quinta-feira, 20 de maio de 2021

POESIA




Do livro O Menino Camelô, editora Atual, SP, Grande Prêmio da Crítica, Associação Paulista dos Críticos de Artes, APCA, 1991, O Melhor Livro do Ano, 1992.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

NOTA DE PESAR

 


É com pesar que recebemos a notícia do passamento do amigo, professor e empresário Givaldo Alves Sobrinho, aos 83 anos. Grande mecenas das artes, incentivador da cultura regional. 

Respeitado por todos, sua falta será sentida entre nós.

 


Pawlo Cidade

Presidente da Academia de Letras de Ilhéus

segunda-feira, 10 de maio de 2021

SONETOS

 SONETOS ONDE ME ACONCHEGO

 Cyro de Mattos

 

 Da Mãe Ausente (I a X)

 I

- Menino, já para dentro

  que vem o vento ventoso

  levado, levando cisco!

  Menino, já para dentro!


- Boa romaria faz

 quem em sua casa está

 em paz. E essas adivinhas:

 o que é, o que é? o ano todo

 

 no deserto o mais quente é?

-Responda certo, menino

 esperto. Como esquecer

 

 essa de pura carícia:

 da noite o beijo. Quem é?

- É minha sombra,  de dia.

 

II

A casa era pequena, mas em tudo

os dias tinham tuas mãos zelosas.

Colocavas nos vasos aquelas rosas,

 como sonho na manhã perfumando, 

 

esbanjavam pelos ares ternura.

Davam vida à máquina de costura

tuas pernas ativas. Os bordados,

beleza tecida, sempre lembrados.

 

Como o mundo de Deus era grandão.

Dizias que primeiro a obrigação,

depois, filho, é que vem a diversão.

 

Só de lembrar me dão água na boca

teus doces. Cativando com açúcar

das mãos divinas as amargas nunca.

 

III

A casa toda alegre, a manhã sente    

tua voz comovendo desde cedo, 

os afazeres no ar iluminado

por teu jeito de torná-la cantante.

 

No quintal do vizinho passarinhos

faziam o coro com outros cantos.

Não sei qual dos cantos era o mais lindo,

o teu com o filho contente, sorrindo 

 

ou o deles na festa, entre tantos,

a manhã pura bicavam, afoitos.  

Como se fossem hoje os teus gestos

 

ainda estão nítidos dentro de mim 

ligados num sonho que não tinha fim.

Tua voz, mãe, não ouço, teve um fim.

 

IV

Uma mãe é para cem filhos, cem

filhos não são para uma mãe, sem

hesitar me disseste certo dia. 

Confesso que só depois saberia

 

o sentido justo do que dizias.

Crescido homem conheci nos dias

quanta falta tuas mãos faziam,

pois já não cuidavam, não limpavam

 

os caminhos na dura lei da vida,

tinha que ser comigo a travessia. 

Foi quando vi como fazem o mundo

 

os humanos. Persistentes na lida,

bebiam na fonte de cada dia

o egoísmo como norma de tudo.

 

V

O pai pensava um dia ficar rico,

pobre era ser igual a vira-lata,

ao sabor da sorte, correndo o risco

de levar pancada, que às vezes mata.

 

O dinheiro serve para trocar

valores, simplificavas sorrindo,

mas sem querer o pai desanimar.

O sinal dado era para que o mundo

 

fosse visto com sua alma bondosa,

o homem não ser servo do vil metal,

pois nisso estava a raiz de todo o mal.

 

Comprar a virgindade, vender a alma.

A vida tudo mercando sem calma,

muitos usurpando sua beleza.

 

VI

Da balaustrada olhava as nuvens

acima do rio levando gente

e carga. Antes que a noite

chegasse, ofereciam viagens.

 

Mostravam castelos, cada gigante,

um velho barbudo em pé no tapete.

De calção, peito nu, lá no pátio,

ficava vendo-as no azul do céu.

 

Como elas que voltavam, voltaria

pra brincar com os amigos de infância

quando já fosse um homem? Só havia

 

um jeito de regressar ao passado,

rindo disseste, sonhando acordado.

Um homem com o menino conversando.  

 

VII

- Você quer ser peixe ou quer ser gente?

No rio tinha sustos esplêndidos,

ultrapassava as linhas do horizonte. 

A mãe como o pai sonhava com o filho

 

formado. Tuas mãos como as dele

incansáveis, dotavam para o filho

as bases da vida no esforço dos dias.

