Com profunda emoção, Cyro de Mattos canta a cidade de Ilhéus no seu centenário, no magnífico “Poemazul para Ilhéus”, “repetida de azul a cidade anoitece...” Não menos belo é o poema “ Itabunamada”, dedicado à cidade de Itabuna, “minha cidade de metal”, como fala o poeta.

 

Cantiga Grapiúna, pequeno grande livro de poemas, do conhecido ficcionista Cyro de Mattos, detentor de vários prêmios brasileiros importantes, é canto construído de ternura e solidariedade. Canto de amor de um escritor que carrega dentro de si, para transformar em literatura, a epopéia e o mistério da terra grapiúna. 

 

As quatro narrativas de Cyro de Mattos, reunidas em Os Brabos, volume de recente edição da Civilização Brasileira, mereceram, ainda inéditas, o Prêmio Nacional de Ficção Afonso Arinos, distribuído pela Academia Brasileira de Letras. Relator da ilustre comissão de romancistas que o concedeu (Bernardo Elis, José Cândido de Carvalho, Herberto Sales, Adonias Filho e Afonso Arinos de Meio Franco), nosso mestre Alceu de Amoroso Lima, a mais alta expressão de crítica literária brasileira, consagrou o livro e o autor.

 


No livro, Alceu de Amoroso Lima encontrou "narrativas dramáticas .e brasileiríssimas, por seu tema e por sua linguagem", e disse do autor ser ele "escritor visceralmente nosso... Admirável ficcionista." Transcrevo esses trechos do relatório do .Mestre Alceu porque sintetizam, com aquele singular poder de análise e definição, a literatura de Cyro de Mattos (foto ao lado). Realmente um escritor brasileiríssimo pela temática e pela linguagem.O tema é "o povo brasileiro mais humilde e típico" e a linguagem, depurada, exata, amplia a dramaticidade da ação, impedindo qualquer vulgaridade de sentimento, evitando qualquer recurso aos modismos tão em voga atualmente. 

 

Cyro de Mattos não se confunde à maioria de escrevinhadores que, na falta de real experiência humana e de real experimentação literária, se perdem na imitação uns dos outros, em cacoetes e fogos de artifícios enganadores. Cyro de Mattos possui uma personalidade vigorosa e original: a condição humana dos personagens que surgem de seu conhecimento e emoção nada têm de artificialismo da pequena burguesia a exibir angústia de psicanalista. O autor de Os Brabos pisa chão verdadeiro, toca a carne e o sangue dos homens,"entre sombras e abismos".

 

Largo caminho andou Cyro de Mattos do livro de estréia -estréia,aliás, marcante com Berro de fogo, em 1966, até as narrativas reunidas neste volume de 1979. O escritor cresceu, depurou-se, a poesia que é parte inerente de sua criação fundiu-se na limpidez da expressão, formando um todo harmonioso, iluminando os personagens de dentro para fora, expressando a vida solidária.

Com seu novo livro, Cyro de Mattos marca mais uma vez a presença na literatura brasileira dos escritores grapiúnas, do poderoso clã de poetas e ficcionistas nascidos da civilização do cacau no sul da Bahia. 

 

 

*Jorge Amado, “Dois Livros de Cyro de Mattos”, in Revista FESPI, janeiro-dezembro 1983, Ilhéus, Bahia. O Texto de Jorge Amado sobre Os Brabos, novelas, de Cyro de Mattos, está registrado na ata da Academia Brasileira de Letras. Já o livro Cantiga Grapiúna é o embrião de Cancioneiro de Cacau (2015, Editus/UESC), vasto poemário em que o autor evoca a epopeia e o mistério da civilização cacaueira no sul da Bahia, que rendeu a Cyro de Mattos o Prêmio Nacional de Poesia Ribeiro Couto da União Brasileira de Escritores, Segundo Prêmio Internacional de Literatura Maestrale Marengo d’Oro, em Gênova, Itália, e o Terceiro Prêmio Nacional de Poesia Emílio Moura da Academia Mineira de Letras, além de ser Finalista do Prêmio Jabuti.