EM UM DIA COMO OUTRO QUALQUER
*Maria Luiza Heine
A ALI, Academia de Letras de Ilhéus iniciou um projeto para publicação dos discursos de posse dos acadêmicos. Até o início deste século XXI, os discursos eram arquivados escritos, para guardar a memória e história dos acadêmicos e sua participação na vida da academia. É importante ressaltar que a ALI tem inúmeros momentos de destaque, que compõem sua história, nestes mais de 60 anos de existência. Entretanto, dois desses momentos são mais marcantes: um antes e outro depois de sua sede que, não podemos esquecer, foi uma doação da Prefeitura de Ilhéus, no governo do futuro acadêmico Jabes Ribeiro, ocorrida no ano de 2002. Desde sua fundação em 1959, as reuniões ordinárias eram realizadas na casa de alguns acadêmicos, sendo as primeiras, de acordo com depoimentos, na residência do acadêmico fundador, Nelson Schaun. Daquele tempo tenho algumas notícias, que se tornam cada vez mais raras, à medida que os pioneiros vão partindo para o andar de cima. Mesmo sem o devido conhecimento, acredito que possa afirmar uma característica que seria muito seguida, que é a de obedecer a um ritual, comum às academias de letras. É quase certo que os momentos das posses seguiam os rituais de uma importante solenidade.
Da minha posse, ocorrida em 21 de dezembro de 2002, não existe discurso gravado e nem escrito; foto, só aquela que serve de ilustração à introdução desta crônica e nela não aconteceu nenhuma solenidade. Acredito que tenha sido a posse mais singular, talvez, em toda a existência deste sodalício. Já havia se passado algum tempo que a eleição havia ocorrido, quando recebi a comunicação de que a posse ocorreria naquela semana, no Salão Nobre da Associação Comercial de Ilhéus. Só estavam presentes cinco acadêmicos (Mário Pessoa, João Higino, Francolino Neto, Antônio Lopes e o quinto deles cortado na foto); o confrade Jabes Ribeiro também compareceu, mesmo não pertencendo à academia, tendo sido convidado por ser o prefeito da cidade e por prestigiar com frequência os eventos na academia. Jabes, quando viu tão pouca gente no importante evento, mandou chamar Hélio Pólvora, acadêmico e presidente da Fundaci, que alegou estar sem paletó. Jabes ligou para a Prefeitura, mandando vir o fotógrafo, trazendo um paletó que guardava no gabinete para eventuais necessidades.
No momento de fazer o discurso, quem disse, que discurso de posse? Eu não sabia que deveria fazê-lo, falei de improviso. Até aquele momento não havia assistido a uma posse na academia. Dele não se tem registro. Na minha memória ficou a enorme emoção daquele dia, a sensação de estar ingressando num espaço muito especial, num Olimpo, não de deuses, mas de “imortais”.
Aquele dia, que começou como um dia qualquer, foi um dos mais importantes da minha vida e da minha história profissional. Também deixou um momento de descontração, que não esqueço: apesar de ser um dia de semana à tarde, me arrumei toda com minha roupa mais bonita, um tailleur bege muito elegante, salto alto, meia de seda e maquiagem.
Luiza, minha sobrinha de sete anos, acostumada a me ver vestida de forma muito simples, perguntou: “vai aonde tia?”
Respondi: “para a academia”.
Ela retrucou: “tolerância zero, não, tia”.
Ela só conhecia a academia de ginástica. Dei muita risada.
Atendendo à sugestão dos meus pares, escrevi esta crônica.
* Maria Luiza Heine é membro da Cadeira nº 20.
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