O tempo cor de sombras hospedou-se

 

com a doença sorrateira. Não sei

como estudava à noite no meu quarto

enquanto ouvia no outro teus gemidos.

 

Doíam, como doíam. Das noites

sem madrugada não houve revolta

enquanto perdurou tua agonia. 

 

VIII

Como é ser ave e ter o canto preso?

Flor com cada pétala se esvaindo?

Chuva sem molhar a terra cheirosa?

Luz que se entreabre empalidecendo?

 

Sem beber a água boa pelos dedos

escorrendo. O rancor não abraçar. 

O choro escondido no travesseiro.

Ter na alma a crença de que Deus reserva

 

tudo na vida. Em todo lugar mora.

O exemplo está no coração 

que sente a morte nas gotas do dia.     

 

O poeta diz que a mais difícil

prova é a do impotente.  Tu provaste

que em cada fio perdido há grandeza. 

 

IX

Sem te esquecer um só dia, andei

anônimo e solitário nas terras

longes. No esforço dessas terras,

entre meus medos, sombras, sonhei

 

que as horas ultimavam tua vez

de ser do vento memória. Chorei.

Tive saudades de mim. Procurei

uma razão que explicasse o porquê

 

do inevitável. Nada, nada achei. 

O que é, o que é, viver para morrer?

Quem adivinhará isso de fato?

 

Cada um no seu canto sofre o seu tanto.

Nas terras longes, mãe, prossigo órfão.

Tua alma enche de amor meu coração.   


X

Ventos trouxeram a má notícia.

Não cheguei a tempo para te ver

enfim calada, em paz com a agonia.

O desespero irrompeu de meu peito.


Soube da vileza para usurpar

teu lugar. De teu corpo tiraram

penas. Adaga de magia negra

fincaram. Nenhum canto de mágoa


se escutou de teu pássaro assim preso. 

Iluminado altar cálice ergueu,

na expressão implume rosto sereno.


Lembrei-te em holocausto de carneiro.

De tua ida, não regresso, restou-me

nos anos teu canto, fado em mim mesmo.

*Cyro de Mattos é poeta premiado no Brasil e no exterior. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia e da Academia de Letras de Ilhéus. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

X

 

 

Ventos trouxeram a má notícia.

Não cheguei a tempo para te ver

enfim calada,   em paz com a agonia.

O desespero irrompeu de meu peito.

 

Soube da vileza para usurpar

seu lugar. De teu corpo tiraram

penas. Adaga de magia negra

fincaram. Nenhum canto de mágoa

 

se escutou de teu pássaro assim preso. 

Iluminado altar cálice ergueu,

na expressão implume rosto sereno.

 

Lembrei-te em holocausto de carneiro.

De tua ida,  não regresso,   restou-me

nos anos um canto, fado em mim mesmo.

 

 

sábado, 8 de maio de 2021

PRÓXIMA QUINTA-FEIRA, 13 DE MAIO, TEM REUNIÃO ORDINÁRIA



ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS 

CONVOCAÇÃO P/ REUNIÃO ORDINÁRIA EM 13/MAIO/2021 



A ACADEMIA DE LETRAS DE ILHÉUS CONVOCA SEUS MEMBROS PARA REUNIÃO ORDINÁRIA A REALIZAR-SE EM 13 DE MAIO DE 2021, QUINTA-FEIRA, ÀS 18:00 H EM PRIMEIRA CONVOCACÃO COM MAIORIA MAIS UM, E AS 18:15, EM SEGUNDA CONVOCAÇÃO, COM NÚMERO DE MEMBROS PRESENTES. A REUNIÃO SE DARÁ DE FORMA REMOTA. O LINK SERÁ DISPONIBILIZADO OPORTUNAMENTE. 

SERÃO PONTOS DE PAUTA:

A) DETERMINAR DATAS, HORÁRIOS E MEMBROS QUE FARÃO AS SAUDAÇÕES NAS “SESSÕES DA SAUDADE” DOS CONFRADES JOSÉ CANDIDO DE CARVALHO FILHO E GUMERCINDO ROCHA DÓREA;

B) COMENDA RUI BARBOSA; 

C) O QUE OCORRER. 


