quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

ARTIGOS DA HISTÓRIA

Instituto Nossa Senhora da Piedade

MÉRE THAÍS
João Mangabeira


Dentre os benfeitores de Ilhéus, nenhum se pode comparar a "Mére Thaís". Nenhuma obra humana, nesse Município, à dela se pode equiparar. Essa construção grandiosa que se levanta ao alto da Colina, sem ela não ergueria para os céus sua majestade sagrada. Sem ela não teria Ilhéus essas gerações sucessivas de professoras e alunas, formadas pelo seu carinho, educada pelo seu caráter, instruídas pelas luzes do seu espírito e pelas virtudes do seu coraç ão. E tudo isso, Mére Thaís construiu e realizou, quase sozinha, rodeada a princípio apenas pelas poucas irmãs, e através de obstáculos de toda sorte, que ela teve de vencer numa luta constante, tenaz e silenciosa.

É que naquela freira se aninhava uma energia, se incubava uma vontade, se acendia uma inteligência, raramente encontradas nos mais altos padrões varonís. É que naquela freira baixa, gorda , de passos um tanto vacilantes, e que nos falava quase sempre sorrindo, havia uma fôrça intensa e insuspeitável, que a fé centuplicava e que, transparecia apenas na precisão com que a palavra lhe saía dos lábios e nos raios que fagulhavam, chispando nos seus olhos. E tais predicados, que tornavam atraente uma pessôa cujo físico, à primeira vista, não era simpático, tais predicados, unidos a uma inteligência culta e poderosa, davam, em conjunto, o atributo do comando, que parecia inerente a seu ser, comando a que todos obedeciam e que acabava por tudo dominar.

Eu a ví em plena luta, desde que em Ilhéus chegou para iniciar e levar a cabo sua obra formidável. Por mais estranho que isso hoje pareça, ela não teve, a princípio, dos ilheenses, o acolhimento e o auxílio que suas grandes virtudes mereciam e a grandeza que sua obra reclamava. Ao contrário, inexplicavelmente, a população em geral mantinha-se fria, retraída, quase hostil.

Graças a Deus nunca lhe faltei, em toda medida das minhas forças, com a minha ajuda, a minha estima e a minha admiração. Desde o primeiro instante e até o fim, como prefeito, deputado, como senador, como cidadão e como homem, tomei posição decidida ao lado dessa freira santa.Ela também não me faltou nunca, em todas as circunstâncias, com a sua amizade e o seu confôrto. Entre os papéis mais caros ao meu coração, guardo, a carta de protesto e solidariedade que me escreveu, quando preso e processado, como cúmplice de uma rebelião comunista, num processo monstruoso e condenado por uma sentença infame. Invulnerável na pureza de suas virtudes e invencível na fôrça divina de sua fé, a grande freira, quando muitos se acovardavam, lançava o seu protesto contra a injustiça, numa carta escrita num francês impecável e que é um primor na forma e no fundo. E isso ela o fazia, em meio a uma luta de todos os dias, no prosseguimento da sua grande obra, cujo têrmo ainda não findara.

É que se, em Ilhéus, o ambiente mudara e a frieza primitiva se transformara numa crescente de simpatia, não chegara contudo àquela estima e gratidão gerais, que nos últimos dias de sua vida a consagravam como, daquele Município, sua inigualada benfeitora.

Também não sei de ninguém que tivesse amado mais ternamente a Ilhéus.Parece-me que nem Tréguier, sua amada cidade natal da Bretanha, ocupava tão largo espaço no seu coração.

