Carta a Ilhéus
Poema
dedicado aos 500 anos de Ilhéus, passagem que ocorrerá em 2034.
Ilhéus, estou aqui, um dos seus,
filho de sua filha, plaga de sua plaga,
parte da Capitania.
Onde seu reino se instala,
não se apaga,
pois suas terras, como eu disse,
são sangue do nosso sangue,
sem distinção entre natos e
naturalizados.
Venho rogar pelos nossos dias. E venho
anotar,
também, o meu alistamento; ao qual, respondo
sem hesitar.
Valho-me do jus soli,
dos meus ancestrais que estão em seus
cemitérios,
do suor deles e do meu, que caíram sobre
as suas terras;
valho-me do jus sanguinis,
do nosso sangue mestiço;
valho-me das vitórias por Nossa Senhora,
dos colonos aqui radicados, dos migrantes,
do nosso sangue estrangeiro;
valho-me dos bravos nadadores
assassinados,
dos aimorés, das tribos expulsas,
do nosso sangue caboclo;
valho-me do levante do Engenho de Sant’Ana,
da resistência escrava, dos quilombos,
do nosso sangue crioulo;
e dirijo-lhe esta oração:
Ó, Ilhéus, terra mãe,
conduza-nos ao futuro.
Ajude-nos a salvar a sua memória,
ecoar os acertos e não reiterar os
erros.
Em um ambiente de paz e fraternidade,
dê-nos gana sem ganância.
Você, que é anciã, de sabedoria secular,
ensine-nos sobre igualdade e respeito.
Que, nesse porvir, tenhamos o mínimo
existencial,
para que cada cidadão seu tenha uma vida
digna.
Que a infância seja protegida;
a juventude, alimentada;
e a velhice, acolhida.
Que não falte ocupação aos adultos, nem amparo
na falta.
Que, na escassez, haja partilha; e, na
fartura, prudência.
Que as futuras gerações frequentem boas
escolas,
desfrutem da natureza e se preocupem com
as que virão;
e que encontrem em você um lar,
amando-lhe, como nós, hoje, amamos.
Geraldo Lavigne de Lemos
Membro
da Academia de Letras de Ilhéus e da Agenda 34.
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