No dia 29
de maio d 2013, a Editora Letras
Selvagem e a Casa das Rosas (Centro de Literatura e Cultura Haroldo de Campos)
prestaram homenagem em São Paulo à consagrada escritora Nelly Novaes Coelho (FOTO),
pela passagem de seus 91 anos de idade, docência universitária e exercício da
crítica literária durante 50 anos. Os escritores Ignácio Loyola Brandão e Cyro
de Mattos, os críticos Benjamin Abdala Jr e Fábio Lucas, doutores em Letras, da
USP, integraram a mesa oficial do evento
e proferiram homenagem à Nelly Novaes
Coelho, Professora Emérita da USP.
Na
oportunidade, depois das homenagens prestadas, Nelly Novaes Coelho lançou o livro “81 Escritores da Literatura Brasileira no
Século XX”, publicado pela Editora Letra Selvagem, de São Paulo, volume de
quase mil páginas, no qual é analisada
pela ensaísta a obra de grandes autores da ficção brasileira.
Eis na
íntegra a fala de Cyro de Mattos homenageando Nelly Novaes Coelho:
“Senhores e senhoras:
A linguagem
literária é caminho importante para a compreensão do outro mais o mundo.
As obras literárias falam à imaginação e ao sentimento. As científicas,
de preferência à razão. A soma da sabedoria humana não está apreendida por
nenhuma linguagem. Nenhuma linguagem em particular é capaz de exprimir todas as
formas e graus de compreensão humana. De todas as linguagens a que mais se
aproxima dessa condição é a literária
A
literatura é a expressão mais completa do homem, como ente que pensa e sente.
Todas as outras expressões referem-se ao homem enquanto especialista de uma
atividade. Só a literatura concebe e apreende o homem enquanto homem. Sem
distinção nem qualificação alguma. É a via mais direta para que os povos se
entendam e se encontrem como irmãos. Assim, ela devolve ao ser humano, o que de
fato lhe pertence como aptidão e
aderência: a inteligência e a emoção. (Continue lendo)
O escritor Cyro de Mattos ao centro
Essa crença nos sinais visíveis da
escrita como expressão do pensamento mágico e lógico é o que Nelly Novaes
Coelho vem transmitindo em sua prática de docência universitária e
exercício da crítica literária durante 50 anos. Portadora de uma didática
admirável, pesquisadora exemplar,
analista lúcida. Registra a voz de muitos autores que vêm
dando seu testemunho de vida e ideais por meio da Palavra. Seus dicionários de
escritoras brasileiras e da literatura infantil e juvenil brasileira são pontos
elevados na valorização do corpo literário brasileiro.
Ao colocar a cultura e a literatura em tão rico
patamar, contribuindo decisivamente para a construção do patrimônio
comum a todos os estudiosos e criadores literários, o trabalho dessa intelectual é assombroso. A tarefa de
pesquisa, cara às universidades, à
reflexão das mutações do mundo, historicidade e atualidade do homem,
circunstanciado no ontem e no hoje,
encontra em Nelly Novaes Coelho a
dinâmica perfeita que emerge da vocação voltada para os campos investigativos e
interpretativos, culturais e literários.
Em sua contribuição enciclopédica
e analítica da literatura, como os iluministas de ontem, essa intelectual rara desincumbe-se da
jornada com erudição, consciência
crítica e uma santa paciência de pesquisadora. Ela sempre está surpreendendo. Depois de enriquecer o corpo
das letras brasileiras com volumes importantes
como Literatura e Linguagem, Literatura
Infantil, Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, Dicionário Crítico de Literatura Infantil e
Juvenil Brasileira, Panorama Histórico da Literatura Infantil/Juvenil, na idade em que muitos já aposentaram suas
ferramentas, eis que ela brinda agora seu público leitor com este 81 Escritores
Brasileiros do Século XX, resultado de 50 anos de pesquisas, leituras e
releituras de obras apresentadas em cursos universitários, congressos,
seminários, colóquios, no Brasil, Portugal e Estados Unidos da América.
São 81 escritores analisados neste precioso e extenso livro. Dos mais conhecidos, Jorge Amado, Graciliano Ramos. Guimarães Rosa, Mário de Andrade, Oswaldo de Andrade, João Ubaldo Ribeiro, Ignácio de Loyola Brandão, passando por nomes expressivos que ficaram esquecidos da crítica e mercado editorial, Cornélio Pena, Gustavo Corção, Adonias Filho, Murilo Rubião, Victor Giudice, Campos de Carvalho, Alcides Pinto, e ainda outros que precisam de divulgação para melhor serem conhecidos: Vicente Cecim, Olavo Pereira, Agrippino de Paula, Fausto Antonio, Ricardo Guilherme Dicke, Mora Fuentes, Samuel Rawet, Alaor Barbosa e outros. Todos esses autores dão voo à razão e à emoção quando abordam a problemática existencial do ser humano e a crise de uma sociedade exaurida de valores e sentidos.
A escritora admirável revela que foi a “Sorte ou o Acaso” que puseram em seu
caminho os 81 escritores reunidos e analisados neste seu último livro. A
generosidade, a humildade e a
solidariedade são marcas da alma dessa grande
criatura. Os autores aqui analisados tiveram, sim,
a sorte ou o acaso de ser posta em seus caminhos uma intelectual da
grandeza de Nely. Um autor para ser instituído
como cânone precisa de um crítico dotado
de instrumental teórico suficiente, que
chame a atenção para as questões estéticas, seja capaz de revelar os
elementos estruturantes que entraram na
composição da forma e conteúdo da obra.
No meu caso, de autor baiano insulado
em Itabuna, cidade localizada no sul da
Bahia, distante do eixo Rio e São Paulo, que ainda funciona como tambor cultural desse
país inculto, por mais que o mundo hoje seja uma aldeia globalizada, nem sei
como agradecer a inclusão na relação
desses escritores maiores elencados no testemunho crítico da Nelly.
É uma grande honra está aqui, nesse momento festivo, de reconhecimento e
afetividade. Felicito a sempre lembrada
e querida amiga Nelly por seus 91 anos de idade, repetindo, como ela certa vez nos disse, que
sem leitura e escrita a vida não tem emoção. Termino minha pequena homenagem a quem tanto deu às
letras brasileiras, às inúmeras gerações em seu ciclo de docência universitária
e no exercício da crítica literária, durante 50 anos, dizendo: “Obrigado, Nelly,
por tudo que você fez pela
sociedade e, em particular, pela
literatura brasileira. Você ama a literatura. A literatura tem mostrado
que ama você”.
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