SAUDAÇÕES CORDIAIS,


ILHÉUS, 07 DE MAIO DE 2021


PAWLO CIDADE- PRESIDENTE

JANE HILDA M. BADARÓ – SECRETÁRIA GERAL

sexta-feira, 7 de maio de 2021

ARTIGO



O vôo absoluto de um poeta grapiúna* 
 Kleber Torres

Dia 5 de maio é a data em que nasceu o filósofo Karl Marx no século XIX. Neste mesmo dia, em 1930, há exatos 90 anos, nascia em Ferradas, o poeta grapiúna Telmo Padilha, autor de mais de 30 livros publicados, alguns deles traduzidos para o italiano, o espanhol, o inglês e até para o japonês, que conquistou dois importantes prêmios literários: o Prêmio Nacional de Poesia, do MEC, através do Instituto Nacional do Livro, em 1975 e o Prêmio Internacional de Poesia San Rocco, da Itália.

Ele atuou como jornalista no Rio de Janeiro e depois em jornais da região Sul da Bahia, onde chegou a ocupar a secretaria executiva do Conselho Nacional dos Produtores de Cacau, hoje extinto. Também foi Membro da Academia de Letras de Ilhéus, por indicação de Adonias Filho, de quem foi amigo pessoal.

Entre os livros publicados estão "Girassol do Espanto"(1956); "Ementário"(1974); "Onde tombam os pássaros"(1974); "Pássaro da Noite" (1977); "Canto Rouco"(1977); "O Rio"(1977); "Vôo Absoluto" (1977); "Poesia Encontrada"(1978); "Travessia"(1979); "Punhal no Escuro"(1980) e "Noite contra Noite" (1980), todos no gênero da poesia e dois outros trabalhos editados pela Editus, mas ainda não lançados oficialmente pelos seus familiares.

O livro Vôo Absoluto, uma das suas obras mais marcantes, lhe valeu a premiação na Itália e nesse livro, como nos demais trabalhos onde imprimiu um tom intimista, o discurso literário envolve ao mesmo tempo um conteúdo e uma preocupação filosófica, de caráter existencialista, o que permite ao leitor diversas leituras e releituras, com uma reflexão sobre a sua vida e o estar no mundo.
O autor também trabalhava temas recorrentes como a morte, os pássaros – que dão títulos a dois de seus livros -, a solidão, além do amor e da vida. Falava ainda da sua relação com a realidade da sua terra, da cultura do cacau e do próprio compromisso do artista com a história.



Na foto, os escritores, Jorge Amado, Sá Barretto, Telmo Padilha, 
Florisvaldo Mattos e James Amado


Críticos

Telmo Padilha conviveu com vários autores e críticos como Gilberto Mendonça Teles, José Paulo Paes e Eduardo Portela, para quem sua poesia residia numa lírica lucidez, que se contrapõe a um verdadeiro abismo interior, entre a febre e insônia, expressando num processo criativo maduro e num estilo impecável.

Telmo Padilha se caracterizou como um poeta que escrevia compulsivamente e por isso, deixou milhares de poemas escritos em papel ofício, de embrulho e até em lâminas de maços de cigarro, sempre com uma letra miúda, que estão sendo catalogados por familiares. Há ainda um legado não sistematizado de centenas de artigos publicados em jornais, revistas e publicações da região e da capital.

Nos artigos ele falava sobre tudo: literatura, poesia, economia, política, filosofia e até dos amigos para quem tinha sempre uma palavra elogiosa e um afago. Também deixou um longo Poema de Amor e Ódio a Itabuna, cidade que retrata através das pessoas e das vivências do seu dia a dia e que foram transformados em poesia.

O poeta nos deixou numa manhã chuvosa do dia 16 de julho de 1997, depois de sofrer um acidente de automóvel na BR 101 e mesmo sendo removido como vida para um dos hospitais da cidade, acabou não resistindo aos ferimentos recebidos e morreu de traumatismo cranioencefálico. (Kleber Torres)

Texto poético

INFÂNCIA
Telmo Padilha

Fartura. Nem tanto
mais que uma fazenda
com seus pastos, seus animais,
o engenho antigo, o rio
correndo entre pedras,
tímido sob as grandes
árvores,
água.
A noite desenhava
úmidas assombrações.
O vento no rosto
do menino cavalgava
mais que seu cavalo.
A vida tinha seu cheiro
de eternidade, exato
e puro.
A morte era um fato
natural, quase geométrico
na ignorância da tarde.


* Artigo publicado originalmente na página pessoal de Kleber Torres. Disponível em: https://www.facebook.com/kleber.torres.549