Na última vez que a ví aqui no Rio, no Convento das Ursulinas, Mére Thaís estava quase imobilizada na sua cadeira de rodas. Mas, nos lábios o mesmo sorriso, nas palavras a mesma energia, nos olhos a mesma luz. Sorriso, energia e luz dos dias longínquos de sua mocidade. Já estava no Rio há vários meses e então me dizia ao despedir-se: - "Quero voltar para minha casa". - Era Ilhéus a sua cidade; o Convento de Ilhéus, a sua casa. Aí quiz morrer e aí morreu. Fez-lhe Deus a vontade; Deus, a quem ela sempre serviu, com todas as forças de sua alma. E em meio às irmãs e às suas alunas, às quais chamava de "minhas filhas", expirou, cercada do carinho de uma população inteira, triste e consternada. Foi assim, que desapareceu aquela flor de pureza e de bondade. Foi assim que se apagou aquele foco luminoso. Foi assim que se extingiu aquela freira santa, cuja vida consistiu em "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como ela mesma". Repousa hoje no seio de Deus. E é com sincera comoção que atendo ao pedido que me fazem e lanço, nestas linhas descoradas, a pálida homenagem de minha admiração por uma das criaturas mais perfeitas que jamais passaram pela terra.

ILHÉUS: DIÁRIO DA TARDE ,1955


João Cavalcante Mangabeira(1880-1964) Chegou em Ilhéus em 1900. Advogado, Jornalista, Político. Prefeito de Ilhéus 1908-1909. Deputado Federal 1909-1912, 1915-1918, 1918-1021, 1921-1924, 1924-127, 1927-1930. 1935-1937, 1947-1951. Senador : 1930. Ministro da Justiça no Gabinete Hermes Lima. Ministro de Minas e Energia durante o Gabinete Parlamentarista de Francisco Brochado da Rocha. Fonte: Senado Federal . Secretaria de Documentação e Informação.Subsecretaria de Bibloteca. João Mangabeira. In: Dados biográficos dos senadores baianos 1826-1996. Brasília: Centro Gráfico, 1996,p.43-5.

ESTE ARTIGO FOI UMA CONTRIBUIÇÃO DA CONFREIRA ELIANE SABÓIA, OCUPANTE DA CADEIRA 12.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

ESCRITOR BAIANO ESTÁ NO PRAVDA DE MOSCOU

Depois de ser publicado em vários blogs importantes brasileiros, como Boqnews.com e Campograndenews, o  artigo “Os Ventos gemedores: Saga  do Brasil Arcaico”, do escritor Adelto Gonçalves, Doutor em Letras pela USP,  sobre o romance “Os Ventos Gemedores”, de  Cyro de Mattos, foi divulgado  no Pravda de Moscou, na edição em português,  (Port.pravda.ru).

De ritmo ágil, com uma narrativa labiríntica, o romance  “Os Ventos Gemedores” conta a história das dominações de Vulcano Brás, dono de muitas terras no território do Japará, um condado imaginado pelo autor, e a busca da vida livre e justa, representada pelo vaqueiro Genaro. Sobressaem ainda  no conflito, que acontece em ambiente bárbaro, forjado pela  terra hostil,  personagens como Almirinha, Amadeu, Abelardo Pança-Farta, Edivirgem, os irmãos Olindo e Olívio.

O professor e Doutor em Letras pela USP, Adelto Gonçalves, debruça-se sobre o romance do autor baiano e empreende uma análise  histórico-social, concluindo que “o final deste livro conta a batalha corpo a corpo entre os jagunços de Vulcano Brás e os homens de vaqueiro Genaro e – ao contrário do que normalmente se dá na vida real – a vitória dos explorados, apesar das baixas de lado a lado. A vitória maior, porém, que se registra é da Literatura Brasileira que sai desse romance mais enriquecida.”

Abaixo transcrevemos o artigo “Os Ventos Gemedores:  Saga do Brasil Arcaico”, de Adelto Gonçalves, publicado no Pravda  de Moscou:


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

MARIA LUIZ HEINE COM NOVOS PROJETOS


A professora, historiadora e pesquisadora Maria Luiza Heine mudou-se para capital para desenvolver novos projetos. Ainda este ano, deverá passar a residir em Sergipe. A incansável mestra tem alcançado vôos bem altos. Que as portas continuem se abrindo para a confreira que ocupa a cadeira nº 20.

PROFESSOR DORIVAL DE FREITAS ENCONTRA-SE HOSPITALIZADO


Fomos informados que nosso confrade, Dorival de Freitas, (foto) ocupante da cadeira nº 11, encontra-se hospitalizado. Esperamos que o mestre se recupere logo e volte a coordenar os sarus literários da Academia de Letras que devem retornar em abril.