EDITOR BAIANO MORREU HOJE EM SÃO PAULO
Por Sérgio Mattos
O jornalista e editor Gumercindo da Rocha Dorea morreu hoje(21/2/2021) em São Paulo com a idade de 96 anos. Transcrevo a seguir o que escrevi sobre ele, no livro VIDA PRIVADA NO CONTEXTO PÚBLICO (Quarteto, 2015, páginas 227-228):
“Abro aqui parênteses para fazer justiça ao jornalista e escritor Gumercindo Rocha Dorea, baiano de Ilhéus, que é um dos mais importantes editores nacionais, apesar de ser relegado e contestado devido às suas ligações com o integralismo. As Edições GRD, no entanto, independentemente das posições ideológicas de seu editor, foram responsáveis pela renovação da literatura nacional. Gumercindo Rocha Dorea foi responsável direto pelo lançamento dos primeiros livros de autores hoje consagrados, a exemplo de Rubem Fonseca, Nelida Piñon, Fausto Cunha, Gerardo Melo Mourão, Astrid Cabral e Marcos Santarrita entre outros.
Além destes, ao longo de mais de 55 anos de atuação como editor, publicou vários autores baianos independente de suas respectivas ideologias, tais como Vasconcelos Maia, Castro Alves, Oleone Coelho Fontes, Ildásio Tavares, Ivan Dórea Soares, Sérgio Mattos, Jorge Medauar, Wilson Lins, Maria da Conceição Paranhos, José Haroldo Castro Vieira, Adonias Filho, Fernando Hupsel de Oliveira, Telmo Padilha, Cyro de Matos, Rubem Nogueira, Raymundo Schaun, Euclides Neto, Fernando Sales e Claudio Veiga. No plano nacional, as Edições GRD publicaram também nomes consagrados como os de: Walmir Ayala, Antonio Olinto, Rachel de Queiroz, Bráulio Tavares, André Carneiro, Plínio Salgado, Zora Seljan, Dinah Silveira de Queiroz, Xavier Marques, Mario Faustino e José Alcides Pinto. Isto sem falar de autores estrangeiros de ficção científica que ele publicou a exemplo de Theodore Sturgeon, Zbigniew Brzezinski, Frederic Brown, Clifford D. Simak, Sheridfan Le Fanu, Morris Janowitz, entre outros.
Em 2008, quando estava preparando tese de doutoramento sobre o integralismo no Brasil, Rodrigo Christofoletti gravou depoimento de Gumercindo Rocha Dorea sobre o seu papel como editor em 4/6/2008. Na oportunidade Gumercindo se queixou: ‘[...] jamais tive conselho consultivo na GRD. Só publicava como, aliás, processo até hoje, o que eu lia e aprovava. E veja: nunca tomei posição contrária aos autores não integralistas; Este é um ponto que poucos divulgam [...] os perdedores preferem dizer que um integralista sectário e que por isso pouco me importo com a boa literatura. As obras é que me interessavam, não as ideologias de seus autores! Já editei textos de integrantes do PCB, por exemplo, a mulher do Rubem Braga, a Zora Seljan, primeira mulher a correr is países da cortina de ferro após a guerra – o que lhe trouxe desilusão e abandono do comunismo, de quem publiquei o livro: Três mulheres de Xangô, causando pasmo na intelectualidade carioca de meados dos anos sessenta.’
Como já tive oportunidade de dizer, mantenho em minhas relações de amizades pessoas que defendem ideologias, pontos de vistas e opções de vida completamente diferentes das minhas. Nunca tive problema em conviver com os contrários e, apesar de não ser integralista, leia-se direitista, de certa forma, já senti na pele o peso do patrulhamento ideológico com relação aos meus livros de poemas que foram editados pela GRD. Tais como Estandarte (1ª edição, 1995; 2ª edição, 1996; e 3ª edição, 1996), Trilha Poética (1998) e Essência Poética (2011). Livros graficamente muito bem produzidos e que foram sucesso de vendas.