terça-feira, 15 de junho de 2021

DA IMPORTÂNCIA DO PRÊMO DAS ARTES JORGE PORTUGAL, PELO ESCRITOR CYRO DE MATTOS

      

Jorge Portugal (1956-2020)
 

Os Prêmios das Artes Jorge Portugal com bases na Lei Aldir Blanc, em parceria com a Fundação Cultural do Estado da Bahia, é de suma importância para ampliar os raios de ação em que se movimentam as manifestações artísticas como experiências individuais e coletivas. Funcionam como um incentivo e reconhecimento ao artista, fazendo com que ele saia do anonimato e entre na órbita necessária de circulação de sua obra em diversos níveis de humanidade.  


O artista não produz a obra para ficar no anonimato, mas para manter um diálogo com os outros sobre sua forma de pensar e sentir a vida.  Esse diálogo jamais poderá acontecer se não for publicado, sua obra não tenha voz nem andamento no ambiente social e artístico a que se destina e assim possa ser capturada e discutida. E, quanto mais divulgado o produto de sua criatividade, através de benefício oriundo de apoio governamental, esse encaixe entre autor e perceptor individual/ coletivo será mais eficaz, uma vez que ocorreu a oportunidade ideal para expandir o conhecimento de novos sentidos da vida.  


No meu caso, em que apresentei o projeto de publicação de minha obra poética completa, com base na Lei Aldir Blanc, reunindo livros publicados e inéditos, editados no Brasil e exterior, cuja execução do projeto resultou em alentado volume de 800 páginas, o valor desse apoio pela FUNCEB tornou-se inestimável. Jamais conseguiria a proeza de ver publicado meu livro Canto até Hoje por editora de circulação nacional ou até de pequeno porte.  Não é tarefa fácil publicar um bom livro de literatura no Brasil. Desafio que requer esforço e tenacidade, crença nos valores perseguidos. E publicar livro de poesia com 800 páginas é impossível, a não ser que seja às expensas do autor, que em geral não tem condições para isso. 



(Obra do autor premiada no Prêmio das Artes Jorge Portugal)


 Não fosse a aprovação do meu projeto pela Fundação Cultural da Bahia e Lei Aldir Blanc para a publicação de Canto até Hoje, não sei até quando suportaria lidar com os meus anseios e decepções.  Sem ter a possibilidade de ver meu trabalho andando com suas pernas para ganhar a cumplicidade dos outros no conhecimento do mundo. Deixaria assim de ser útil aos outros, através da palavra impregnada de sonho, mito, ideia, intuição e sentimento.  


         Não teria a oportunidade de oferecer aos humanos certo alívio da alma na cidadela da resistência. Aliviar suas angústias com horas de solidão solidária transpostas para o plano da poesia. Ficaria prostrado nos campos do herói abatido, que se viu impotente para usar a arte da palavra e fazer o bem aos outros como cúmplices da jornada literária na aventura da vida. Não seria o portador da esperança aos que estão cercados por sombras assustadoras e horrores do medo nesses tempos de pandemia, alimentada pela fome insaciável do coronavírus.

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