Jorge Amado escrevendo Dona Flor com a ajuda do gato Nacib
A Cidade de São Jorge dos Ilhéus
não é apenas um ponto do mapa no País. Desde os idos da Capitania Hereditária,
Sesmarias, passando de Vila à Cidade, sua bibliografia e história são
riquíssimas: dos gentios à paisagem marítima, fauna e flora exuberantes, com
registros de memorialistas,fastos,iconografia de viajantes e artistas europeus,
revocados, em procedimentos permanentes.
Instituído em 2007, o Fórum
Permanente em Defesa de Ilhéus, desvinculado da política partidária,
congrega Associação Comercial, Academia de Letras, Instituto Geográfico e
Histórico, Maçonaria, Clubes de Convivência, Grupos Afro-baianos, mobilizando a
sociedade no “processo de restauração moral, econômica e social e a cidade, na
recuperação de projetos de gestões anteriores” no que, implicitamente, inclui a
preservação dos patrimônios material, imaterial, cultuando a memória de vultos
históricos e literários, consubstanciando a lei municipal, que tornou
obrigatória a inclusão de História de Ilhéus nos programas da rede de ensino
pública de um dos mais importantes pólos turísticos da Bahia. É neste contexto
que se insere a figura de nosso homenageado: Jorge Amado.
Em 25 de março de 1911, casam-se
em Ilhéus Eulália Leal (BA) e João Amado de Faria(SE). Adquirem terras em
Ferradas, Itabuna, município recém-emancipado de Ilhéus, onde nasce Jorge
Amado, na Fazenda Auricídia, em 10 de agosto de 1912.
Com a enchente de 1914, a
plantação é devastada, com perda total.Transferem-se inicialmente para São João
do Pontal, arrabalde de Ilhéus. Alfabetizado pela sua mãe, Jorge inicia sua
educação formal com a Professora Guilhermina Selmann e, posteriormente, no Atheneu
Fernando Caldas.
As finanças da família são
reestruturadas com a força de trabalho e a premiação lotérica de 500 contos que
possibilitaram a compra da fazenda Tararanga, em Pirangi, atual
Itajuípe, onde seriam deflagradas, no entorno e em Sequeiro Grande, as lutas
sangrentas narradas no épico Terras do sem fim e Tocaia Grande: a face
obscura.
Passam a residir no centro de
Ilhéus no “palacete”, atual Casa de Cultura Jorge Amado, (FOTO) onde nascem os irmãos
Joelson e James. Escreve os primeiros capítulos de O País do Carnaval,
seu primeiro romance, em 1926. Jorge Amado, o eterno e
polivalente “menino grapiúna”: “Quero dizer que em nenhum momento desses
acontecimentos que me tornaram conhecido deixei de me lembrar que foi aqui onde
tudo começou.Foi aqui em Ilhéus,na praça do Vesúvio.Não foi noutro lugar"
Jornalista, articulista, crítico
literário, escritor, político, poeta, mensageiro da paz, pacifista e fraterno,
cidadão do mundo,inicia no romance nordestino, “O Ciclo do Cacau”, com
narrativas que retratam cenários, costumes e personagens, vivenciados e guardados,
no fundo de seu coração e memória.
Cacau (1933), Terras do
sem fim (1943), São Jorge dos Ilhéus(1944), Gabriela, cravo e
canela: crônica de uma cidade do interior (1958); Tocaia grande: a
face obscura (1984). Em 1981, centenário de elevação da Cidade, torna
pública a sua “Declaração de amor à Cidade de São Jorge dos Ilhéus.” Relatos
autobiográficos: O menino grapiúna (1982) e Navegação
de cabotagem: um livro de memórias que jamais escreverei (1992).
Dentre as honrarias por ele
recebidas estão: 1959. Academia de Letras de Ilhéus (8 de
março). Membro fundador. Cadeira nº 13. Patrono: Antônio de Castro Alves.
Sucessora efetiva: Zélia Gattai Amado (24/3/2002); 1961. Presente do Fardão e
espadim quando de sua posse na Academia Brasileira de Letras (17 de julho);
1962. Homenagem e presença, com Zélia Gattai, no I Festival do Livro
no Clube dos Bancários de Ilhéus;1975. Comendador: Cidadão Benemérito
de Ilhéus. Lei Municipal nº 117;Ordem do Mérito de São Jorge dos IIhéus; 1992. Outorgado
com Troféu Gabriela de ouro; Obras vivas: Escolas Ursulinas do Brasil.Instituto
Nossa Senhora da Piedade Exposição, Teatro, Dança, Gincana.
Mesa-redonda:Terras do sem fim; Universidade Estadual de Santa Cruz
Concurso "A Região cacaueira na obra de Jorge Amado", Encenação de Dona
Flor e seus dois Maridos, Teatro Municipal de Ilhéus; 1997.
Título
de Cidadão Ilheense, concedido pela Câmara de Vereadores;
Inauguração da Casa de Cultura Jorge Amado, em 27 de julho; 1998 Fantasia
Jorgeamadiana,espetáculo teatral com música, poesia, dança e balé, abordando
trechos de sua obra com participação de artistas radicados em terras
grapiúnas. Roteiro,trilha sonora e direção: Eliane Sabóia. Bienal; 2000.
Inauguração do Quarteirão Jorge Amado; 2001. Troféu Jorge Amado de
Cultura e Arte. Concedido pela Prefeitura Municipal, todos os anos, a pessoas
que se destacaram no ano em diferentes atividades;2002. Denominação do
Aeroporto Jorge Amado. Decreto nº. 10.412, de 12 de março; Terras do sem
fim. Encenação teatral. Universidade Estadual de Santa Cruz.
Adaptação e direção de Ramayana Vargens; 2005. Início do “Agosto de Jorge
Amado”. Festa anual; 2006. Feira do Livro. Palestras sobre a obra e o autor.
Centro de Convenções Luís Eduardo Magalhães; 2007. O Bataclan – Restauração
resultante de esforços de arquitetos e artesãos, aberto ao público com
apresentações de atores caracterizados como personagens descritos em sua obra.
A Cidade e a Academia de Letras
de Ilhéus,reconhecidas, promovem anualmente, o AGOSTO DE JORGE AMADO, mês em
que se deu a alfa e ômega de seu ilustre filho.
“Tomo a mão de minha namorada, cúmplice
da aventura há mais de meio século, co-piloto na navegação de cabotagem: vamos
sair de férias, mulher, bem as merecemos após tanto dia e noite de trabalho na
escrita e na invenção. Vamos de passeio, sem obrigações, sem compromissos,
vamos vagabundear sem montra de relógio, sem roteiro, anônimos viandantes.” (Jorge Amado).
Texto e colaboração de Eliane Sabóia Ribeiro, professora aposentada do Departamento de Documentação da Universidade Federal
Fluminense e membro da Academia de Letras de Ilhéus. Cadeira n.12.
Ao copiar este texto, favor informar fonte e autora.
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